Sobre o estudo
Os fungos são organismos ubíquos e os seus esporos são naturalmente inalados, sendo o nosso sistema respiratório exposto diariamente a grandes quantidades de elementos fúngicos. Estima-se que as doenças causadas por fungos matem entre 1,5 a 2,0 milhões de pessoas por ano. Nestas doenças estão incluídas as alergias respiratórias com sensitização a fungos, como é o caso da rinite alérgica e da asma.
Embora se conheçam os fungos que, quando em contacto com pessoas alérgicas, podem desencadear uma crise alérgica, muito pouco é ainda conhecido acerca da interação dos esporos desses fungos com as células do sistema imunitário, cuja função seria a eliminação desses esporos, ingerindo-os e eliminando-os por processos celulares. O objetivo deste trabalho foi estudar como os esporos do fungo Alternaria infectoria, muito comum no ambiente, interagem com células do sistema imunitário e se estas eram capazes de os eliminar. Entre outros estudos, realizámos vídeos em tempo real de como essas células do sistema imunitário, macrófagos, interagiam com os esporos dos fungos.
Resultados e impacto
Os estudos realizados e a análise dos vídeos mostrando como os macrófagos interagem com os esporos do fungo Alternaria infectoria permitiram verificar que os macrófagos muito rapidamente ingerem os esporos, não conseguindo, no entanto, eliminá-los efetivamente. Deste modo os esporos permanecem vivos dentro dos macrófagos, impedindo estas células de enviar sinais de perigo para outras células do sistema imunitário. Esta descoberta de que os esporos de fungos ambientais podem residir, de forma silenciosa, dentro de células do sistema imunitário constitui a primeira evidência de que nos doentes com alergias este pode ser um reservatório contínuo de alergénios ou que, no caso de uma quebra no sistema imunitário, estes esporos podem germinar e invadir os tecidos, provocando uma infeção grave, principalmente a nível pulmonar.
Assim, este trabalho contribuiu para o enriquecimento do conhecimento na área da Micologia Médica, demonstrando que fungos ambientais podem persistir no nosso organismo aumentando a probabilidade de induzir sensitização fúngica e consequentes distúrbios alérgicos. Desvendar os mecanismos de interação entre fungo e hospedeiro permitirá novas estratégias terapêuticas com enorme impacto na qualidade de vida de pacientes com distúrbios alérgicos graves, como por exemplo a asma alérgica, aspergilose broncopulmonar alérgica e rinite alérgica.
Teresa Gonçalves
Mycopathologia
Early Interaction of Alternaria infectoria Conidia with Macrophages