Editorial

Depois de algum tempo de ausência, voltamos ao contacto, com mais uma edição da Voice*MED, a primeira de 2023. Este tem sido um início de ano particularmente rico em acontecimentos que parecem querer mudar a face do nosso planeta Terra. A começar pela guerra na Ucrânia, onde se assiste a um “espetáculo” de destruição orquestrado por um déspota, com uma mente monstruosa, que vai dizimando vidas, destruindo casa, apagando cidades e aldeias e aniquilando património cultural que é da humanidade. Porque este é também um ataque à democracia, à liberdade, à soberania de um povo, todos nos devemos sentir atingidos (para além dos danos económicos já infligidos, que tanto prejuízo nos tem vindo a causar). Não queremos, nem podemos, viver num clima de ameaça, de medo de que a qualquer momento, não apenas os tiros, mísseis e tanques transbordem os muros da Ucrânia, mas também outras formas de luta, mais destrutivas, possam mudar para sempre a nossa forma de vida. Não foi desta forma que nos ensinaram e fomos habituados a viver! 


Como se não bastassem os danos causados pela loucura de um desprezível e alienado humanoide, estamos também à mercê de devaneios des(humanos). Do alto, atormenta-nos um céu que ora nos dá chuvas devastadoras, que deixam submerso um passado arduamente conquistado, afogam aquilo que ansiosamente se esperava do futuro e arrastam projetos de vida, ora nos seca com temperaturas tórridas, que evaporam esperança e incendeiam calamidade. Em muitas destas catástrofes, estamos a pagar o preço do progresso descontrolado e desenfreado. Não é isto que queremos para nós... até porque também não estávamos habituados. 


Mas a ira vem também de dentro, quando o âmago da Terra se revolta e manifesta o seu desassossego. Foi o que aconteceu há poucos dias na Turquia e na Síria, deixando aprisionados nos escombros corpos que não conseguiram fugir duma fatídica derrocada. Pessoas a quem esta movimentação desenfreada e violenta do interior da Terra tudo levou, deixando para trás um lastro de destruição e tristeza por tudo o que irremediavelmente se perdeu, incluindo a perda de familiares e amigos. Tudo isto é algo que pode, a qualquer momento, acontecer neste nosso pedaço de terra semeado em terrenos igualmente agitados e movediços. Se quanto a este último atropelo natural nada podemos fazer para o evitar (apenas prepararmo-nos para amenizar as consequências), quanto aos dois primeiros, está nas nossas mãos evitar o caminho para o abismo. Podemos adotar comportamentos que enfraqueçam e fragilizem a economia invasora, impedindo-a de continuar a alimentar uma guerra. Podemos, e devemos, mudar atitudes, para que tenhamos um planeta mais saudável e retomar a sazonalidade de um clima que, infelizmente, “já não é o que era”. Se nada for feito, podemos estar a mudar, de forma irreversível, um lugar que se está a tornar irreconhecível e... inabitável. 


Para nos falar sobre sustentabilidade do planeta e alterações climáticas, contamos, na rubrica 4´33´´, com o testemunho de Helena Freitas, que aborda a importância de tratarmos bem os nossos solos, a nossa “casa”, para que possamos trazer a natureza de volta às nossas vidas. Em “Do Curso de Medicina”, num discurso enternecedor, que evidencia a sua modéstia e simplicidade, António Freire leva-nos por uma viagem guiada pela sua vida, com uma paragem na Antártida, para um congresso que ainda está para vir. Mónica Zuzarte, em “Isto é FMUC”, conta-nos como as plantas medicinais, ao combater o envelhecimento cardiovascular, podem, ao mesmo tempo, promover regiões do interior de Portugal. Em “Fora da Medicina”, fomos conhecer a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA Coimbra), pela mão da sua Presidente, Elsa Vieira, que nos mostra os diversos projetos em que está envolvida esta instituição, com o objetivo de proporcionar uma cidadania plena às pessoas com autismo. Em Lucerna, Beatriz Salgado, estudante do Mestrado em Investigação Biomédica, diz-nos o que a motiva a dar o seu contributo para ajudar a tratar as doenças oncológicas. Por fim, Célia Cabral recomenda-nos furar o céu e prescreve-nos uma dança ao som de ‘La Foule’, de Édith Piaf.


E, antes de terminar, quero dar-vos conta de mais uma iniciativa de comunicação de ciência e promoção de literacia em saúde, lançada pela Faculdade de Medicina e o seu Laboratório de Comunicação em Saúde, em parceria a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra (EHT) e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). A ideia em “À mesa com Saúde” é falar de ciência, de saúde e doença, ao sabor de uma refeição, preparada por Chefs da EHT, inspirada e baseada em alimentos protetores, de acordo com critérios científicos e clínicos, devidamente comprovados. Mais detalhes sobre estes eventos serão conhecidos em breve. Se quiser estar “À mesa com Saúde”, esteja atento/a e marque de imediato o seu lugar.


Henrique Girão


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