Uma alteração legislativa, por exemplo da passagem de um regime de bolsas para contratos, poderia ser um incentivo para fixar jovens investigadores, ao invés de emigrarem?
Objetivamente diria que sim, mas também depende do tipo de contratos. Mesmo com a nova legislação, que é positiva, uma vez que se pretende terminar com a precariedade das bolsas e oferecer contratos de trabalho aos investigadores mais jovens, os salários ainda não são competitivos ao ponto de atrair estrangeiros.
Depois, mesmo a nível nacional, há essencialmente dois polos, Porto e Lisboa, onde há um conjunto de instituições de grande qualidade na área da Biomedicina, com outros recursos a nível humano e de equipamentos, com uma maior massa crítica. São, também, áreas mais populosas, o que faz com que se tornem mais atrativas, dificultando que uma cidade mais pequena, como Coimbra, consiga atrair pessoas. Tem acontecido, em vários concursos, que as pessoas vêm para o iCBR, mas assim que conseguem, mesmo vivendo em áreas limítrofes a Lisboa ou ao Porto, mudam-se para instituições dessas duas cidades. Não podemos, de forma alguma, descurar as condicionantes económicas.
Isto é um problema que não é apenas de Coimbra. Aveiro também o tem, Covilhã... Se é impossível inverter isso? É muito difícil. Há universidades relativamente pequenas, mas de grande prestígio, como Stanford, que até tem menos alunos que a Universidade de Coimbra. No essencial, para além da excelência científica, que do meu ponto de vista é o principal fator de atratividade, são necessários melhores salários, outro fator de atratividade, e algo que não sucede muito na Europa - donativos para investigação, que são uma realidade, por exemplo, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Penso que deveria haver um investimento claro de milhões de euros para contratar pessoas de qualidade, numa infraestrutura como o planeado BioMed, e para adquirir mais e melhor equipamento. No essencial, uma estratégia de médio/longo prazo, com uma aposta sustentada da Universidade de Coimbra e das diferentes forças da cidade, que tenham como desígnio uma cidade da investigação e da saúde.
O Biocant é um exemplo interessante, inserido numa cidade de pequena dimensão, que tem conseguido atrair pessoas, investimento e empresas, o que mostra que é possível fazê-lo, mesmo começando do zero, o que não é o caso do iCBR.
por Paulo Sérgio Santos
Fotografias gentilmente cedidas por Francisco Ambrósio