Mobirise Mobirise v4.7.1

4'33''

José Borges
e Ana Rita Fradique
(NEM/AAC)

voiceMED
José Borges assumiu, no passado dia 27 de maio, a presidência do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra, tendo Ana Rita Fradique, a anterior presidente, passado para a presidência da Mesa do Plenário.


O que ficou por fazer no mandato anterior e o que vai ser feito neste mandato?

Ana Rita Fradique (ARF) - Ficaram por fazer bastantes coisas. As duas maiores que gostávamos de ter feito, e não foi logisticamente possível, era ter uma sala de alunos no Pólo III, uma vez que sentimos que este espaço é um pouco impessoal e não tem nada que nos proporcione convívio, e uma reprografia do núcleo, ou pelo menos uma que fosse mais barata, para que os estudantes pudessem imprimir a um preço mais acessível.

José Borges (JB) - Há muita coisa para fazer, incluindo essas duas. O meu percurso no núcleo não começa com o cargo de presidente, já vem de trás, e sinto que estas são algumas das coisas que queremos ver cumpridas. Um dos pilares de atuação que definimos para esta XXI direção é a aproximação aos estudantes. É importante que sintam que o núcleo é constituído por colegas seus que defendem os interesses estudantis, ao invés da sensação de ser um grupo elitista, o que não é, de todo, favorável. Isso é necessário, principalmente agora, com a nova prova [ndr: de acesso à especialidade] e o consequente processo de adaptação à sua nova estrutura.
José Borges
Referiu, José, que os vossos colegas vos vêem mais como uma entidade superior. Isso leva a que haja menos envolvimento, da parte deles, na vida associativa?

JB - Depende. Quando formei esta nova equipa, chamei muitas pessoas de fora, colegas que não tinham qualquer contacto com o mundo do associativismo. A visão que temos enquanto dirigentes associativos, e do que fazemos em prol dos outros, não é, muitas vezes, aquilo que os estudantes sentem que lhes chega. A mensagem chega, frequentemente, encriptada. E daí essas escolhas, para tentar quebrar essa distância entre o NEM e o corpo estudantil.

Contudo, a existência de uma nova prova e o facto de ela contar para a média pode ser um fator que mantenha, ou aumente, esse distanciamento. Mas o importante é não desistir, para que eles percebam que essa participação os forma enquanto cidadãos mais ativos da nossa sociedade, dando-lhes capacidades e valências que a própria faculdade e o ciclo de estudos não dão.

ARF – Eu já estava no núcleo quando saiu, em 2015, um decreto-lei que dizia que, em 2018, a média final de curso (Mestrado Integrado em Medicina) iria contar para quem se candidatasse ao concurso da especialidade - 80% a nota da prova e 20% a média. A partir desse momento começámos a sentir uma grande quebra no número de colaboradores e de pessoas que intervinham. Em relação à participação associativa... Penso que as pessoas olham para nós como uma entidade que organiza coisas, ao invés de nos olharem como colegas, talvez até por sermos o único núcleo da Associação Académica de Coimbra (AAC) que tem uma secretária, que é paga para exercer funções administrativas. É algo que facilita imenso o nosso trabalho, mas acaba por criar um maior distanciamento. Para além disso, falamos de um corpo estudantil de três mil pessoas, ao qual não é fácil chegar de forma individualizada; por exemplo, só por duas vezes tivemos mais de cem pessoas nos plenários do núcleo, e já foram grandes vitórias - mas a verdade é que isso pode não representar a opinião dos três mil estudantes da FMUC. Há qualquer coisa neste microambiente que faz com que as pessoas se inibam de falar e não venham às atividades que organizamos.

Resumidamente, creio que as pessoas olham para o núcleo como uma estrutura profissionalizada, com a qual podem reclamar se algo estiver a correr mal. Mas somos colegas que se esforçam para que tudo corra bem e que, por vezes, estudámos menos para uma frequência para que tal acontecesse.


No vosso Plano de Candidatura aparece a frase "oportunidade de nos deixarmos de conformismos e atuarmos".

JB - É uma frase que transmite precisamente o papel interventivo que temos enquanto núcleo e o assumir que somos a voz dos nossos estudantes, daqueles que querem ser reivindicativos, mas que não conseguem. E os plenários, como a Ana Rita referiu há pouco, são os momentos ideais para tal. A luta é conjunta e não apenas do NEM.

ARF - Os estudantes são um pouco treinadores de bancada. É comum haver bastantes mensagens nas redes sociais, só que quando chega a hora de participar aparecem dez pessoas. Nas alturas de frequências é ainda mais complicado, mas é necessário mobilizar as pessoas. A verdade é que, neste momento, o NEM é praticamente parceiro da faculdade, é-nos pedida opinião na maior parte dos assuntos que nos dizem respeito. Temos capacidade de intervir e de resolver a maior parte dos problemas que possam surgir, mas as pessoas conformam-se, há aquele medo que haja represálias se fizerem alguma denúncia. Um exemplo são os inquéritos no Inforestudante, onde quase nunca há respostas a 100%; se as pessoas estão descontentes e não concordam com determinadas situações, não basta apenas criticar nas redes sociais, dizer que isto é a FMUC e vai ser sempre assim ou denunciar somente quando a época de exames já acabou e as unidades curriculares estão feitas.

Houve coisas que já mudámos. Um exemplo disso é o sexto ano, que antigamente tinha aulas obrigatórias, com a reivindicação dos estudantes a ter um papel importante nessa mudança.

JB - Também cabe ao NEM orientar os estudantes em relação à forma como eles podem apresentar uma queixa ou fazer uma denúncia. Isto para ir ao encontro daqueles que querem, mas não sabem como, sendo o NEM o parceiro ideal para essas situações.

ARF - Sim, temos precisamente uma colega que tem a seu cargo a Representação Externa e que coordena a Plataforma para a Educação Médica, onde estão reunidos todos os representantes dos estudantes nos órgãos de gestão da faculdade. É aí que se debatem os problemas que estão a acontecer e se tentam encontrar, em conjunto, soluções. Mas é muito importante que as pessoas entendam que por ter acontecido com elas, não tem de acontecer com os próximos colegas.