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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Estudo reúne informação robusta da função motora nos recém-nascidos com encefalopatia neonatal por asfixia perinatal

Sobre o estudo

Apesar da melhoria dos cuidados perinatais, incluindo a hipotermia terapêutica, a encefalopatia neonatal por asfixia perinatal continua a ser uma causa importante de lesão cerebral adquirida. O efeito mais devastador nos sobreviventes é a paralisia cerebral, mas défices sensoriais, comportamentais e cognitivos também podem ocorrer. 

Apesar dos resultados da ressonância cerebral estrutural serem um bom preditor de prognóstico, o seu poder discriminativo para perturbações do neurodesenvolvimento de menor gravidade a longo prazo continua a ser deficitário, o que representa um desafio na prática clínica diária. 

As técnicas de imagem cerebral funcional têm potencial para poder predizer essas limitações futuras desde os primeiros tempos de vida. Um dos principais objetivos deste estudo inovador foi avaliar se a ressonância cerebral funcional podia melhorar a capacidade para discriminar as sequelas do neurodesenvolvimento em diferentes domínios aos 18 meses de idade. 

Recém-nascidos com encefalopatia neonatal por asfixia perinatal tratados em cuidados intensivos no Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra efetuaram ressonância magnética cerebral estrutural e funcional no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, durante estimulação passiva sensitivo-motora, auditiva e visual entre os 10 e os 14 dias de vida. 

Estas crianças foram longitudinalmente avaliadas até aos 18 meses de idade de um modo estruturado ao nível das capacidades motoras (foco especial no diagnóstico de paralisia cerebral), da linguagem, da coordenação óculo-manual, do comportamento, das acuidades auditiva e visual e do funcionamento adaptativo. De acordo com estes resultados as crianças foram divididas em 3 grupos (sem alterações, patologia moderada e grave).


Resultados e impacto

Foram incluídos 18 recém-nascidos, 16 dos quais fizeram hipotermia terapêutica. No final do estudo (aos 18 meses), em seis não foi detetada qualquer alteração, em oito a patologia era moderada (44%) e em quatro grave (22%). 

A ressonância cerebral estrutural foi o melhor preditor (excelente capacidade discriminatória) para detetar a patologia grave do neurodesenvolvimento aos 18 meses, mas não o foi para as formas moderadas. Verificou-se, de um modo inédito, que o sinal da ressonância funcional cerebral durante a estimulação sensitivo-motora no respetivo córtex cerebral do hemisfério direito nos recém-nascidos teve uma boa capacidade preditora para detetar paralisia cerebral aos 18 meses. Os recém-nascidos que mais tarde desenvolveram paralisia cerebral apresentaram valores inferiores neste sinal quando comparados com os que não a desenvolveram. 

Estes dados são promissores, pois ao disponibilizarem informação prognóstica robusta da função motora nos recém-nascidos com encefalopatia neonatal por asfixia perinatal, com poucos dias de vida, nomeadamente predizer o diagnóstico de paralisia cerebral que não é passível de confirmação clínica nos primeiros dias de vida, permitem fornecer aos pais previsão do futuro e efetuar um plano precoce de intervenção psicoterapêutica específica e dirigida, potenciadora de reabilitação.


Guiomar Oliveira


European Journal of Pediatrics
The role of early functional neuroimaging in predicting neurodevelopmental outcomes in neonatal encephalopathy


Fotografia de Kelly Sikkema @ Unsplash