PUBLICAÇÕES
EM DESTAQUE

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Trabalho indicia bom prognóstico de técnicas
de tratamento menos
invasivas da pulpite

Sobre o estudo 

A destruição dos tecidos duros dentários, por cárie ou por traumatismos, pode expor a polpa (conjunto central de vasos sanguíneos e terminações nervosas que assegura a vitalidade do dente) a agentes agressores e conduzir ao desenvolvimento gradual de inflamação dos tecidos pulpares.

Clinicamente, a inflamação é classificada como reversível quando o tratamento da sua etiologia pode levar ao restabelecimento da normalidade das funções biológicas pulpares. Quando a inflamação pulpar atinge níveis de intensidade elevados, que se traduzem em sintomas como dor dentária intensa perante estímulos térmicos, ou dor espontânea lancinante, existem sinais de pulpite irreversível, ou seja, o tratamento da causa já não permite a recuperação da normalidade do tecido pulpar e está indicado o tratamento endodôntico do dente, ou seja, a remoção total do tecido pulpar (vulgar desvitalização).

Contudo, estudos clínicos recentes mostram que dentes definitivos com pulpite irreversível podem ser tratados com técnicas mais conservadoras (pulpotomia), com um prognóstico semelhante ao que se consegue alcançar em dentes diagnosticados com pulpite reversível, com a vantagem biológica de permitir a preservação da polpa radicular e, por conseguinte, a vitalidade do dente. Tendo em consideração esta nova evidência, é necessário reconsiderar o real impacto da inflamação pulpar prévia na capacidade do tecido pulpar recuperar a sua normalidade após ter atingido um nível de inflamação que no passado era considerado incompatível com o seu regresso à normalidade.

Neste trabalho, foi avaliada a influência da presença ou ausência de inflamação pulpar prévia na resposta histológica dos tecidos pulpares à pulpotomia com quatro cimentos bioativos à base de silicato de cálcio.



Resultados e impacto

Este modelo experimental permitiu desenvolver inflamação pulpar pré-operatória, confirmada clinicamente por um aumento significativo de tempo, intra-operatório, necessário para alcançar a hemóstase do tecido pulpar remanescente após amputação da polpa coronária, reconhecido como um fator-espelho do nível de inflamação.

No final do período de observação, os resultados radiográficos e histológicos observados (nível de inflamação da polpa radicular e formação de dentina reparadora sob os materiais utilizados na pulpotomia) não evidenciaram diferenças significativas entre os dentes tratados sem inflamação prévia (polpa normal e tempo de hemóstase mais baixo) quando comparados com os dentes com inflamação (polpa com hiperémia, células inflamatórias e tempo de hemóstase mais elevado).

Este estudo reforça a evidência de que o tecido pulpar inflamado mantém mecanismos de reparação/regeneração que permitem um bom prognóstico de técnicas de tratamento que se enquadram na vertente minimamente invasiva, e que permitem atingir metas biológicas que não estão ao alcance do tratamento endodôntico convencional.


João Miguel Santos


Journal of Endodontics
Influence of Preoperative Pulp Inflammation in the Outcome of Full Pulpotomy Using a Dog Model

Fotografia de Caroline LM @ Unsplash