Lucerna

Sou a Carolina, e é com grande orgulho que vos escrevo na qualidade de estudante de Medicina do 1ºano da FMUC! Por vezes paro e penso: uau estou mesmo aqui! Não foi de todo fácil o percurso, mas valeu cada segundo.

Escolher uma profissão não foi tarefa simples. Para começar, o meu grande problema é que me imaginava em percursos de vida muito distintos, todos capazes de me tornar feliz e realizada! Desde pequenita sempre fui multifacetada e com interesses muito divergentes. A coordenação e gestão de pessoas, as vertentes mais criativas e inovadoras, a argumentação, a matemática e física, a criação de soluções para problemas numa vertente mais política, tudo prendia a minha atenção. Sempre me senti muito privilegiada em diversos aspetos e ao tomar consciência das desigualdades, problemas e injustiças do mundo, fora da minha bolha, passei a querer contribuir para fazer parte da solução. Na minha família, muitas pessoas são da área da Saúde, então cresci a ouvir conversas, sob diferentes perspetivas, relacionadas com esta temática, e eu ficava encantada. Apesar dos meus interesses variados, a componente do impacto social tornou-se uma prioridade para a minha escolha, o que, aliado ao meu fascínio pelo corpo humano, tornou Medicina a opção óbvia.

Os exames nacionais de 12º ano não me correram tão bem quanto necessitava, e quando recebi as notas o mundo desabou, andei perdida, ansiosa e só queria esconder-me... estava com tanta vergonha de ter falhado para um objetivo que só eu tinha traçado, desejava mais que tudo acordar deste pesadelo… decidi não me candidatar a outro curso e focar-me em subir as notas para me recandidatar no ano seguinte. Custou-me muito voltar a estudar o que já tinha estudado, senti que estava a viver diariamente num falhanço e com a difícil pergunta sempre presente: “E se falho outra vez? E se não sou suficientemente boa?”. Apesar de todos os medos que me assombravam, continuei a trabalhar até um ponto em que já só via fórmulas matemáticas e classificações de seres vivos para onde quer que olhasse, até para o meu irmão!

Felizmente, acabei por conseguir ter uma média que me permitia entrar em qualquer faculdade de Medicina! Poderiam ter surgido dúvidas, mas, quando fiz a candidatura, Coimbra foi imediatamente a primeira opção! Os meus pais estudaram ambos em Coimbra e conheceram-se cá, viveram todo o espírito académico. Cresci a ouvir histórias dos seus tempos de estudantes, das Serenatas, Cortejos, “rivalidades” entre cursos, das amizades, do espírito que se sente no ar e que é tão da Cidade dos Estudantes! Viver na região também contribuiu para que as tradições e o espírito não me passassem ao lado e tocassem de forma diferente e especial.

Durante o ano passado, experimentei muitas vezes as capas de estudante dos meus pais sonhando acordada que andava pelas ruelas inclinadas de Coimbra. Esta semana fui finalmente comprar o meu traje sendo que não podia estar mais entusiasmada! Sinto que todo o sacrifício valeu a pena, já tenho a minha própria capa e que esta é mesmo a minha realidade, já não é um sonho! Agora encontro outros desafios no meu caminho, mas, felizmente, estou muito bem acompanhada nesta viagem com tantos e tão bons colegas e sei que alguns ficarão comigo para a vida. Estou muito, muito feliz!


Carolina Baptista é aluna do Mestrado em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes