Isto é FMUC

Gabinete de Relações Internacionais e Interinstitucionais

VOICEmed #5
No ano letivo de 2016/17 houve 230 alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) em programas de mobilidade, em vários pontos do globo. Grosso modo, um em cada cinco alunos do Mestrado Integrado em Medicina optou por fazer parte da sua formação noutra instituição de ensino. Os números são fornecidos pela diretora do Gabinete de Relações Internacionais e Interinstitucionais (GRII) da FMUC, Marília Dourado.

Mas o que é e o que faz o GRII? “É um gabinete da FMUC, que tem por missão criar as condições para promover e intensificar a internacionalização da faculdade e proporcionar aos seus estudantes uma formação mais concreta e alargada, neste mundo global”, explica Marília Dourado, que está no gabinete desde 2005 e acumula a atual função com a docência desde 2009. “Faço isto naquelas que deveriam ser as minhas horas vagas, e ainda ocupa muito tempo para desse, porque o volume de trabalho assim o exige”, esclarece.

Há, portanto e nas suas próprias palavras, “muitíssima pouca gente para muitíssimo trabalho”, o que a levou a ter de eliminar a política de porta aberta e optar por um horário de atendimento restrito a alguns períodos por semana, apesar dos protestos dos alunos. Neste momento, e a título provisório, é auxiliada por Cláudia Ribeiro e, de forma pontual, por Manuela Vieira, “que têm dado o seu melhor”, enquanto a colaboradora permanente do gabinete, Nicole Dourado, está de baixa. Antes que se pense, Marília Dourado é lesta a afirmar: “Não me é nada em termos familiares - perguntam-me isso muitas vezes e causou-me/lhe alguns dissabores no início. É, isso sim, alguém que me tem ajudado a governar este barco”. Dado que a faculdade tanto recebe como envia alunos, o ideal seria que “houvesse duas pessoas preparadas e a tempo inteiro, uma colaboradora para todo o processo de 'outgoing' e outra para o 'incoming', à semelhança do que acontecem em todas as faculdades nossas parceiras”.
GRII
Quando fala em muito trabalho, Marília Dourado deixa subjacente a missão principal do gabinete e que não encara de ânimo leve. “Entendemos que estamos a preparar os novos médicos e não queremos que o foco incida apenas naquelas que são as maiores necessidades da nossa realidade”, sublinha. O resto é, para a coordenadora do GRII, o dotar os alunos de outro tipo de competências, mais humanas, para que, “no final da sua formação, eles possam dar resposta num contexto de uma sociedade em ebulição e em permanente mudança”.

De fora vêm alunos europeus, na sua maioria espanhóis e italianos, mas também da Europa de Leste, brasileiros, mexicanos, argentinos, colombianos, moçambicanos e suíços. Este ano, acrescenta Marília Dourado, já receberam solicitações da China. Para fora, a lista de instituições e países de acolhimento é extensa e variada. De fora, contudo, ficam algumas das escolas médicas de topo a nível mundial. “Não é por falta de vontade e ambição, mas porque o processo não é fácil”, começa por salientar. “Já chegámos a ter alunos no Karolinska, por exemplo”, mas um ensino totalmente em sueco e a obrigação de passar num exame da língua são entraves, os quais, aliados ao pouco interesse dos alunos suecos em virem para Coimbra, levaram a que o acordo de mobilidade, que tem um caráter obrigatório de bilateralidade, cessasse.

Do mesmo modo, as escolas médicas britânicas e norte-americanas são restritas, embora também aí haja casos de sucesso, “um em Manchester e outro no Bethesda Naval Hospital, em Washington”. A principal dificuldade reside na propina, mas de forma diferente. Enquanto nos Estados Unidos o alto valor e o pagamento ter de ser feito a pronto e de início, são os óbices, no Reino Unido “nunca houve interesse em entrar em programas de mobilidade estudantil como o Erasmus, em que a propina é paga no país de origem do aluno e não na instituição de acolhimento”. Marília Dourado considera, contudo, que esse posicionamento está a mudar, em resultado do processo de saída da União Europeia.

A par dos casos de sucesso, que são motivo de orgulho para a diretora do GRII, há também as histórias engraçadas, como a do aluno que queria ir de Erasmus para poder ir assistir aos jogos do campeonato europeu de futebol. Ou de outro aluno, que foi para a África do Sul. Marília Dourado recorda um dos episódios que lhe contou quando regressou: “«Sabe, as sapatilhas novas que levei, deixei-as lá. Ao fim do dia, íamos sempre jogar à bola com os miúdos, e eles jogavam descalços. Olhavam para as sapatilhas como se nunca tivessem visto algo assim. E, antes de vir, dei-lhes as sapatilhas»”. Usa este exemplo para reforçar, uma vez mais, que não se fica indiferente depois de participar num programa de mobilidade.

Para o futuro, caso continue a ocupar o cargo, Marília Dourado gostaria de “conseguir dinamizar a mobilidade docente e de investigadores na FMUC”. Se em relação à mobilidade docente ainda vai tendo alguma participação, cerca de oito pessoas por ano no total dos dois mestrados, os investigadores, esses, dão-lhe mais dores de cabeça porque a fazem sem o comunicar ao GRII. “Portanto, para efeitos de avaliação, não existem”, dando como exemplo os últimos números fornecidos à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, que não contemplam um único investigador. “Não quer dizer que eles não o façam, e que até não recebam colegas estrangeiros na FMUC; mas não ficando registados de forma oficial pode, inclusive, pôr-se em causa a legalidade da sua permanência na faculdade”, sustenta.

A diretora do GRII quer ainda conseguir colocar mais alunos em escolas médicas de topo. E tem um sonho, quiçá utópico: “Gostava que fossem todos. Costumo dizer-lhes que devia ser obrigatório” participar neste tipo de programas. 
por Paulo Sérgio Santos
fotografia de topo Paulo Amaral
fotografia Carina Monteiro