A dieta mediterrânica no combate à obesidade juvenil

Isto é FMUC

Inserido na iniciativa PRIMA - Partnership for Research and Innovation in the Mediterranean Area, um programa da União Europeia destinado à procura de soluções de Investigação e Inovação na área do Mediterrâneo, o consórcio internacional MED4Youth, constituído por seis parceiros de cinco países, pretende avaliar a influência da dieta mediterrânica no combate à obesidade de crianças e adolescentes em Espanha, Portugal e Itália, que tenham entre os 11 e os 17 anos de idade.

Em Portugal, este estudo clínico está a ser desenvolvido e implementado por uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica (iCBR) e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), liderada por Maria Filomena Botelho, em parceria com o Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).


Um estudo multicêntrico
É a primeira vez que um estudo clínico deste âmbito é realizado com participantes de diferentes países do Mediterrâneo. Envolvendo crianças e adolescentes de Espanha, Portugal e Itália, o principal objetivo do estudo consiste em demonstrar como uma intervenção baseada na dieta mediterrânica é eficaz contra a obesidade juvenil e revelar os mecanismos pelos quais esta dieta exerce possíveis efeitos benéficos.

Para tal, o MED4Youth pretende envolver 240 participantes dos três países – 80 por cada país integrante – que seguirão esta dieta ao longo de quatro meses. “Teremos um grupo de controlo sujeito a uma dieta de restrição calórica, que será depois comparado com o grupo que vai seguir a dieta mediterrânica”, indica Salomé Pires, uma das investigadoras deste projeto.

Conforme indicam a investigadora Margarida Abrantes e o bolseiro de doutoramento do projeto Ricardo Teixo, até ao final do próximo mês de janeiro o MED4Youth encontra-se na fase final de recrutamento, que teve início no passado mês de maio.

“Convém salientar que é o próprio projeto que fornece os principais alimentos a incluir nesta dieta, por forma a não aumentar o encargo financeiro das famílias”, ressalva Salomé Pires.


Os cinco principais alimentos e a metodologia do projeto
Azeite, sumo de romã, frutos secos, grão-de-bico e pão de fermentação lenta: são estes os cinco principais alimentos que estão na base da dieta mediterrânica que são utilizados no âmbito deste projeto.

Depois de a família conceder a autorização para que a criança ou adolescente participe no estudo, estes passam a ser acompanhados pela equipa de nutrição, recebendo um plano alimentar e respetivo aconselhamento, bem como pela equipa médica e pelos Serviços de Enfermagem do Hospital Pediátrico do CHUC.

























“Os participantes são seguidos durante quatro meses. No início, no meio e no fim desse tempo, fazem visitas ao hospital para consultas de seguimento. Para além do plano alimentar que estas crianças e adolescentes devem seguir, são também recolhidos dados antropométricos e feitas colheitas de amostras biológicas para posterior análise”, explica Salomé Pires.

“Os participantes preenchem também questionários no âmbito deste estudo, que são depois processados pelas várias equipas de investigação que integram o consórcio MED4Youth”, complementa.


Um projeto científico, mas também de promoção da literacia em saúde
Este projeto teve início em dezembro de 2018. Devido à pandemia de COVID-19, acabou por ver o seu prazo estendido, estando prevista a sua conclusão para novembro de 2023.

Numa fase inicial do projeto, foi desenvolvida a MED4Youth App, uma aplicação móvel que contém dicas personalizadas para melhorar os hábitos de saúde e alimentação, questionários e jogos para promover a literacia nutricional e alimentar, receitas diárias para preparar refeições nutritivas e conteúdos sobre a dieta mediterrânica.

“É também nessa aplicação que os participantes devem fazer o registo alimentar nos três dias anteriores à consulta médica. No fundo, é uma forma didática e lúdica de os participantes nos fornecerem a informação de que precisamos para a nossa investigação, e de os pais terem também acesso a receitas, dicas e conteúdos que lhes permitam apoiar os filhos de forma ativa”, observa Salomé Pires.

Como salientam Ricardo Teixo e Margarida Abrantes, este é, por isso, um projeto com duas componentes que acabam por funcionar em paralelo: a científica e a pedagógica, de promoção da literacia em saúde.


As instituições e pessoas envolvidas
Liderado pelo centro tecnológico Eurecat de Reus (Espanha), o consórcio MED4Youth é constituído ainda pela Universidade de Coimbra (UC, Portugal), pela Universidade de Parma (Itália), pelo Shikma Field Crops (Israel), pelo Centro Científico de Alimentos (Jordânia) e pela Novapan (Espanha).

Na FMUC, e para além da líder do projeto, Maria Filomena Botelho, e dos investigadores Margarida Abrantes, Salomé Pires e Ricardo Teixo, o projeto conta também com a colaboração de Paulo Matafome e Raquel Seiça (iCBR-FMUC). Do Hospital Pediátrico do CHUC, integram este projeto médicos do Serviço de Cardiologia Pediátrica António Pires, Maria Emanuel Amaral e Paula Martins, do Serviço de Pediatria Ambulatória Raquel Soares e Maria João Lomelino, e do Serviço de Nutrição e Dietética a nutricionista Nanci Baptista.

“Da parte da UC, e mais concretamente aqui na FMUC e iCBR, é o Instituto de Biofísica que tem a cargo a gestão do projeto”, indica Salomé Pires. “Somos nós – eu, a Professora Filomena, a Professora Margarida e o Ricardo – que tratamos de toda a parte das encomendas e entregas dos alimentos, bem como da coordenação da investigação com o restante consórcio”, acrescenta.

“Já no Instituto de Fisiologia, Paulo Matafome e Raquel Seiça são as pessoas responsáveis pelo processamento das amostras que serão analisadas em Portugal”, refere.


O impacto esperado e a participação no estudo
Relativamente aos resultados esperados com o desenvolvimento do MED4Youth, Salomé Pires realça que estes têm sido essencialmente positivos. “Temos participantes que já terminaram o estudo, e que tiveram efetivamente uma perda de peso, embora seja necessário referir que isso não se verificou em todos os participantes que já concluíram a sua participação”, observa.

No entanto, apesar de poder não existir uma perda de peso, ou de esta não ser significativa, será necessário ainda analisar com maior detalhe todos os parâmetros biológicos e bioquímicos para perceber eventuais padrões ou identificar biomarcadores, conforme explicam Salomé Pires e Margarida Abrantes.

Com o processo de recrutamento de crianças e adolescentes ainda a decorrer em Portugal, os investigadores deste projeto na UC constatam que, infelizmente, há muitos pais e tutores que não parecem estar sensibilizados para a realidade da obesidade infantil e juvenil, nem para o risco acrescido de estas crianças e adolescentes virem a sofrer de doença cardiovascular.

Por isso, e considerando, igualmente, que nem todos os potenciais participantes reúnem os critérios de elegibilidade para inclusão, por norma apenas 50 por cento dos entrevistados acaba por integrar o estudo.

“O envolvimento das famílias e o comprometimento não só dos participantes, mas também dos seus pais ou tutores, são essenciais para o sucesso”, observa Ricardo Teixo. “Temos alguns bons exemplos nos quais os pais estão efetivamente a dar apoio aos filhos, e a fazerem por seguir a dieta juntamente com eles”, complementa.

Em Portugal, estão reunidos até ao momento 23 dos 80 participantes, pelo que pais ou tutores de crianças e adolescentes com obesidade que tenham entre os 11 e os 17 anos de idade poderão candidatar-se a este estudo clínico através do contacto com a líder do projeto em Portugal, Maria Filomena Botelho, para o e-mail mfbotelho@fmed.uc.pt.

Em cada país, o projeto MED4Youth é apoiado pelas seguintes instituições: ACCIÓ – Agency for Business Competitiveness (Catalunha), CDTI – Centro para el Desarrollo Tecnológico Industrial (Espanha), Israel Innovation Authority (Israel), MIUR – Ministero dell’istruzione, dell’università e della ricerca (Itália), FCT – Foundation for Science and Technology (Portugal) e SRSF – Scientific Research Support Fund (Jordânia).

Para mais informações acerca do MED4Youth, poderá ser consultado o website https://med4youth.eu/.


por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas pela equipa MED4Youth da Universidade de Coimbra