Comissão de Curso
do 6º ano do MIM

Isto é FMUC

Cerca de 200 voluntários da Universidade de Coimbra, dos quais fazem parte estudantes finalistas da Faculdade de Medicina (FMUC), estão a colaborar, desde o final do mês de janeiro, na vigilância epidemiológica no âmbito da COVID-19, na Região Centro do País. Rafaela Paiva, presidente da Comissão de Curso do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da FMUC, salienta a “atitude nobre” de todos os estudantes que se voluntariaram para prestar este apoio e dá-nos a conhecer a atividade da Comissão.

As funções da Comissão de Curso do 6º ano e a sua equipa

Em termos gerais, uma Comissão de Curso do MIM é uma organização não formal, que representa cada ano curricular e que é composta por estudantes de Medicina desse mesmo ano, eleitos pelos seus colegas.

As funções desempenhadas pela Comissão de Curso do 6º ano do MIM são várias, conforme explica a sua presidente: “defender a opinião e a vontade da maioria dos estudantes de Medicina, comunicar com os órgãos de gestão e com os docentes da FMUC, colaborar com os Serviços Académicos e com o Gabinete de Relações Internacionais, quer na mobilidade de estudantes outgoing, quer na mobilidade incoming, e garantir o acesso a uma plataforma web por parte de todos os alunos que fazem parte do 6º ano, de forma a conseguir transmitir eficazmente todas as informações que dizem respeito à Faculdade e ao curso”.

Dado que “o 6º ano é sobretudo um ano de estágio”, esta Comissão de Curso tem ainda a responsabilidade de manter o contacto permanente com os representantes dos respetivos estágios. A direção da Comissão de Curso poderá ainda “tomar decisões de carácter urgente, quando tal é pedido por um órgão superior e não é possível auscultar todos os membros do ano curricular em tempo útil”.














A direção da Comissão de Curso do 6º ano é constituída, para além da sua presidente, por uma vice-presidente, uma secretária e dois vogais. A estes cinco elementos, juntam-se os já referidos representantes de cada um dos estágios, através dos quais a Comissão tem conhecimento dos assuntos relacionados com os mesmos. “Se for necessário, damos a nossa opinião acerca de algum desses assuntos, ou solicitamo-la a órgãos superiores da FMUC, nomeadamente a direção ou os Serviços Académicos, e depois comunicamos aos representantes dos estágios essas opiniões, que as passam aos alunos”, complementa Rafaela Paiva.


A forte componente clínica do último ano do MIM

Conforme mencionado anteriormente, o 6º ano do MIM é, essencialmente, um ano de estágio, pelo que se pretende que seja o mais profissionalizante possível. “O objetivo principal do 6º ano é que possamos aplicar os conhecimentos teóricos e teórico-práticos que adquirimos nos primeiros cinco anos do curso, sob a responsabilidade de um tutor que nos é atribuído, rotativamente, em cada um dos estágios”, esclarece a presidente da Comissão.

Atualmente, o último ano do MIM encontra-se dividido em cinco rotações, embora, como indica Rafaela Paiva, compreenda mais do que cinco áreas. Assim, as áreas compreendidas pelas rotações são as de Cirurgia, Medicina Interna, Medicina Intensiva, Simulação, Saúde Materna, Saúde Infantil, Saúde Mental, Medicina Geral e Familiar e Saúde Pública. Além da rotação nestas áreas, existe ainda mais um estágio, opcional, com a duração de duas semanas, “em que os alunos têm a oportunidade de passar por especialidades que possam, inclusive, não ter sido abordadas durante o curso, como são o caso, por exemplo, da Anestesiologia ou da Cirurgia Maxilo-Facial”.

Considerando a atual pandemia, que muito tem limitado as interações mais próximas e as atividades letivas, não é difícil compreender que o decurso do último ano do MIM para os alunos que neste momento o frequentam tem sido particularmente desafiante e complexo. “O 6º ano é um ano particularmente difícil: além do estágio, também estamos a desenvolver a nossa tese e a estudar para a Prova Nacional de Acesso (PNA), que, previsivelmente, vamos realizar no final deste ano, em novembro”, observa.

Deste modo, o contexto pandémico tem limitado a prática médica por parte dos alunos de Medicina, já que existem diretrizes específicas para que o contacto direto com o doente, quer para a proteção do próprio, quer para a proteção dos alunos, tenha a mínima duração necessária. Consequentemente, o presente contexto tem também limitado a relação médico-doente: “a nossa Faculdade prima muito por essa relação, que agora está, de certa forma, comprometida”, lamenta Rafaela Paiva, que afirma que, se antes da pandemia, os alunos tinham a oportunidade de conversar calmamente com o doente e de saber um pouco acerca dos seus medos e contextos pessoal e profissional, agora essa conversa é abreviada, visando, fundamentalmente, um exame objetivo, ou seja, perceber o que se passa com o doente naquele momento para que possa ser tratado.







Esta proximidade com o doente fica também comprometida quando as consultas são realizadas remotamente, por teleconsulta ou videochamada. “O contacto com o doente é insubstituível”, assegura. Neste âmbito, e para tentar colmatar a limitação da prática clínica por parte dos alunos, Rafaela Paiva considera que o Centro de Simulação pode ser mais usado – atualmente, é utilizado apenas durante o estágio de Simulação, com a duração de uma semana – mas que, ainda assim, essa simulação nunca irá substituir o contacto direto com o doente, com necessidades e vontades próprias.


As preocupações dos alunos em tempos de pandemia

Estes têm sido tempos de incerteza para todos e, por isso, Rafaela Paiva revela que tem ouvido muitos receios e preocupações manifestados pelos seus colegas, não só quanto ao último ano do curso, como também quanto ao início da sua atividade profissional. “O principal receio prende-se, sem dúvida, com o contágio pelo novo coronavírus, e com a possibilidade de, com isso, infetarem familiares, muitas vezes fragilizados, ou colegas de casa, originando novas cadeias de transmissão”, afirma. Por isso, indica que essa gestão do risco acaba por incutir-lhes uma “grande responsabilidade, não só enquanto cidadãos, mas também enquanto futuros médicos”.

Rafaela Paiva explica também que, se por um lado, é pretendido, “nomeadamente pelo Professor Doutor Armando Carvalho, coordenador do estágio programado e orientado”, que os alunos sejam equiparados a profissionais de saúde, por outro lado, tal não acontece em todos os seus aspetos, como é o caso da vacinação contra a COVID-19. “Apesar de existir um esforço nesta equiparação dos estudantes de Medicina a profissionais de saúde, inclusive pelo Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, nós não estamos contemplados numa fase de vacinação imediatamente posterior à dos profissionais de saúde – que, obviamente, estão na linha da frente e devem ser prioritários – e, por isso, deveremos ser integrados apenas na última fase de vacinação, de acordo com a nossa idade e como qualquer cidadão geral”, declara.

A par do receio de uma possível infeção, a maior preocupação dos alunos do MIM que agora frequentam o último ano é a falta de prática clínica de que podem estar a ser alvo neste momento. “Já passámos por esta situação no segundo semestre do nosso 5º ano, e temos receio de, daqui a menos de um ano, sermos médicos, com a prática clínica que foi possível termos e com todos os conhecimentos que adquirimos anteriormente, mas faltar-nos essa experiência do contacto direto com o doente”, observa.

A preocupação revelada quanto ao futuro dos alunos que agora estão no 6º ano é extensível aos alunos de outros anos, nomeadamente aqueles que se encontram agora nos 4º e 5º anos, que possuem já uma componente clínica, uma vez que, com a pandemia, essa componente ficou severamente comprometida. "Acho, sem dúvida nenhuma, que estes alunos estão a adquirir todos os conhecimentos teóricos e que os professores farão, obviamente, o melhor possível relativamente à parte prática, nomeadamente através da discussão de casos clínicos em aula e, em alguns casos, da utilização de plataformas de simulação, como é o caso da Body Interact”, avança.

No entanto, Rafaela Paiva expressa novamente a sua preocupação com a falta ou diminuição de interação direta com o doente, algo que, como é evidente, estas plataformas não possibilitam. Conforme exemplifica, "ouvir o sopro de um doente não é a mesma coisa que ir ao YouTube ouvir um vídeo de um sopro". Por isso, considera que seria uma boa aposta por parte da FMUC uma eventual adaptação dos próximos anos, fazendo com que a parte prática dissesse respeito, sempre que possível, a casos clínicos reais, em vez de estar centrada numa discussão mais teórica. "Seria importante os alunos terem a oportunidade de ver e de estar com um doente, para que, depois, a discussão em sala fosse produtiva e traduzisse aquilo que poderia e deveria ser feito por um médico a nível prático", refere.









Pesem embora estas adversidades, Rafaela Paiva considera que tem havido um grande esforço para que o último ano do MIM decorra da melhor forma possível, nomeadamente por parte dos professores, que se têm mostrado recetivos às sugestões dos alunos. Como exemplos, destaca o facto de alguns estágios estarem a acontecer em semanas alternadas, para que seja possível, caso necessário, que os “alunos cumpram isolamento sem perderem tanto tempo de estágio”, ou a possibilidade de as aulas de discussão de casos clínicos decorrerem apenas em formato digital. “Sabemos que os nossos professores são médicos e diretores de serviço, e que, mais do que nós, estão na linha da frente e gerem imensas pessoas: tentamos não complicar, mas tentamos também garantir sempre a melhor qualidade da nossa formação”, afirma.


O apoio na vigilância epidemiológica da COVID-19

Em colaboração com o Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde do Centro (ARS Centro), cerca de 200 voluntários da Universidade de Coimbra, na sua maioria, estudantes finalistas da FMUC e da Faculdade de Farmácia (FFUC), mas também docentes, investigadores e membros do corpo técnico, estão, desde o final do passado mês de janeiro, a apoiar a realização de inquéritos epidemiológicos, sob a gestão e supervisão de médicos de Saúde Pública.

Esta bolsa de voluntários da Universidade de Coimbra foi formada em articulação com as direções da FMUC, da FFUC, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC-UC) e do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR-FMUC).

Questionada acerca da relevância deste contributo por parte dos alunos finalistas do MIM, Rafaela Paiva, que colaborou na angariação dos voluntários da FMUC, considera que esta é uma importante ajuda, não apenas por parte dos alunos desta Faculdade, mas por qualquer estudante da área da Saúde, dado que o seu objetivo é interromper cadeias de transmissão, o que resultará numa consequente diminuição do número de novos casos de COVID-19.

Do mesmo modo, salienta que os alunos de Medicina se encontram bem preparados para esta missão, dado, inclusive, o facto de, quando estão no estágio de Medicina Geral e Familiar (MGF), alguns dos alunos prestarem já apoio na vigilância epidemiológica, através da plataforma Trace COVID.


A experiência na presidência da Comissão de Curso

“Assumi a presidência numa altura verdadeiramente complicada, e a saber que estes problemas iriam surgir, que poderíamos ter períodos de suspensão de aulas, que iríamos ter de gerir emoções, incertezas e medos por parte dos nossos colegas e que, acima de tudo, iríamos ter de representar a vontade de todos perante os órgãos de gestão”, admite. Rafaela Paiva destaca, assim, o esforço e a dedicação dos cinco elementos da equipa para fazer face aos problemas que vão surgindo e às decisões que têm de tomar, bem como a compreensão que todos os estudantes têm tido neste processo.

Em termos pessoais, a presidente da Comissão de Curso garante que esta tem sido uma experiência enriquecedora, mas também desafiante, particularmente no que diz respeito à gestão do seu tempo. “Fiz a minha tese o mais rápido que foi possível, já a entreguei e já a defendi, também fiquei mais disponível para lidar com estes problemas relativos ao curso”, conta. Além disso, considera ainda que esta experiência adquirida na presidência da comissão se poderá revelar importante no seu futuro: “até porque nem só de estudar nós somos feitos, não é?”, graceja.


por Luísa Carvalho Carreira (texto e fotografia de topo)
fotografias gentilmente cedidas por Rafaela Paiva