Do curso
de Medicina 

Alfredo Rasteiro (1936 - )

NOTA
o texto e imagens que se seguem são da inteira responsabilidade de Alfredo Rasteiro.

Conterrâneo do Serrão de Faria do «À Porta Férrea», Portugália, 1946 e do Nobel Saramago (1922-2010) Alfredo Rasteiro guarda, da sua infância, a ideia que o «Estado Novo» (em 1942-43) lhe transmitiu no primeiro dia de Aulas: o Crucificado no topo da Sala com um retrato de cada lado.

- Que olhas, meu menino?

- Vejo o Jesus, não sei quem é o bom nem o mau.

- O Óscar Carmona já está velho, não faz mal a ninguém. O outro é o que nos leva os cobres, sentenciou o professor Herculano de Oliveira Nuno.

E o António Maria contou à mamã Dona Ladi, nome da esposa do senhor Caetano, encarregada do Correio, que reportou à PIDE. E o professor Nuno, treinador do futebol na Casa do Povo, foi obrigado a mudar de terra. E o menino Alfredo ficou em casa, até ao ano seguinte.

Concluída a primária em três anos, seguiu-se o ensino liceal em Lisboa e a inscrição em Coimbra (1953). Co-fundador, aluno e professor de Anatomia artistica no Círculo de Artes Plásticas da Associação Académica, publicou artigos na Via Latina. Apresentou uma dissertação desesperada, e premonitória: “Introdução à Cirurgia de Feridas por Armas de Fogo e por Deflagração de Explosivos (Algumas Feridas de «Guerra» em tempo de «Paz»)”, 1960.

Juntamente com 342 colegas de Coimbra, Lisboa e Porto, em 1 de abril de 1960 entregara uma petição no Ministério da Educação Nacional solicitando que o tempo gasto na elaboração da «Tese» fosse aproveitado a aprender a observar e a tratar doentes e traumatizados (A. Rasteiro: «Ave Thesis, morituri te salutant!», Via Latina, nº 114, pp. 1-2, 4-4-1960)

No final de agosto de 1960 dirigiu-se a Mafra, ingressou na Escola Prática de Infantaria, em Lisboa teve aulas num Anexo da Basílica da Estrela e, em Fevereiro de 1961, foi recebido no Esquadrão de Carros de Combate do Regimento de Cavalaria 8, em Santa Margarida.

De maio de 1961 a abril de 1963 alferes miliciano médico no Norte de Angola, foi médico do Hospital da Misericórdia da Golegã e da Casa do Povo de Azinhaga no verão de 1963 e em 11 de novembro iniciou o estágio de Oftalmologia nos Hospitais da Universidade de Coimbra (Prof. António Manso da Cunha Vaz).

Oftalmologia era um mundo novo completamente desconhecido, uma Especialidade com uma vertente eminentemente cirúrgica em franco progresso, com microscópios operatórios e fios de sutura dez zeros, desafio a não perder»

Especialista em Oftalmologia pela Ordem dos Médicos desde 1967, «Assistant étranger» na U.E.R. Medicale Grange-Blanche, Hopital Edouard-Herriot, Université Claude-Bernard, Lyon, desde 15 de outubro de 1972 a 20 de março de 1973, concluíu o Doutoramento em Ciências Médicas (Oftalmologia) em 1979, na Universidade de Coimbra.

Iniciou a prática da Microcirurgia oftalmológica em Portugal em 6 de Março de 1977 e estudou as primeiras correlações clinicopatológicas oftalmológicas identificadas em Portugal. Entre os primeiros casos que publicou, mostrou depósitos pericorneanos nas paramiloidoses de tipo Corino de Andrade com anestesia da córnea, encontrou uma distrofia não reticulada da córnea (forma macular) numa amiloidose generalizada e tratou um caso de distrofia simultâneamente granular e macular, num Sindroma de Scheie (Mucopolisacaridose IS). A par desta actividade clínico-cirurgico-patológica, assistencial, laboratorial e de ensino, com introdução e transmissão de novos conhecimentos desenvolveu, em colaboração com a Clínica de Dermatologia (Prof. Doutor António Poiares Baptista), alguma Cirurgia plástica e reconstrutiva palpebral, inovadora, necessária à integridade palpebral, e à Visão.

Depois de 2006 colabora com as Direcções da Faculdade no estudo e inventariação do Acervo Histórico.

por Alfredo Rasteiro
fotografias por Alfredo Rasteiro