Sobre o estudo
A retinopatia diabética é uma complicação frequente da diabetes, sendo o edema macular uma das principais causas de baixa de visão. O edema macular não é mais do que o espessamento da retina na mácula, que é a principal área da visão. A tomografia de coerência ótica é uma técnica de diagnóstico que permite fazer uma avaliação quantitativa da espessura da retina. Com este exame não invasivo, é possível detetar pequenas alterações dessa estrutura do olho, mesmo antes de manifestações clínicas.
Foi proposto o termo edema macular diabético subclínico para descrever as fases iniciais da patologia, antes do edema ser considerado clínico. Em estudos anteriores identificámos um fenótipo de retinopatia diabética não proliferativa, caracterizado por edema subclínico, com atividade mínima da doença microvascular, e associado a um aumento do risco de progressão para edema macular clínico com envolvimento central.
Este estudo prospetivo foi desenhado para acompanhar doentes com diabetes tipo 2 e retinopatia diabética não proliferativa, através de exames oftalmológicos regulares, por tomografia de coerência ótica, durante dois anos. Na visita inicial identificámos os olhos com edema macular diabético subclínico, e avaliámos, depois, a sua progressão para edema macular diabético clínico, um estado mais avançado da doença. Analisámos também as características oculares, bem como as que se manifestam por todo o organismo (sistémicas) e as que podem estar associadas a esta progressão.
Resultados e impacto
No grupo estudado, de doentes com diabetes tipo 2, encontrámos uma prevalência de edema macular diabético subclínico em três em cada dez casos, e verificámos que olhos com este tipo de patologia tinham um risco de progressão para variante com envolvimento central 12 vezes maior que os olhos sem manifestações clínicas no início do estudo. Adicionalmente, os doentes do sexo feminino mostraram um risco maior de desenvolver edema com envolvimento central. Contudo, ao contrário de observações anteriores, não houve associação entre os níveis de glicose no sangue e o risco de desenvolvimento do edema macular com envolvimento central. Da mesma forma, outros fatores, como idade, pressão arterial, colesterol ou triglicerídeos, não apresentaram correlação com a progressão da doença. Esta falta de associação entre características sistémicas, alteração da espessura retina, e progressão de edema com envolvimento central é particularmente relevante para a forma de abordagem dos casos com edema macular diabético.
Assim, fases precoces da doença podem vir a ser encaradas como um biomarcador para o desenvolvimento de edema macular diabético. Em conclusão, quando o edema macular diabético subclínico é detetado deve ser feito um acompanhamento mais próximo desses doentes, para prevenir a perda de acuidade visual associada a danos estruturais prolongados.
Conceição Lobo
fotografia por Ano Lobb. @healthyrx
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