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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

VOICEmed #5
Descoberto risco de progressão para Alzheimer em doentes com defeito cognitivo ligeiro
Sobre o estudo
A doença de Alzheimer é a principal causa de demência em todo o mundo, afetando cerca de uma em cada dez pessoas com mais de 60 anos. As suas alterações fisiológicas têm início muitos anos antes do aparecimento dos sintomas, pensando-se envolver o processamento anormal e deposição da proteína beta-amilóide (Aβ), que neste caso se deposita nos tecidos e degrada a função cerebral. O processamento e deposição são seguidos de disfunção neuronal e alterações estruturais cerebrais, que levam à deterioração cognitiva e demência. O interesse em identificar a doença numa fase inicial levou à definição de um estádio inicial caracterizado por um defeito isolado da memória, chamado defeito cognitivo ligeiro, que apresenta um risco de progressão para Alzheimer de 10–15% ao ano. Também crucial para o diagnóstico precoce tem sido o desenvolvimento de biomarcadores da doença, que funcionam como uma assinatura bioquímica e molecular da patologia, como por exemplo a quantificação dos peptídeos Aβ (que avaliam a deposição de amiloide) e das isoformas da proteína Tau (que refletem a morte neuronal), no líquido cefalorraquidiano, existente no cérebro e na medula espinal. O objetivo deste trabalho foi avaliar a capacidade de um determinado painel de biomarcadores (níveis do peptídeo Aβ40 e Aβ42, proteína Tau total e Tau fosforilada, no líquido cefalorraquidiano) em prever, num grupo de doentes com defeito cognitivo ligeiro, a sua progressão ao longo do tempo para Alzheimer. 


Resultados e impacto
No grupo de estudo (n=197), cerca de metade dos doentes com o defeito apresentavam um perfil de biomarcadores completamente alterado, aproximadamente um terço apresentava um perfil normal, enquanto um quarto dos doentes apresentava um perfil intermédio (com alteração isolada nos marcadores de deposição amiloide ou de morte neuronal). Os resultados demonstraram que os doentes com um perfil de biomarcadores patológico apresentavam um risco de progressão para Alzheimer aproximadamente dez vezes superior aos doentes com um perfil normal, permitindo prever de forma correta a progressão, ao longo de cerca de cinco anos, numa frequência de oito a nove em cada dez casos. Assim, ao estratificar os doentes com defeito cognitivo ligeiro em subgrupos de risco de progressão para doença de Alzheimer, este painel particular de biomarcadores presentes no líquido cefalorraquidiano poderá ser uma ferramenta muito útil para o seguimento clínico destes doentes. O estádio de defeito cognitivo ligeiro constitui a janela temporal ideal para a implementação de terapêuticas e estratégias de intervenção com potencial curativo ou estabilizador. Assim, a identificação dos doentes com defeito cognitivo ligeiro em maior risco de progressão para Alzheimer reveste-se de particular importância, por permitir selecionar aqueles em que a probabilidade de eficácia terapêutica possa ser mais elevada.

Inês Baldeiras
fotografia por oakridgelabnews
Fonte flickr / Licença Creative Commons Attribution


Alzheimer's Research & Therapy 
Addition of the Aβ42/40 ratio to the cerebrospinal fluid biomarker profile increases the predictive value for underlying Alzheimer’s disease dementia in mild cognitive impairment