Lucerna

VOICEmed

Fazendo uma revisão do meu percurso académico/científico, não consigo selecionar um momento marcante que tenha sido a chave para escolher a Investigação Biomédica. Posso dizer que todo o meu percurso se tem pautado por um conjunto de oportunidades, as quais aparecem no momento certo e das quais tiro o melhor partido.

A escolha da licenciatura em bioquímica foi um acaso! Na verdade, eu sempre achei que queria algo ligado à área da saúde e daí ter enfermagem sempre em mente. Mas como não estava segura de que esta seria a melhor opção para mim, foi quando a licenciatura em bioquímica apareceu na minha lista de possibilidades. Durante o curso, entramos na fase de pensar qual será a próxima etapa e quando me perguntavam “para o que é que dava” a licenciatura em bioquímica e me falavam em investigação eu dizia sempre que não queria seguir essa área. Decidi então fazer um estágio de verão em análises clínicas porque estava convicta de que este seria o caminho, mas a primeira semana de estágio bastou para perceber que não.

Após terminar a licenciatura e entrar no mestrado em bioquímica, foi quando me comecei a aproximar mais da investigação biomédica. E aí percebi: “afinal acho que o caminho é por aqui”! Nessa altura, ao falar com colegas, comecei a perceber o quanto seria competitivo e o quão difícil seria progredir para o próximo passo, que era fazer doutoramento e conseguir ter bolsa de doutoramento. Então esse passou a ser o meu próximo objetivo!

Ainda durante o mestrado tive de escolher onde fazer a tese de mestrado e aqui foi a decisão final de que queria entrar na investigação biomédica. Após alguma pesquisa e algumas respostas negativas, foi o contato com a Doutora Raquel Santiago que definitivamente mudou o meu percurso e, sob sua orientação científica, fui aceite para fazer a minha tese de mestrado no grupo do Doutor Francisco Ambrósio, no iCBR. Na altura entrei para um projeto que estava a começar e foi-me dado o desafio de mostrar se a cafeína poderia ter um efeito benéfico de neuroproteção das células da retina. Após um ano com alguns percalços, o objetivo foi cumprido e mais tarde este foi o meu primeiro trabalho publicado enquanto primeira autora numa revista científica com elevado fator de impacto.

Já estou no grupo há 7 anos, e sem dúvida que todas as oportunidades que me têm sido dadas e todos os projetos em que tenho participado me têm possibilitado progredir enquanto investigadora. E foi nesta fase que, após alguns concursos à FCT, consegui ter bolsa de doutoramento no programa de Doutoramento em Envelhecimento e Doenças Crónicas. Estes 4 anos de doutoramento, a caminhar para 5, foram desafiantes com um projeto também ele desafiante. Desta vez, foi-me dado o desafio de desenvolver um implante intraocular para libertação controlada de um fármaco que sabemos que confere neuroprotecção às células da retina. E, nesta fase final, é fascinante ver todo o nosso percurso e ver como conseguimos chegar ao nosso objetivo final. Engana-se quem pensa que a investigação se faz sozinha, e eu tenho tido imensa sorte nas pessoas que se têm cruzado no meu percurso.


Raquel Boia é aluna do Doutoramento em Envelhecimento e Doenças Crónicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes