Instituto
de Fisiologia

Isto é FMUC

O ensino e a investigação: estas são as duas grandes vertentes do Instituto de Fisiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Dito assim, parece simples, mas Raquel Seiça não tem mãos a medir para tanto trabalho. Professora catedrática da FMUC, investigadora principal do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) e investigadora colaboradora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Raquel Seiça é também a diretora do Instituto de Fisiologia há quase 14 anos.


O ensino

O ensino da Fisiologia faz parte dos estudos pré-graduados e pós-graduados. No caso do ensino pré-graduado, a Fisiologia é ensinada no Mestrado Integrado em Medicina (MIM) e no Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD) da FMUC. Numa colaboração entre a FMUC e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), a Fisiologia é também ensinada no Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica e na Licenciatura em Química Medicinal. E é ainda através de outras colaborações da FMUC com a Universidade dos Açores e a Universidade de Cabo Verde que a Fisiologia é igualmente lecionada nos cursos de Medicina dessas duas instituições de ensino.
Relativamente aos estudos pós-graduados, o Instituto de Fisiologia colabora, na FMUC, no Mestrado em Investigação Biomédica, no Mestrado em Patologia Experimental, na Pós-graduação em Acupuntura e no Programa de Doutoramento em Ciências da Saúde e, na FCTUC, no Programa de Doutoramento em Engenharia Biomédica.
Se, em termos do ensino pré-graduado, o corpo docente é maioritariamente constituído por médicos, algo que, para Raquel Seiça, é “muito importante no ensino da Fisiologia, porque cada médico tem a sua especialidade e transmite, nas aulas práticas, o seu quotidiano hospitalar a alunos do 2º ano”, que assim têm a oportunidade de entrar em contacto com esta realidade desde o início da sua formação, já no ensino pós-graduado as colaborações são, essencialmente, asseguradas pela diretora do Instituto de Fisiologia.
Ainda no que diz respeito ao ensino, Raquel Seiça assume uma segunda paixão, as Letras: “sou investigadora colaboradora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos”, afirma. A ligação à FLUC surgiu há alguns anos, depois de uns cursos livres de Grego e Latim aplicados às Ciências da Vida e da Saúde, que abordavam a “origem das palavras, da terminologia médica”, conforme explica.
Já depois desses cursos livres, foi criado, na FLUC, o Programa de Doutoramento em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades, “que envolve a Sociologia, a Antropologia, a História, a Literatura, os Estudos Clássicos e a Alimentação na Saúde, e no qual a dieta mediterrânica, Património Cultural Imaterial da Humanidade, tem um papel fulcral”, esclarece. Neste doutoramento, o módulo de ‘Alimentação: Biodiversidade e Saúde’ tem Raquel Seiça como uma das responsáveis: “É uma unidade curricular que tenho, juntamente com colegas do Jornalismo e Comunicação, que aborda o envolvimento dos media na publicitação dos alimentos. Faço aquela ponte com a alimentação e a importância para a saúde. Lá está, que eu não sei nada de Literatura, nem sei nada de História nem nada dessas coisas, para grande pena minha, mas… Quando estiver reformada, ainda vou para lá!”, graceja.


A investigação

“Na investigação, eu comecei por estudar a diabetes, sobretudo a parte da fisiopatologia da célula beta; depois, a insulinorresistência”, indica Raquel Seiça. Hoje, a investigação do Instituto de Fisiologia centra-se na diabetes, não apenas nos mecanismos que estão presentes no desenvolvimento da doença, mas também nas suas complicações posteriores, macro e microvasculares.

À diabetes veio aliar-se a investigação da obesidade e também da cirurgia bariátrica como um tratamento, não só da obesidade, mas, possivelmente, da diabetes tipo 2. Para o desenvolvimento desta investigação, a diretora do Instituto de Fisiologia assume o privilégio de ter na sua equipa um cirurgião dedicado à cirurgia bariátrica, doutorado na área, e de poder estudar a obesidade infantil e as suas complicações cardiovasculares, fruto de uma estreita ligação com o Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), particularmente com dois cardiologistas pediátricos que integram igualmente o grupo da Fisiologia.


Os desafios e oportunidades

Instada a manifestar-se acerca dos maiores desafios na coordenação do Instituto de Fisiologia, Raquel Seiça admite que, inicialmente, a grande preocupação foi a constituição de um corpo docente: “Foi difícil, mas consegui. Hoje, tenho um corpo docente de que me orgulho, um conjunto de colegas fantásticos, que dão um apoio espetacular no ensino, sobretudo no pré-graduado”, assegurando as diversas unidades curriculares.
Outro desafio é o da gestão da área da investigação, pelo facto da maioria dos investigadores ter contrato de bolsa, o que dificulta a fixação dos mesmos no Instituto de Fisiologia. Além disso, o instituto não tem contratados, na sua equipa, técnicos de laboratório ou técnicos superiores, sendo os bolseiros a assegurar o trabalho nestas áreas.
Apesar da “preciosa ajuda administrativa das Senhoras funcionárias do iCBR e do Instituto de Bioquímica”, a diretora do instituto também se dedica a esta organização do trabalho nas suas diversas vertentes, o que faz com que lhe reste pouco tempo para o trabalho de laboratório: “Às vezes vou lá dar uma mãozinha, devo-lhe confessar. Gosto muito de ir lá sempre que posso, à parte dos modelos animais, dos estudos in vivo”, desabafa.
Na sua opinião, faltam no Instituto de Fisiologia pessoas residentes, “um bocadinho mais seniores”, que possam ajudar na atividade laboratorial os bolseiros, estagiários e estudantes do ensino pré-graduado e pós-graduado, ou mesmo na escrita de projetos para financiamento.

Quanto a oportunidades, Raquel Seiça refere, aliada à questão da alimentação e saúde, a criação de uma rede nacional para a sustentabilidade da dieta mediterrânica, na qual a Universidade de Coimbra, e também a FMUC, está integrada. A criação desta rede, com mais de 20 instituições envolvidas, “permite conhecer os trabalhos dos outros e desenvolver projetos em conjunto”, afirma. Para a diretora do instituto, a divulgação da própria FMUC e do trabalho que nela se desenvolve nesta área é igualmente importante.
A juntar-se a esta oportunidade está também a aposta em novos projetos, nomeadamente com o Hospital Pediátrico do CHUC, especificamente com o Serviço de Cardiologia Pediátrica, conforme salienta: “estamos a pensar, a par da obesidade e da diabetes, estudar crianças e jovens que fazem desporto de alta competição”.

por Luísa Carvalho Carreira
fotografia de topo por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas por Raquel Seiça