Sobre o estudo
A retinopatia diabética é a principal causa de perda de visão nos adultos com idade compreendida entre os 20 e os 74 anos. Níveis elevados de glucose no sangue podem originar danos nos vasos sanguíneos da retina e, nas fases iniciais da retinopatia diabética, ocorrem diversos tipos de lesões, como espessamento da membrana basal, hemorragias e desenvolvimento de microaneurismas, entre outras. Para além disso, a retinopatia diabética é considerada uma doença com uma componente inflamatória crónica de baixa intensidade, com várias moléculas inflamatórias, incluindo o fator de necrose tumoral, a contribuírem para as lesões dos capilares da retina.

Atualmente, não há cura para a retinopatia diabética e os tratamentos existentes são direcionados para a prevenção (principalmente ao nível da melhoria do controlo glicémico) e para as fases mais avançadas da doença, não sendo muitas vezes eficazes. Deste modo, torna-se premente o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para as fases iniciais da retinopatia diabética.

Resultados e impacto
Estudos prévios realizados no nosso laboratório, utilizando animais com diabetes tipo 1, mostraram que a sitagliptina, um inibidor da dipeptidil peptidase 4, reduz a inflamação e previne o aumento da permeabilidade da barreira hemato-retiniana. Sendo a diabetes tipo 1 caracterizada pela destruição das células do pâncreas que produzem insulina, os resultados sugeriram que os efeitos benéficos da sitagliptina se devem a uma ação direta nas células endoteliais da microvasculatura da retina. No presente estudo demonstrámos que a sitagliptina previne o efeito negativo do fator de necrose tumoral na migração celular e na formação de estruturas tubulares, em culturas primárias de células endoteliais de retina.

Com este estudo foi possível mostrar que a sitagliptina melhora a disfunção endotelial induzida por uma condição pró-inflamatória, o que poderá ser benéfico na fase inicial da retinopatia diabética, em que ocorre regressão vascular, contribuindo eventualmente para a prevenção ou atraso da progressão da doença. No entanto, a sitagliptina pode ser prejudicial nos estadios mais avançados da doença, onde ocorre a formação de novos vasos anómalos.

Rosa Fernandes

Biomedicine & Pharmacotherapy
The dipeptidyl peptidase-4 (DPP-4) inhibitor sitagliptin ameliorates retinal endothelial cell dysfunction triggered by inflammation