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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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Uso de várias escalas
de avaliação pode ajudar
a adequar o seguimento
e a recuperação de doentes com AVC
Sobre o estudo
O acidente vascular cerebral (AVC) é considerado a primeira causa de incapacidade funcional no mundo ocidental. Após esta lesão, cerca de sete em cada dez doentes apresentam uma hemiparesia, ou seja, uma paralisia parcial de um lado do corpo. No membro inferior afetado, a recuperação funcional acontece na mesma proporção da hemiparesia. No entanto, estudos referem que apenas dois em cada dez doentes recuperam a funcionalidade da mão, o que dificulta a realização de tarefas quotidianas e tem um forte impacto na qualidade de vida.

Não existe consenso quanto ao limite de tempo para recuperação após um AVC. Determinar esse limite, com recurso a diversas escalas de avaliação, é fundamental na prática clínica. Estabelecer um período de tempo durante o qual o doente apresente ganhos funcionais auxiliaria num seguimento mais adequado, assim como na prescrição de um programa de reabilitação adaptado e individualizado.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a progressão funcional, bem como estabelecer o tempo de recuperação em doentes com AVC isquémico, em que existe uma obstrução nas artérias do cérebro, durante os primeiros seis meses após a lesão. Foi realizado um estudo prospetivo observacional numa amostra consecutiva de doentes internados numa unidade de AVC e um seguimento dos mesmos com avaliação da capacidade funcional através da aplicação de várias escalas.


Resultados e impacto
Nos doentes vítimas de AVC, os ganhos funcionais mais importantes ocorrem nas primeiras 12 semanas, que correspondem ao período da neuroplasticidade, em que o sistema nervoso pode mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional, quando sujeito a novas experiências. Após esse período de tempo, a recuperação torna-se lenta e residual.

A grande questão em reabilitação prende-se com a permanente interrogação da importância/eficácia do programa de reabilitação nestes doentes após os três meses de reabilitação.

No nosso estudo, observou-se uma melhoria funcional em todas as escalas ao longo dos seis meses, sendo de facto esta melhoria mais evidente das três para as 12 semanas.

A recuperação da capacidade cognitiva é atingida mais cedo que a componente motora (cerca de três semanas após o AVC). A possibilidade de estabelecer um período de tempo durante o qual o doente apresenta ganhos funcionais auxilia num seguimento mais adequado, assim como na prescrição de um programa de reabilitação adaptado e individualizado.

João Paulo Branco

European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine 
Assessing functional recovery in the first 6 months after acute ischaemic stroke: a prospective, observational study


fotografia de ennaziz @ pixabay