Quando fala em muito trabalho, Marília Dourado deixa subjacente a missão principal do gabinete e que não encara de ânimo leve. “Entendemos que estamos a preparar os novos médicos e não queremos que o foco incida apenas naquelas que são as maiores necessidades da nossa realidade”, sublinha. O resto é, para a coordenadora do GRII, o dotar os alunos de outro tipo de competências, mais humanas, para que, “no final da sua formação, eles possam dar resposta num contexto de uma sociedade em ebulição e em permanente mudança”.
De fora vêm alunos europeus, na sua maioria espanhóis e italianos, mas também da Europa de Leste, brasileiros, mexicanos, argentinos, colombianos, moçambicanos e suíços. Este ano, acrescenta Marília Dourado, já receberam solicitações da China. Para fora, a lista de instituições e países de acolhimento é extensa e variada. De fora, contudo, ficam algumas das escolas médicas de topo a nível mundial. “Não é por falta de vontade e ambição, mas porque o processo não é fácil”, começa por salientar. “Já chegámos a ter alunos no Karolinska, por exemplo”, mas um ensino totalmente em sueco e a obrigação de passar num exame da língua são entraves, os quais, aliados ao pouco interesse dos alunos suecos em virem para Coimbra, levaram a que o acordo de mobilidade, que tem um caráter obrigatório de bilateralidade, cessasse.
Do mesmo modo, as escolas médicas britânicas e norte-americanas são restritas, embora também aí haja casos de sucesso, “um em Manchester e outro no Bethesda Naval Hospital, em Washington”. A principal dificuldade reside na propina, mas de forma diferente. Enquanto nos Estados Unidos o alto valor e o pagamento ter de ser feito a pronto e de início, são os óbices, no Reino Unido “nunca houve interesse em entrar em programas de mobilidade estudantil como o Erasmus, em que a propina é paga no país de origem do aluno e não na instituição de acolhimento”. Marília Dourado considera, contudo, que esse posicionamento está a mudar, em resultado do processo de saída da União Europeia.
A par dos casos de sucesso, que são motivo de orgulho para a diretora do GRII, há também as histórias engraçadas, como a do aluno que queria ir de Erasmus para poder ir assistir aos jogos do campeonato europeu de futebol. Ou de outro aluno, que foi para a África do Sul. Marília Dourado recorda um dos episódios que lhe contou quando regressou: “«Sabe, as sapatilhas novas que levei, deixei-as lá. Ao fim do dia, íamos sempre jogar à bola com os miúdos, e eles jogavam descalços. Olhavam para as sapatilhas como se nunca tivessem visto algo assim. E, antes de vir, dei-lhes as sapatilhas»”. Usa este exemplo para reforçar, uma vez mais, que não se fica indiferente depois de participar num programa de mobilidade.
Para o futuro, caso continue a ocupar o cargo, Marília Dourado gostaria de “conseguir dinamizar a mobilidade docente e de investigadores na FMUC”. Se em relação à mobilidade docente ainda vai tendo alguma participação, cerca de oito pessoas por ano no total dos dois mestrados, os investigadores, esses, dão-lhe mais dores de cabeça porque a fazem sem o comunicar ao GRII. “Portanto, para efeitos de avaliação, não existem”, dando como exemplo os últimos números fornecidos à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, que não contemplam um único investigador. “Não quer dizer que eles não o façam, e que até não recebam colegas estrangeiros na FMUC; mas não ficando registados de forma oficial pode, inclusive, pôr-se em causa a legalidade da sua permanência na faculdade”, sustenta.
A diretora do GRII quer ainda conseguir colocar mais alunos em escolas médicas de topo. E tem um sonho, quiçá utópico: “Gostava que fossem todos. Costumo dizer-lhes que devia ser obrigatório” participar neste tipo de programas.