Sobre o estudo

A obesidade infantil atingiu proporções epidémicas a nível mundial, disseminando consigo inúmeras complicações para a saúde. Contudo, foi já demonstrada a existência de um subgrupo de crianças obesas que não exibem os tradicionais fatores de risco cardiometabólicos, designado por obesidade metabolicamente saudável (ObMS).

Os objetivos deste estudo foram a determinação da prevalência da ObMS em crianças e adolescentes seguidos na Consulta de Pediatria-Obesidade do Hospital Pediátrico-CHUC e a análise da sua relação com variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais. Para tal, realizou-se um estudo observacional, retrospetivo e transversal, no ano de 2019. As crianças foram classificadas com “obesidade metabolicamente saudável” de acordo com os critérios propostos por Damanhoury (2018). 

Resultados e impacto

Foi estudada uma amostra de 241 participantes, sendo 54,8% do sexo feminino, com idades entre dois e 17 anos. A prevalência de ObMS na amostra foi de 61,8%, valor muito superior a outros trabalhos realizados, não se verificando diferenças significativas quanto à idade e ao sexo. 

O grau de obesidade foi significativamente inferior no grupo da ObMS, nas crianças com idade igual ou superior a cinco anos. O perfil cardiometabólico foi substancialmente mais favorável nas crianças com ObMS, com níveis médios de colesterol total superiores, mas à custa de um HDL significativamente mais alto, e níveis de triglicerídeos, pressão arterial sistólica e diastólica, e índice de resistência à insulina (HOMA-IR) significativamente inferiores. 

A atual prevalência da obesidade infantil justifica a necessidade de se estratificar os doentes de acordo com o seu padrão metabólico, para que possam beneficiar de abordagens terapêuticas mais personalizadas e eficientes.

Raquel Soares

Journal of Pediatric Endocrinology and Metabolism
Metabolically healthy obesity in a paediatric obesity clinic

Fotografia de Kenny Eliason @ Unsplash