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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Investigação evidencia potencial de biomarcadores sanguíneos para avaliação do risco de Alzheimer

Sobre o estudo

A doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de demência no mundo. Dada a dificuldade em reverter a deterioração cognitiva instalada, o reconhecimento dos primeiros sinais de declínio é fulcral para a eficácia de estratégias modificadoras da doença ou preventivas. Esta fase inicial, conhecida como declínio cognitivo ligeiro (DCL), pode ser identificada através de biomarcadores de patologia de DA cerebral validados de neuroimagem e no líquido cefalo-raquídeo. 

Recentemente, tornou-se possível quantificar, no sangue periférico, proteínas de origem cerebral associadas aos processos fisiopatológicos da DA (deposição da proteína beta-amiloide [Aβ42, Aβ40], formação de tranças neurofibrilares [Tau fosforilada, p-Tau181] e perda neuronal [Neurofilamentos, NfL; Tau total, t-Tau]). Estes marcadores periféricos representam uma ferramenta de fácil acesso e menos invasiva do que as modalidades de biomarcadores atualmente aceites. 

Neste trabalho foram estudados 106 doentes com DCL, seguidos longitudinalmente na consulta de demências do serviço de neurologia do CHUC por queixas de memória e declínio cognitivo global. Nas amostras de sangue, foram quantificados os níveis de Aβ42, Aβ40, t-Tau, p-Tau181, NfL e GFAP e avaliadas as associações entre os diferentes analitos, e a acuidade destes biomarcadores sanguíneos para prever a progressão para DA nos doentes em fases prodrómicas.


Resultados e impacto

Este trabalho representa o primeiro estudo compreensivo e multimodal em Portugal sobre marcadores sanguíneos associados aos mecanismos fisiopatológicos inerentes à DA. 

Encontrámos níveis basais elevados das proteínas p-Tau181, NfL e GFAP no sangue em doentes que converteram para DA durante o seu seguimento. Estas três proteínas exibiram fortes associações entre elas e demonstraram capacidade discriminatória clínica moderada para prever a progressão do declínio cognitivo para demência do tipo DA, que aumentou quando combinadas. 

A análise da presença de variáveis mediadoras revelou que a variação nos níveis séricos de GFAP sérica explicou em aproximadamente 88% a relação entre p-Tau181 plasmático e os níveis séricos de NfL, sugestivo do impacto da astrogliose reativa (processos inflamatórios) na formação de tranças neurofibrilares e consequente morte neuronal. Estudos com coortes de doentes mais heterogêneos, com comorbidades subjacentes, são importantes para avaliar o potencial real dos biomarcadores sanguíneos como futuras ferramentas de triagem em cuidados de saúde primários ou consultas gerais de neuropsiquiatria. 

Estes marcadores poderão em breve representar um primeiro passo, num processo multifásico, para avaliar o risco de DA em indivíduos com queixas cognitivas em vários níveis de referenciação.


Inês Baldeiras


European Journal of Neurology
Blood-biomarkers in mild cognitive impairment patients: relationship between analytes and progression to Alzheimer’s disease dementia


Fotografia de Huy Phan @ Unsplash