PUBLICAÇÕES
EM DESTAQUE

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

voiceMED
Personalidade pode diminuir o impacto da doença doentes com artrite reumatóide

Sobre o estudo
A artrite reumatoide é uma doença sem um alvo específico, com impacto no organismo humano como um todo. Um dos seus principais sintomas é a inflamação articular, que causa dor e rigidez e leva, a longo prazo, à destruição e incapacidade articular. A doença está associada a consequências negativas em quase todos os domínios do bem-estar físico e emocional, incluindo fadiga, distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

O atual paradigma de tratamento da artrite reumatoide estabelece que o objetivo reside em alcançar a remissão do processo inflamatório (ou pelo menos uma baixa atividade da doença), de forma tão precoce e persistente quanto possível.

Controlar a doença é essencial, mas é necessário entender até que ponto que esse objetivo contribui para a qualidade de vida e felicidade das pessoas, e de que forma podem os profissionais de saúde contribuir para melhorar estes aspetos. Foi nesse âmbito que desenvolvemos o estudo: para tentar compreender os principais determinantes da qualidade de vida e da felicidade em doentes com AR.

Foram avaliados 213 doentes e analisadas as seguintes hipóteses: H1 - A atividade inflamatória e o impacto da doença estão associados de forma negativa à qualidade de vida e à felicidade; H2 - Os traços de personalidade estão relacionados com a felicidade, de modo direto e indireto, através do impacto da doença; H3 - A felicidade tem um efeito mediador na relação entre impacto da doença e qualidade de vida. 


Resultados e impacto
Os resultados suportaram todas as hipóteses analisadas. A felicidade está relacionada de forma positiva com os traços de personalidade, como a estabilidade emocional e a extroversão, e negativa com o impacto da doença. Por outro lado, o impacto da doença encontra-se relacionado de modo positivo com a atividade da doença e negativo com os traços de personalidade analisados. Os efeitos da doença têm uma relação mais forte com a qualidade de vida do que com a felicidade. Para além disso, a felicidade atenuou o efeito negativo do impacto da doença sobre a qualidade de vida.

Em conjunto, estes achados têm implicações clínicas muito relevantes. Ao aceitar que a diminuição da atividade inflamatória da doença constitui o alvo essencial de tratamento, os profissionais de saúde também devem considerar os traços de personalidade, já que estes parecem desempenhar um papel mediador fundamental na forma com os doentes sentem a doença (impacto) e nas consequências que isso tem sobre a sua qualidade de vida e felicidade.

A otimização da qualidade de vida e da felicidade não exige apenas o controlo efetivo do processo da doença, mas também uma redução efetiva do impacto da mesma. Para isso, é necessária uma aplicação personalizada e dirigida de outras intervenções, além da imunossupressão, adaptadas ao perfil psicológico de cada paciente e exigindo uma intervenção multidisciplinar. 


José António Pereira da Silva