O que me fez ingressar no Mestrado em Investigação Biomédica foi o sentimento de perda. Mal sabia eu o que era uma célula, quanto mais como lidar com a morte, quando, com 11 anos, sofri a perda da minha avó, que foi devastadora e que até hoje me marca. Depois de uma longa luta contra o cancro, a minha avó acabou por sucumbir à doença. Apesar do processo penoso, que passa pela quantidade de tratamentos e desgaste físico associado ao seu diagnóstico clínico, a minha avó sempre demonstrou uma grande vontade de viver, permanecendo muito ativa e com uma alegria contagiante até ao fim. Desta forma, a morte dela veio como um choque, numa idade na qual eu não tinha maturidade para compreender esta doença. Consequentemente, prometi a mim mesma que iria lutar para tentar que outras pessoas não sofressem como ela sofreu nem sentissem a impotência que eu senti.
Na altura não sabia que existiam outras hipóteses onde pudesse contribuir sem ser através da área de Medicina, sendo que foi esse o meu primeiro foco. No entanto, após bastante deliberação, apercebi-me que essa não era a minha vocação, ao mesmo tempo que descobri que havia outras formas de ajudar que se adequavam melhor ao meu caráter. Com alguma ajuda da orientação vocacional proporcionada pela minha escola, aprendi que o combate às doenças começava pela sua compreensão e estudo aprofundado laboratorial sobre os seus mecanismos de ação. Nesse momento, o meu foco alterou-se e acabei por decidir ingressar na Licenciatura em Bioquímica, uma vez que me proporcionava uma educação abrangente sobre as ciências biológicas, o que me permitia aprofundar melhor aquilo de que eu efetivamente gostava e para o qual poderia contribuir. Ao longo da licenciatura, tive contacto com várias áreas que me interessaram, no entanto, o fascínio sobre o funcionamento da doença oncológica sempre me cativou particularmente, cimentando assim a minha vontade inicial.
Ao descobrir que o Mestrado em Investigação Biomédica oferecia uma especialização em Oncobiologia, não tive dúvidas quando chegou o momento de escolha.
Estando neste momento no 1º ano do Mestrado, numa altura decisiva da escolha de tema de dissertação, espero poder manter a promessa que fiz a mim própria em criança, contribuindo ativamente para a evolução científica nesta área e, possivelmente, ajudando gerações futuras.
Beatriz Salgado é estudante do Mestrado em Investigação Biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Ilustração por Ana Catarina Lopes