Isto é FMUC
Os ursinhos de peluche conimbricenses não têm motivos para preocupações no que diz respeito ao acesso a cuidados de saúde de excelência, nem para recearem as visitas ao médico. As suas cuidadoras, crianças dos três aos seis anos de idade, levam-nos, anualmente, ao Hospital do Ursinho, onde são tratados com toda a atenção e dedicação por parte de futuros médicos, alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Nesse processo, são as próprias crianças que perdem o medo da bata branca e dos ambientes, aparelhos e procedimentos médicos e cirúrgicos, ou não fosse esse o principal objetivo deste hospital tão especial.
A participação ativa dos alunos
Organizado desde 2003 pelo Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC), o Hospital do Ursinho consiste na simulação de um hospital real, como explica uma das suas coordenadoras gerais e aluna do terceiro ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da FMUC, Eulália Luzirão: “neste hospital, a criança aparece com o seu ursinho, que tem uma ferida ou uma doença, e nós somos os médicos, que estamos de bata branca e explicamos à criança o que o seu ursinho tem e como podemos tratá-lo, para que, numa ocasião futura em que seja a criança a ter de ir ao médico, o possa fazer sem receios”.
Susana Torres, aluna do quinto ano do MIM, coordenadora de projetos do NEM/AAC e igualmente coordenadora geral do Hospital do Ursinho, esclarece que, apesar de maioritariamente serem alunos de Medicina a desempenharem a tarefa de médicos neste hospital, “é também dada a oportunidade a estudantes de outras faculdades de participarem nesta iniciativa”, nomeadamente aqueles que pertencem à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, à Faculdade de Farmácia e à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
A próxima edição e o local de realização
As edições do Hospital do Ursinho são anuais e decorrem habitualmente num centro comercial da cidade de Coimbra. Apenas a edição de 2020 foi cancelada devido à pandemia. “Nessa edição, eu fazia parte da comissão organizadora e acabei por ver o projeto suspenso…”, lamenta Susana Torres.
A edição de 2021, que decorreu entre os dias 26 e 30 do passado mês de abril, teve de reinventar-se e, em vez de um hospital num centro comercial, as crianças puderam contar com um Hospital do Ursinho ambulante, que andou por várias escolas da cidade para visitar as crianças e os seus ursos de peluche.
“Quanto às outras edições, estas têm decorrido todas no Alma Shopping e, há três anos, no Forum Coimbra”, indica Eulália Luzirão, “e já podemos anunciar que também a edição de 2022 será no Alma Shopping”, acrescenta.
Esta será a XVIII edição do Hospital do Ursinho e acontecerá em meados do mês de março. No entanto, e porque a edição deste ano, em contexto de hospital ambulante, foi também profícua, a comissão organizadora considerou vantajoso que a ideia continuasse a ser replicada. Assim, a edição de 2022 assumirá um formato híbrido, no qual existirá uma estrutura montada no Alma Shopping e, simultaneamente, serão realizadas visitas a instituições de crianças que não têm meios para se deslocarem a este centro comercial. “Apesar de agora ansiarmos todos pela chamada normalidade e pelo fim da pandemia, o que indica que poderemos voltar a ter o Hospital do Ursinho dentro de um centro comercial, considerámos importante continuar também com o formato deste ano, para que seja possível incluirmos crianças que têm menos possibilidades de deslocação, ou que crescem em contextos mais desfavoráveis. Por isso, a próxima edição do Hospital do Ursinho será híbrida”, observa Susana Torres.
A comissão organizadora e o funcionamento do hospital
Para a organização de uma edição do Hospital do Ursinho, são necessários cerca de seis meses. “Temos uma comissão organizadora, formada apenas por estudantes do MIM. Este ano, abrimos a comissão em agosto, e contamos com um número considerável de elementos: somos 39 pessoas, distribuídas por diversos departamentos, como os de Imagem e de Comunicação, Cultural, de Logística, de Gestão Escolar e de Angariação de Fundos”, refere Eulália Luzirão. “Depois, temos ainda um tesoureiro… e a coordenação geral, da qual faço parte eu e a Eulália”, complementa Susana Torres.
Feita a organização, é tempo de montar o Hospital do Ursinho. “É uma estrutura grande… temos máquinas de raio X, ecografias, talas, gessos, ligaduras: tudo para podermos simular uma consulta ou um tratamento”, elucida Eulália Luzirão. Neste âmbito, Susana Torres acrescenta ainda que as empresas que patrocinam este projeto acabam por ter um papel fundamental na construção desta estrutura.
As inscrições para voluntários
Para cada edição do Hospital do Ursinho, a comissão organizadora lança um formulário nas redes sociais para que os alunos que tenham interesse em participar se possam inscrever. Susana Torres e Eulália Luzirão afirmam que a adesão é sempre grande, com muitas inscrições de potenciais voluntários.
“Mais perto da data de realização da próxima edição do Hospital do Ursinho, possivelmente em janeiro ou fevereiro, iremos lançar este formulário, no qual pedimos dados como o nome e o número de estudante e, assim, as pessoas que preencham este formulário ficam inscritas no Hospital do Ursinho. Em todo o caso, ainda antes do lançamento do formulário, nós vamos fazendo uma divulgação prévia nas redes, para que as pessoas possam estar atentas, já que existe uma data-limite para a inscrição”, esclarece Eulália Luzirão.
Uma experiência gratificante
Tanto para Susana Torres quanto para Eulália Luzirão, a participação no Hospital do Ursinho tem sido enriquecedora. Na verdade, é algo que sempre quiseram fazer, desde a entrada na FMUC. E é notória a forma como são entusiastas deste projeto, e do tempo que, a par da intensa atividade estudantil, ainda conseguem despender para que cada edição do Hospital do Ursinho em que participam ou que organizam corra pelo melhor e seja bem-sucedida.
“Logo no meu primeiro ano de curso, tentei inscrever-me como participante neste projeto. Foi o ano em que, como a Susana já disse, a edição teve de ser cancelada, por causa da pandemia”, indica Eulália Luzirão, “e eu fiquei bastante triste, porque esta é uma iniciativa que sempre achei fascinante… é tão gratificante estarmos com as crianças e podermos ensinar-lhes algo novo”.
No início do ano letivo 2020/2021, Eulália Luzirão pôde, finalmente, fazer parte deste projeto, integrando a comissão organizadora da edição deste ano, mais especificamente no departamento de Imagem e Comunicação. “Adorei a experiência! Era um escape fantástico, porque pudemos trabalhar noutras vertentes que não apenas a Medicina”, observa.
No final do segundo ano de curso, Eulália Luzirão foi convidada por Susana Torres para ser coordenadora geral da edição do Hospital do Ursinho que decorrerá, tal como anteriormente indicado, em meados de março do próximo ano. “E eu aceitei, claro! Era um convite demasiado bom para recusar”, afirma, garantindo que continuará a participar, “com toda a certeza”, neste projeto até ao final do curso.
Para Susana Torres, a participação no Hospital do Ursinho começou, igualmente, no primeiro ano do MIM. “Já conhecia este hospital antes de entrar na FMUC: como a minha prima estudava cá, já tinha ouvido falar desta iniciativa, que achei muito interessante”, conta. Por isso, inscreveu-se logo como participante assim que soube que as inscrições estavam abertas. “Queria mesmo experienciar esta iniciativa na primeira pessoa”, refere.
E a experiência foi tão boa que, no seu segundo ano, Susana Torres voltou a participar como voluntária no Hospital do Ursinho e, no terceiro ano, decidiu fazer parte da comissão organizadora, passando a integrar o departamento de Imagem e Comunicação. Infelizmente, e apesar de todo o trabalho envolvido na organização, essa edição não se concretizou, dado que foi, entretanto, declarada a pandemia. “Na edição que decorreu este ano, e que foi adaptada ao contexto pandémico que vivemos, eu não participei, mas acompanhei de perto a iniciativa, porque tinha amigos que estavam a participar… E, este ano, cá estou de novo!”, declara.
As formações prévias a cada edição
Antes de cada edição do Hospital do Ursinho, há um conjunto de formações – normalmente, são três – direcionadas aos alunos que vão participar na iniciativa. “Essas formações são sempre mais vocacionadas para os temas que decidimos abordar nessa edição, bem como para temas relacionados com doenças em crianças; no fundo, são formações que têm utilidade, não apenas para nós, futuros médicos, mas sobretudo utilidade prática para as crianças que vão contactar connosco no evento”, salienta Susana Torres. Para além destas formações, existe ainda uma formação em que todos participam, “e na qual são abordados aspetos da comunicação com crianças”, para que as interações entre todos sejam mais eficazes.
Conforme explica Eulália Luzirão, "todos os colaboradores fazem um brainstorming acerca de eventuais temas que poderão ser abordados com as crianças" aquando da organização de cada edição do Hospital do Ursinho. Para a próxima edição, os temas estão agora a ser definidos, e deverão, como habitual, levar em consideração doenças comuns da infância, mas também a atual situação pandémica.
A dedicação e o reconhecimento do esforço coletivo
Susana Torres não tem dúvidas: “o Hospital do Ursinho não acontece por minha causa ou por causa da Eulália, acontece por causa dos 39 elementos que se metem na organização disto!”, enfatiza. Eulália Luzirão concorda. Assim, ambas acreditam, como afirma Susana Torres, que o seu papel é, essencialmente, o de tentar integrar todos os elementos da organização e de mediar as relações entre esta grande equipa.
“Se conseguirmos plantar a sementinha nas pessoas, especialmente nos estudantes de medicina que, um dia, irão contactar com grande parte da população, e fazê-los ver que, quando têm um objetivo concreto, conseguem fazer uma diferença no mundo, em qualquer que seja a área, isso já é muito bom, e acredito que a nossa função, enquanto coordenadoras gerais deste projeto, é mesmo essa”, constata Susana Torres.
Ambas reconhecem, igualmente, que a dedicação a este projeto é intensa e que, por vezes, são os estudos que são sacrificados, mas que os bons resultados de cada edição compensam largamente o esforço e que, no futuro, esta experiência continuará a ter repercussões positivas, como prevê Susana Torres. “Quero acreditar que esta experiência vai também fazer de nós melhores médicas”, conclui.