Estilo de vida materno e nutrição pós-natal regulam metabolismo do recém-nascido
Sobre o estudo
O termo "programação metabólica" consiste na alteração precoce de mecanismos em resposta a insultos metabólicos, influenciando o balanço energético ao longo da vida, factor associado ao desenvolvimento de obesidade e Diabetes tipo 2.
Neste trabalho observámos que as dietas ocidentais e obesidade maternas, bem como a sobrenutrição pós-natal em modelos animais, estão associadas a um aumento da adiposidade e a uma maior predisposição de desenvolvimento de obesidade na descendência.
A alteração da homeostase da glicose e o armazenamento lipídico no tecido adiposo estavam associados a alterações dos receptores de hormonas como a grelina e o neuropéptido Y (NPY), cujo papel inibitório do dispêndio energético e regulador do armazenamento de lípidos é conhecido.
Pelo contrário, a exposição precoce a ambientes obesogénicos diminui os receptores de dopamina, cuja função está associada a maior dispêndio energético no tecido adiposo. A exposição a ambientes obesogénicos no início de vida traduz-se na desregulação dos níveis dos fatores neuroendócrinos, contribuindo para o ganho de peso devido ao desequilíbrio do armazenamento de energia e do dispêndio energético.
Neste trabalho pretendemos demonstrar a importância da saúde e da dieta maternas na modulação de mecanismos de balanço energético utilizando animais expostos a ambientes obesogénicos no início de vida.
Resultados e impacto
Os resultados obtidos demostram que a dietas maternas hipercalóricas, além de induzirem maior peso corporal na descendência, promovem mecanismos de compensação nas vias de balanço energético da descendência tanto masculina como feminina.
Contudo, os mecanismos desenvolvidos nos dois sexos são diferentes, evidenciando o dimorfismo sexual. Também a sobrenutrição pós-natal induziu ganho de peso e mecanismos de armazenamento energético no tecido adiposo, mas apenas na descendência masculina.
A exposição a ambientes obesogénicos induz mecanismos de compensação do metabolismo dos nutrientes em excesso, mas também um aumento da gordura hepática. Além disso, estudamos também o efeito de glicotoxinas, bastante presentes nas dietas ocidentais, e demostrámos que a glicação materna agrava os efeitos da sobrenutrição pós-natal, prejudicando os mecanismos de compensação desenvolvidos e induz infiltração inflamatória hepática.
Assim, o estilo de vida materno e a nutrição pós-natal têm um papel fundamental na vida do recém-nascido, regulando o seu metabolismo. As suas alterações na sociedade moderna podem contribuir para uma maior predisposição da descendência para o desenvolvimento de doenças metabólicas no futuro.
Paulo Matafome
Fotografia de Ana Tablas @ Unsplash