Lucerna

Quando me foi inicialmente proposto colaborar nesta rubrica da VoiceMED, confesso que fiquei um pouco reticente. Não porque não estivesse disposta a colaborar, mas pelo desafio que me foi proposto. A descrição de um momento marcante ou inspirador que tenha influenciado o meu ainda curto percurso científico/académico não parece à primeira vista uma tarefa tão complicada. No entanto, nunca antes tinha verdadeiramente refletido sobre tal e por isso este desafio levou-me a uma profunda autorreflexão e a rever todos os momentos que me fizeram chegar onde me encontro hoje.


Dei por mim então a pensar que não foi um único e simples momento, mas uma sucessão de diferentes acontecimentos e oportunidades, que tentei sempre aproveitar da melhor forma, que acabaram por ter um papel fundamental nas minhas escolhas. Também as diferentes pessoas com diferentes perspetivas, com quem tive o privilégio de me cruzar ao longo de todo o meu percurso académico, acabaram por, provavelmente sem saber, ter um papel importante.

Todos estes pequenos momentos, todas estas pequenas interações, levaram-me a abrir novos horizontes, a procurar querer saber sempre mais e, acima de tudo, levaram-me ao maior desafio a que até hoje me propus. A sair da minha zona de conforto desafiando-me não só a nível profissional, mas mais ainda a nível pessoal. Porque fazer um doutoramento, fazer investigação, ser cientista, não é só vestir a bata branca e ir para o laboratório.

Neste momento e quase na reta final do meu doutoramento, posso dizer que fazer ciência aplicada à saúde é algo que me preenche. Sinto que aquilo que faço, apesar de ser uma pequena gota num grande oceano, pode contribuir bastante para a melhoria da vida de alguém e até mesmo para a melhoria da nossa sociedade. E que até mesmo a evidência de que algo não funciona e que não apresenta os resultados desejados, também é ciência e também é conhecimento.

Fazer carreira da Ciência é sem dúvida o maior desafio de todos, muito mais num país como o nosso, no entanto cabe-nos a nós mudar esse paradigma, nunca desistir, quebrar barreiras, inovar e contribuir cada vez mais para o avanço do conhecimento.


Joana Jorge é aluna do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes