Sobre o estudo
Os microRNAs (miRs) são um dos mecanismos de regulação das nossas células que se encontram alterados no cancro. Estes pequenos ácidos ribonucleicos (RNAs) têm a capacidade de regular a expressão de vários genes envolvidos no desenvolvimento e progressão de múltiplas doenças, como o cancro, podendo ainda influenciar a resposta ao tratamento. De acordo com o tipo de genes que os miRs regulam, estes podem ser denominados de oncomiRs, caso promovam a progressão dos tumores, ou de miRs supressores tumorais, quando controlam o desenvolvimento de tumores.
Uma das patologias em que estão descritas alterações nos níveis dos miRs é a leucemia mieloide crónica (LMC), um cancro do sangue que representa cerca de 15% das leucemias do adulto. A LMC resulta de uma troca de genes localizados em diferentes cromossomas, resultando na acumulação de uma proteína alterada que é a base da doença e o alvo para o seu tratamento. Apesar do enorme sucesso das terapêuticas atuais dirigidas a esta proteína oncogénica, alguns doentes apresentam complicações no decurso do tratamento e/ou perdem a resposta aos fármacos utilizados. Contudo, atualmente não existe nenhuma ferramenta que permita prever a resposta ao tratamento, o que dificulta a seleção do mesmo.
Assim, neste trabalho fomos avaliar os níveis de expressão de três miRs (miR-21, miR-451 e miR-26b) em doentes com LMC ao diagnóstico e correlacionar estes níveis com o tipo de resposta ao final de um ano de tratamento.
Resultados e impacto
Este trabalho demonstrou que a alteração dos níveis destes miRs aquando do diagnóstico de LMC condicionam a resposta ao tratamento da doença. Assim, níveis elevados de miR-21 (um oncomiR) e uma menor expressão de miR-451 (um miR supressor tumoral) estão associados a uma pior resposta ao tratamento. Estas moléculas demonstraram ser bons biomarcadores da eficácia do tratamento, podendo constituir ferramentas úteis para direcionar a escolha do tratamento. Com base nos resultados obtidos, foi ainda possível criar um índice de resposta ótima ao tratamento, que prevê ao diagnóstico qual a probabilidade de cada doente obter a melhor resposta ao final de um ano de tratamento. Assim, este trabalho permite identificar melhor os doentes com LMC que irão responder de forma mais eficaz ao tratamento, permitindo uma seleção da terapêutica mais adequada a cada doente.
Apesar de serem necessários estudos num maior número de doentes, os nossos resultados representam uma ferramenta para prever a resposta ao tratamento anticancerígeno, colmatando uma falha até agora existente.
Ana Bela Sarmento Ribeiro
Scientific Reports
MicroRNA signature refine response prediction in CML