Editorial



Esta é uma Voice*MED especial. Não porque estejamos a celebrar algo de emblemático ou marcante relativo ao percurso da newsletter, mas porque as circunstâncias restritivas que vivemos assim o exigem. O confinamento que estamos todos obrigados a cumprir impede-nos de manter o formato da Voice*MED a que nos habituámos, nomeadamente as entrevistas presenciais com os Professores jubilados, na rubrica “Do curso de...”. Tal como em muitas outras atividades, também nós fomos obrigados a inovar.

Por razões que todos compreenderão, esta edição dá uma particular atenção à COVID-19, causada por um vírus insidioso, que nos rouba, de forma impiedosa e cruel, gente que nos faz falta e cuja partida nos deixa irremediavelmente mais pobres. A Professora Maria de Sousa é um exemplo disso. Em meu nome pessoal e da FMUC, quero deixar aqui uma palavra de pesar pelo desaparecimento de um dos maiores vultos da ciência portuguesa, nomeadamente na área da biomedicina, a quem muito devemos, por tudo o que fez pela ciência e formação pós-graduada em Portugal.

O momento atual impõe grandes desafios às Universidades, nas suas mais diversas dimensões. Em 4´33´´, temos o privilégio de contar com o testemunho do Magnífico Reitor da UC, que nos fala das alterações que a UC teve que encetar, em tempo recorde e sem preparação, para lidar com uma situação tão difícil e exigente, ao nível da sua organização, ensino, investigação e, ainda, combate à COVID-19. Em muitos aspetos, a UC tem sabido dar um exemplo de resiliência e coragem ao adotar, antes de todos, medidas que garantissem a proteção das pessoas, nomeadamente dos estudantes.

A UC foi ainda capaz de mobilizar, de uma forma extraordinária, toda a sua comunidade, incluindo professores, investigadores, estudantes e técnicos, para participar no laboratório dedicado à realização de testes à COVID-19, numa parceria com a ARS-Centro, CHUC e CMC. Neste laboratório trabalham pessoas provenientes de diversas entidades, nomeadamente UC, CHUC e IPST, que de uma forma generosa, solidária e voluntariosa pretendem dar o seu contributo para ajudar a combater a pandemia. É único, o que se vive naquele espaço, onde todos, sem exceção, e independentemente da sua afiliação ou estatuto, lutam em conjunto, para um mesmo fim. Não há Instituto A, Grupo B, Centro C, Unidade D ou Investigador E... Há apenas e só a preocupação de servir a sociedade e o País, num momento tão difícil, num ambiente de profunda união, entreajuda, solidariedade e entrega, num gesto ímpar de dedicação e comprometimento. Esta é (mais) uma prova da grandeza e magnanimidade da UC, com a concretização dos seus mais nobres valores e da sua missão. Que seria deste País sem esta onda de voluntariado, nomeadamente da comunidade científica, que se mobilizou para ajudar neste combate?

E Coimbra, sem o aparato e cobertura mediática de outras Instituições, vai efetivamente, e de forma discreta, modesta e recatada, desenvolvendo um trabalho que vem, de facto, beneficiando toda a região centro, incluindo CHUC, lares, centros de saúde e IPSS. Por tudo isto, devemos, TODOS, sentir um orgulho enorme de poder pertencer, atualmente, ou no passado, a esta enorme instituição que é a UC.

Na rubrica “Isto (também) é FMUC”, vamos conhecer uma equipa da FMUC que colabora, como tantas outras, no laboratório COVID-UC e, através desta, perceber as dinâmicas e tarefas das diversas pessoas que integram as equipas desta estrutura. A rubrica “Do curso de...” foi, nesta edição, substituída pela “Da linha da frente”, onde temos o testemunho, na primeira pessoa, de médicos que lidam de perto com a doença. E para que esta partilha seja mais “real”, verdadeira, direta e emotiva, é feita em formato de vídeo, permitindo conhecer as caras e as vozes destes heróis.

Em “Fora da Medicina”, vamos conhecer a ATLAS, uma organização não governamental para o desenvolvimento, que leva refeições quentes, afetos e companhia a idosos de várias cidades da região Centro. Nesta altura, mais do que nunca, é vital a mobilização da sociedade civil para ajudar os mais desfavorecidos e carenciados, num combate contra o isolamento a que muita da nossa população, principalmente a mais velha, está sujeita. Em “Lucerna”, vamos saber o que marcou o percurso clínico, científico e académico da estudante de Doutoramento Daniela Madama. A prescrição deste mês está a cargo de Carina Monteiro.

Embora os registos comecem a dar alguns sinais de melhoria, mostrando que as medidas adotadas estão a surtir efeito, estamos longe de voltar às rotinas a que estávamos habituados. Se é que alguma vez tudo vai voltar a ser como antes. Mesmo depois de levantadas, ainda que parcialmente, as restrições, vamos ter que continuar a refrear, por algum tempo, os nossos ímpetos mais afetuosos e carinhosos. Muito provavelmente os abraços vão ter que esperar mais algum tempo. Até encontrarmos uma forma de combater o vírus, vamos ter que ser pacientes e continuar a cumprir regras de distanciamento e higienização para evitar um retrocesso, deitando por terra todos os sacrifícios feitos até aqui.

Não tenho dúvidas de que vamos superar esta adversidade e sair mais fortes e aptos, enquanto sociedade, para enfrentar outros contratempos com que ciclicamente nos deparamos. A consciência da nossa vulnerabilidade, o conceito de solidarismo, o sentimento de união e partilha, sairão reforçados para que possamos ultrapassar, com sucesso, os desafios que se nos colocam, a cada momento, para não deixar extinguir o planeta: alterações climáticas, escassez de recursos, desigualdades sociais e económicas, pandemias...

Um ABRAÇO de toda a FMUC,

Henrique Girão




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