Clínica Universitária
de Obstetrícia

Isto é FMUC

A Clínica Universitária de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) tem uma vasta componente assistencial, às quais se junta ainda a componente pedagógica e científica. Diretor desta Clínica Universitária desde setembro de 2020, Paulo Moura dá a conhecer a sua atividade e os aspetos que gostaria de ver melhorados.


Os (muitos) alunos
Dado o elevado número de alunos, a atividade desta Clínica Universitária decorre no Serviço de Obstetrícia A da Maternidade Daniel de Matos, do qual Paulo Moura é também diretor, e no Serviço de Obstetrícia B da Maternidade Bissaya Barreto, que tem como diretora Maria do Céu Almeida. “Este é um dos poucos Serviços hospitalares que existe em duplicado”, faz saber.

Assim, a componente assistencial da Clínica Universitária de Obstetrícia corresponde à de ambos os Serviços de Obstetrícia, que atuam separadamente, dada a distância física. “É, efetivamente, algo que gostaria de ver mudado, é necessário mudar e creio que estão a ser dados passos decisivos nesse sentido”, confessa, alertando para a necessidade da unificação destes Serviços no mesmo espaço.

O ensino no âmbito desta Clínica Universitária acontece nos 5º e 6º anos do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da FMUC. “A valência de Obstetrícia está integrada na Unidade Curricular de Ginecologia e Obstetrícia, no 5º ano do curso, e o estágio em Saúde Materna acontece no ano seguinte”, esclarece. Este estágio foi criado no ano letivo 2000/2001 e Paulo Moura está a cargo do mesmo desde a sua criação.

“Do ponto de vista pedagógico, temos muitos alunos. A título de exemplo, em cada semestre do 5º ano são cerca de 180-200, e cerca de 310 no 6º ano”, indica. Nesse sentido, Paulo Moura afirma que desde sempre procurou a colaboração de profissionais e docentes, não apenas do seu Serviço, mas também do Serviço de Obstetrícia B.

As aulas práticas decorrem, deste modo, em ambos os Serviços. “Metade das turmas vão para um, e a outra metade para outro, isto do ponto de vista da valência da Obstetrícia na unidade curricular do 5º ano. No 6º ano, os grupos de estagiários também se dividem mais ou menos equitativamente.”, afirma.


Os docentes e as aulas
“No 5º ano de curso, temos a colaboração de sete docentes nas aulas práticas”, indica o diretor desta Clínica Universitária. Dessas sete, três docentes são especialistas do Serviço de Obstetrícia A e duas são do Serviço de Obstetrícia B. “Depois, contamos ainda com a colaboração de duas docentes do Serviço de Medicina da Reprodução do CHUC [Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra]”, complementa.

O corpo docente acaba, por isso, por ser reduzido face ao elevado número de alunos. “As turmas são relativamente grandes…”, admite. “Esta falta de recursos humanos é um problema geral da FMUC, especialmente no que diz respeito ao ensino prático. Por isso, utilizamos ao máximo todos os espaços assistenciais, com a colaboração dos especialistas que aí prestam cuidados, para que o número de alunos em cada um desses espaços seja o menor possível e, acima de tudo, para que se proporcione uma experiência mais rica para os alunos. Além disso, fazemos também uso da simulação médica para aprendizagem de competências técnicas básicas”, observa.

Já no 6º ano do MIM, os alunos têm formação na área da Saúde Materna. “Trata-se de um estágio prático, de âmbito clínico, que simula um estágio profissionalizante, digamos assim”, explica Paulo Moura.

“Contamos com 21 Tutores e com a colaboração de todos os profissionais em ambos os Serviços. Só assim é possível atingir os objetivos pedagógicos: com muita flexibilidade, cooperação e alguma imaginação”, salienta.

Os cerca de 300 alunos que realizam este estágio são divididos em 10 grupos de 30 alunos. “Também neste caso, os alunos são distribuídos pelos Serviços de Obstetrícia A e B”, afirma.


As competências a adquirir pelos estudantes
Conforme esclarece Paulo Moura, o principal objetivo da formação em Obstetrícia, tanto no 5º como no 6º ano do MIM, é o de que os alunos finalizem, respetivamente, a unidade curricular e o estágio com as competências e capacidades necessárias para saberem acompanhar uma gravidez.

“É fundamental que os alunos saiam daqui com a capacidade para saber acompanhar uma gravidez normal: saberem reconhecê-la, terem conhecimento dos protocolos de vigilância clínica, laboratorial e ecográfica adequados. É necessário também que reconheçam uma gravidez que não reúne características de normalidade, desde a pré-conceção ao puerpério, e tenham a competência necessária para gerir essa situação, nomeadamente no contexto do Serviço Nacional de Saúde [SNS]”, menciona.

“Em boa verdade, penso que, dentro das dificuldades, temos conseguido cumprir este objetivo com relativa satisfação, mas é preciso, de facto, uma ‘ginástica’ bastante grande e a colaboração de todos”, destaca o diretor da Clínica Universitária de Obstetrícia.

“Felizmente, temos sempre podido contar com a colaboração, não apenas daqueles que estão mais envolvidos na docência, mas também de todos os especialistas e internas de formação específica que têm estado sempre disponíveis para acolher alunos. E digo «internas» porque não é justo utilizar aqui plurais masculinos: esta é uma ‘casa’ essencialmente de Mulheres!”, acrescenta.


A extensa atividade assistencial
A atividade assistencial de ambos os Serviços de Obstetrícia é extensa, conforme faz saber Paulo Moura. “São Serviços de grande dimensão, nomeadamente a nível regional e nacional”, destaca.

“Para ter uma ideia, considerando a atividade conjunta destes Serviços, falamos de cerca de 34 mil consultas, 25 mil urgências e 4600 partos só no último ano, o que quer dizer que, quando ambos os Serviços de Obstetrícia forem unificados, seremos a maior maternidade do País”, salienta.

Para o diretor da Clínica Universitária de Obstetrícia, a extensa atividade de ambos os Serviços tem duas principais consequências. “Por um lado, é benéfica, porque nos dá um imenso potencial do ponto de vista de desempenho e de investigação. Mas, por outro lado, a pressão é enorme”, indica.

Assim, Paulo Moura afirma que, quando se fala em Obstetrícia, fala-se de uma especialidade ‘pesada’. “Pesada porque há muitas necessidades no que respeita à atividade assistencial, como referi, mas também de urgência. A urgência em Obstetrícia é assoberbante e absorvente, como devem saber se seguem os noticiários”, declara.

Estas características não parecem ter, no entanto, influência negativa na escolha desta especialidade, dado que a mesma tem registado muita procura. “Temos muitas pessoas que têm a Obstetrícia como primeira escolha, tanto de especialidade quanto de Serviço”, assegura.

O diretor desta Clínica Universitária refere, igualmente, que, nos últimos anos, vários obstetras se têm candidatado ao doutoramento, embora alguns acabem por desistir face à difícil gestão entre as atividades clínica e académica com a vida pessoal. “Neste momento, a nossa dificuldade, em termos de investigação, é mesmo a criação de um núcleo de doutorados suficientemente numeroso e forte, que potencie a nossa investigação”, declara.

Para isso, é necessário que estes doutorandos consigam ter as condições adequadas para fazerem as suas investigações, a par da atividade assistencial que desempenham. “Esperemos que, nos próximos anos, as coisas possam melhorar um pouco, nomeadamente a nível do tempo protegido dos médicos para estas atividades de formação e investigação”, afirma.


Uma especialidade interdisciplinar
“Na Obstetrícia, temos dois sujeitos de estudo: os fetos e as mães. Por isso, esta é uma área muito rica sob esse ponto de vista, tendo mesmo nos últimos 30 anos o foco sido mais intenso no diagnóstico pré-natal e na medicina fetal, o que, às vezes, parece fazer ‘esquecer’ um pouco as mães”, observa Paulo Moura.

Para o diretor desta Clínica Universitária, esta é uma especialidade igualmente rica pela sua conexão com várias outras especialidades. “A Obstetrícia tem muitas conexões ou interfaces possíveis e necessárias, tanto do ponto de vista assistencial como do ponto de vista da investigação. Depois, do ponto de vista do feto, relaciona-se com áreas como a Pediatria ou a Genética e respetivas subespecialidades e, do ponto de vista materno, com múltiplas especialidades médico-cirúrgicas, por exemplo”, constata.

“Há que de ter em consideração o facto de que, antigamente, muitas mulheres não conseguiam ou eram desaconselhadas a engravidar por algum problema de saúde. Hoje, não há praticamente contraindicações absolutas: há grávidas com transplantes renais e hepáticos, patologia cardíaca e auto-imune e múltiplas outras doenças crónicas de natureza e complexidade variável, que exigem cuidados diferenciados e específicos. Isso faz da Obstetrícia uma especialidade com imenso potencial interdisciplinar”, destaca.

“Temos ainda uma forte ligação aos cuidados de saúde primários, à saúde pública e à epidemiologia, que, às vezes, passam um pouco despercebidos…”, lamenta. “A tecnologia e as máquinas que fazem ‘Ping!’, como diriam os Monty Python [grupo de comédia britânico] são também muito importantes”, brinca, “mas convém não esquecermos que se existem bons resultados a nível da saúde materna e perinatal em Portugal, estes bons resultados devem-se a esses cuidados primários e à vigilância da população em geral no que respeita à saúde materna e neonatal”, complementa.

“Ou seja, é uma especialidade imensamente rica por tudo isso. A Obstetrícia abre muitas portas e conexões e interfaces. Temos é de ter mais pessoas, nomeadamente mais pessoas no mesmo espaço físico. Daí considerar tão importante a junção dos Serviços”, refere.


A necessidade da unificação dos Serviços
Para Paulo Moura, a unificação dos Serviços de Obstetrícia A e B no Polo dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) em Celas – algo “previsto há já muito tempo” – permitirá juntar, no mesmo local e próximo da FMUC, toda a massa crítica e recursos humanos desta especialidade.

“Sinto que o facto de estarmos ‘exilados’ há todos estes anos aqui na Maternidade Daniel de Matos e na Maternidade Bissaya Barreto tem sido um entrave a um funcionamento mais eficaz dos nossos Serviços, nomeadamente pelo facto de muitas das nossas consultas serem partilhadas com especialidades que atuam nos HUC, como a Endocrinologia, a Cardiologia, a Nefrologia, a Medicina Interna, a Reumatologia e outras, dada a interdisciplinaridade de que falei anteriormente”, indica.

“Muitas destas proximidades são dificultadas ou foram comprometidas pela distância física. É importante estarmos ao pé dos colegas das outras especialidades para que possamos manter, com qualidade e eficácia, estes laços, contactos e colaborações. É muito importante estarmos próximos”, enfatiza Paulo Moura.

Diretor da Clínica Universitária de Obstetrícia há quase três anos, Paulo Moura indica que a experiência tem sido boa e que o balanço da atividade desenvolvida é essencialmente positivo.

Quanto a desejos para o futuro no âmbito desta atividade, garante que o maior deles seria assistir à junção dos Serviços de Obstetrícia nos HUC e perto dos edifícios da FMUC no Polo das Ciências da Saúde.

“Como disse, gostava muito de assistir a esta unificação, tanto pela articulação com as outras áreas clínicas, como pela articulação com a ciência básica. Temos muitas colaborações com investigadores que cá vêm buscar materiais para os seus trabalhos. Era mesmo importante que esta junção acontecesse o quanto antes, porque, considerando o trabalho e a atividade destes Serviços, o resultado dessa junção só pode ser muito bom”, conclui.


por Luísa Carvalho Carreira
fotografias Arquivo FMUC