Fora da Medicina
Me chamo Márcio André Ferreira Sousa, sou treinador do Sport Club Conimbricense, o clube mais antigo da cidade de Coimbra e a primeira entidade que apostou no futebol de cegos em Portugal, nesta retomada da modalidade no País.
Esse projeto teve início no ano de 2019, com o deslocamento de jogadores que vinham de vários lugares do País, com intuito de conhecer e praticar o futebol de cegos. O primeiro treino aconteceu com 8 jogadores e 3 voluntários, no campo da Casa do Pessoal, em Coimbra. Em novembro de 2019, o Sport Club Conimbricense apostou no projeto, abraçou a causa e começou a realizar treinos uma vez por mês, sempre aos sábados.
O projeto cresceu, e deu margem para a criação de mais duas equipes (Porto e Lisboa), comprovando a aceitação da modalidade por parte dos seus praticantes e voluntários.
Existiram dois momentos de ápice da modalidade no País, que foram as realizações de duas competições de futebol de cegos, sendo uma internacional (Coimbra, 25/09/21) e outra nacional (Marco de Canaveses, 20/06/22).
Durante todo este percurso, o Sport Club Conimbricense foi base para competições, criação de clubes e até a formação da seleção nacional de futebol de cegos, que acabou sendo paralisada por falta de apoio, falta de interesse, falta de recursos. A direção do Sport Club Conimbricense, através de Zita Alexandre e seu presidente Carlos Ferreira, sempre estão disponíveis, sem medir qualquer tipo de esforço para oferecer a melhor estrutura possível para seus atletas e para o desenvolvimento desta modalidade em Portugal.
O futebol de cegos, assim como o futebol de 11, nunca será limitará apenas ao futebol. Seguindo o exemplo do desporto rei em Portugal, o futebol de cegos, além movimentar o paradesporto, mostrar as capacidades dos seus atletas e praticantes, ajuda no desenvolvimento de outras modalidades em Portugal, pois com a chegada desta modalidade (Futebol de cegos), outras modalidades como o Goalball e Showdown ganharam novos praticantes, que buscam, além do futebol, outras formas de se manter ativos e de competir com mais frequência, já que estas modalidades (Goalball e Showdown) tem apoio das entidades competentes em Portugal, enquanto o futebol de cegos não tem o apoio necessário.
Outros aspetos importantes são os inúmeros benefícios que esta modalidade traz para os seus praticantes, que vão desde a melhoria na autonomia, na capacidade de mobilidade, na interação social, assim como no combate ao sedentarismo tão evidente nestas populações menos assistidas.
Por fim, desenvolver o futebol de cegos, ou o paradesporto de maneira geral, não se traduz em um ato de caridade, generosidade ou de compaixão a determinadas populações, mas sim uma maneira de mostrar o quanto o ser humano é capaz e pode fazer, quando lhe damos uma oportunidade.
Márcio André Ferreira Sousa
Treinador do Sport Club Conimbricense