Estamos no outono, tantas vezes reduzido, injustamente, a uma época de transição entre o verão, com sol, férias e divertimento, e o inverno, com convite ao recato, aconchego e reflexão. Mas o outono é muito mais do que um período que pretende amenizar as dicotomias sol-chuva, calor-frio, alegria-melancolia, descanso-labuta. O outono é mais do que uma passagem entre o ambiente colorido variado e garrido do verão e a monotonia cinzenta do inverno. No outono, há uma sincronia de cores e narrativas que incitam à introspeção num ambiente de conforto e serenidade. O outono é a altura de mudança e renovação, é o momento de as folhas mudarem de cor e caírem, para darem o seu lugar a outras que irão nascer, permitindo assim perpetuar a sua existência. As folhas pedidas pelas árvores passam a enfeitar o chão, num manto colorido que se estende à nossa passagem, até que o vento se lembre de as levar para outras paragens. É, por isso, o outono um período de criação e crescimento, com a substituição de elementos velhos por outros novos, mais fortes e capazes de ajudar a enfrentar os desafios das novas estações. Os dias são mais pequenos, o que obriga a que sejam vividos com mais intensidade e entusiasmo. É ainda altura de ir aos baús, há tanto fechados e esquecidos, recuperar roupas e memórias de tempos passados e que, agora, voltam a estar atuais e ansiosos por uma nova vida. O outono propicia momentos de grande paz e harmonia, ao apropriar-se de algum do sol ameno de verão que é depois salpicado com alguns pingos de chuva roubados ao vizinho inverno. No outono há ainda dias solarengos perdidos, a lembrar o verão que há pouco vimos partir, que se intrometem nos dias de chuva, envoltos numa onda de crença e misticismo, que podem mesmo adquirir o estatuto de verão, como é o verão de São Martinho.
Imbuídos do espírito de partilha, solidariedade e comemoração, realizar-se-á, no próximo dia 10 de novembro, o magusto iCBR-FMUC, para o qual todos estão convidados a comparecer. Por tudo isto, e porque vivemos num lugar onde ainda temos o privilégio de sentir o que é ser outono, vamos aproveitar e desfrutar de tudo o que a vida na rua, ao ar livre, nos proporciona. Coimbra é uma cidade de eleição para se poder viver e conviver num cenário de cor, cheiro e ambiente outonal.
Nesta versão de outono da Voice*MED, conheça, através da voz de Fernando Regateiro, Professor Jubilado da FMUC, como, para além da genética, uma aldeia inteira é importante para educar uma criança. Em 4´33´´, vamos conhecer a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, através da sua presidente, Cristina Vaz de Almeida, e perceber como devemos desenhar as estratégias de comunicação, assentes no princípio de que o “cérebro não vê a não-ação”. Em Isto é FMUC, Ricardo Leitão explica-nos o seu plano para uma nova abordagem no tratamento do Traumatismo Cranioencefálico, que passa por evitar que as células do sistema imunitário cheguem ao cérebro após a lesão. Visitamos, em “Fora da Medicina”, o Quarto de Van Gogh, no Salão da Frida Kahlo, onde encontramos um espaço de multicultural, dos mais instagramáveis da cidade de Coimbra. Em "Lucerna", fique anestesiado com o testemunho de Ana Bernardino, uma estudante de Doutoramento da FMUC, e saiba como o seu sonho de ser astronauta se mantém bem vivo na sua atividade diária, ao tentar diminuir a dor e sofrimento dos seus doentes. Por fim, a prescrição de Mafalda Laranjo leva-nos para universos que se ligam por histórias de amor, ternura e sensualidade.
Henrique Girão