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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Estudo aponta fatores que contribuem para o perfeccionismo e intolerância à frustração nos estudantes de Medicina da FMUC

Sobre o estudo

Os estudantes de medicina estão sujeitos a altos níveis de stress e revelam níveis de ansiedade e burnout preocupantes, o que poderá comprometer a sua aprendizagem e performance como médicos e levar a doenças incapacitantes e até ao suicídio. É importante as escolas médicas estudarem este fenómeno para perceber que estratégias implementar. Em 2015/2016 foi feito um trabalho em alunos de medicina da FMUC que mostrou que 1/4 dos alunos encontrava-se vulnerável ao stress sendo a dimensão do perfeccionismo e intolerância à frustração a mais afectada, traços já descritos em outros estudos em relação a alunos de medicina.

Este estudo dirigiu-se a todos os alunos da FMUC para perceber as razões que justificam estes níveis elevados de perfeccionismo e intolerância à frustração nestes alunos, segundo a sua perspetiva e percebendo que fatores a podem estar a influenciar. Assim, fez-se primeiro entrevistas a alunos de todos os anos para perceber as razões que sugeriam este fenómeno, ao que se seguiu, após a sua classificação por áreas e resumo em frases-chave, a aplicação de um questionário a 368 alunos de todos os anos para classificarem a importância dada a cada motivo. Perguntou-se também a idade, sexo, a satisfação com a vida curricular e se faziam atividades extra-curriculares.



Resultados e impacto

Concluiu-se que os fatores relacionados com a personalidade perfecionista e as exigências sentidas da profissão médica eram apontados como os mais importantes. Seguiam-se da incerteza quanto ao futuro e as exigências curriculares e métodos de avaliação, estes últimos sendo menos relevantes para os estudantes que estavam satisfeitos com a vida curricular. De destacar que 1/3 afirmavam não estar satisfeitos com a vida curricular, o que pode ser também um ponto importante a estudar para perceber de que forma os métodos de avaliação e exigências curriculares estão a contribuir para a vulnerabilidade ao stress e como poderiam ser ajustados aos alunos de personalidades tendencialmente perfecionistas de forma a manter os conteúdos e diminuir a pressão exagerada.

A pressão ambiental foi o motivo considerado menos importante, ao contrário de outros estudos que falam na competição inter-pares como sendo mais importante neste fenómeno, e ainda menos no grupo de alunos que tinham atividades extra-curriculares. Apenas 58% dizia ter atividades extra-curriculares, valores inferiores a outros estudos internacionais, podendo ser importante procurar saber se poderá atuar como fator protetor perante a personalidade perfecionista e exigências sentidas.

Pretende-se com este estudo sugerir que a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra reflita e implemente intervenções para prevenção das consequências ligadas ao stress dos seus estudantes, servindo como exemplo para outras escolas médicas do País.

  

Inês Rosendo

Acta Médica Portuguesa
Motivos para o Perfeccionismo e Intolerância à Frustração nos Estudantes de Medicina da Universidade de Coimbra

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