É professora catedrática da FMUC, onde tem a seu cargo a regência da cadeira de Bioquímica desde 1988. Licenciada pela faculdade em 1970, concluiu o doutoramento na área da Neurologia em 1984, tendo, desde então, obra e meritório trabalho nas Neurociências. É neste momento membro da direção do Centro Académico e Clínico de Coimbra, lugar para o qual foi nomeada em março de 2016.
Fala-se bastante do Centro Académico e Clínico de Coimbra (CACC).
O que é, quando foi formado e qual o seu objetivo?
É um consórcio que foi estabelecido entre a Universidade de Coimbra (UC) e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Tem como missão potenciar as competências que existem, na Faculdade de Medicina da UC (FMUC) e no hospital, no sentido de otimizar as condições de ensino, investigação translacional e clínica, e também de assistência médica da mais elevada qualidade. Na génese do CACC está um conceito, que aliás faz parte do senso comum, o de não haver uma faculdade de medicina de excelência que não tenha associada a si um hospital de excelência e vice-versa. Não estamos perante um conceito inovador, já existem vários CACs na Europa.
A portaria que cria o CACC data de 2015. Quando começámos a pensar neste conceito e a tentar dar-lhe um corpo, tínhamos a ideia clara de que não somos excelentes em todas as áreas. Entendendo isso, e olhando para aquelas em que poderemos ser inovadores e reconhecidos, juntámos um grupo de clínicos e investigadores da UC e de centros de investigação associados e fizemos uma série de reuniões, ‘brain storming’, para identificar e avaliar a potencialidade de criar projetos centrados nessas áreas específicas. Partimos dos centros de referência, aprovados a nível hospitalar, e do facto de sermos uma região de referência, aprovada a nível europeu, para o envelhecimento ativo e saudável. Com estes dados concretos, construímos um documento orientador que está perto de ser finalizado.
Assim, tendo como “pano de fundo” o envelhecimento, tendo em conta as características demográficas da região Centro do país onde o CACC se insere, as áreas identificadas, como as que já conciliam atividades de investigação e de assistência médica, numa perspetiva translacional e clínica, foram as Ciências da Visão, as Neurociências, as Doenças Cardiovasculares, as Doenças Metabólicas e do Metabolismo, os Transplantes e Terapias Avançadas, a Oncologia e os Cuidados Paliativos. Apesar de considerarmos as duas últimas como áreas em desenvolvimento, são sem dúvida áreas com grande potencial de investigação e com uma relação forte com o envelhecimento.
Coimbra recebeu, a meio de abril, o encontro regional da Cimeira Mundial da Saúde.
O CACC integra a M8 Alliance, e esteve também envolvido na organização do evento. Considera que esse momento pode ter sido o impulso necessário para o CACC?
Sem dúvida que esta cimeira foi um momento importante para o CACC e espero que tenha reflexo no alavancar da atividade do consórcio nos próximos tempos. A M8 Alliance é um consórcio de CACs europeus, o CACC é o único integrante da M8 Alliance a nível nacional até ao momento, e estando inseridos nessa rede temos nas nossas mãos as oportunidades para promover a internacionalização dos nossos projetos. Considero que a realização desta cimeira em Coimbra foi um momento extremamente importante para todos, numa cidade em que a saúde poderá e deverá ser um elemento diferenciador a nível nacional e internacional.
Sempre que surgem conceitos e estruturas novas há opiniões a favor ou contra, mas penso que temos de nos convencer que as instituições, e tudo o que nelas se faz, depende das pessoas. Elas são o elo principal para que se possa realmente fazer algo que nos distinga. Esta ligação entre a FMUC e o CHUC é o embrião para a criação de um verdadeiro hospital universitário, mas isso requer uma vontade forte de todos os elementos envolvidos neste processo. Sem esforço conjunto, nada acontecerá.
Sou entusiasta dos CACs, defendo-os até à última instância e penso que as pessoas ainda não perceberam o que têm na mão. Se não agarrarmos esta oportunidade, nunca mais nos podemos voltar a queixar de que somos ignorados, que os hospitais universitários não existem, por exemplo. É evidente que é um processo que se constrói, que há inúmeros obstáculos que vamos ter de contornar e que temos de procurar soluções para colmatar diferentes aspetos que uma relação entre o Ministério da Ciência e do Ensino Superior e o Ministério da Saúde encontram, quando procuram fazer um projeto conjunto, como são os CACs.
Neste momento, devo dizer que já não tenho paciência de estar sempre a ouvir "isto não vai funcionar", "isto não vai levar a nada". Quando me dizem isso, peço que me apresentem propostas alternativas, para analisarmos e vermos se são, ou não, uma melhor solução. De facto, não tenho paciência para a crítica fácil.