Lucerna

Pedirem-me para falar sobre o meu percurso académico ou para definir um momento marcante é um verdadeiro desafio para mim. Mas nunca será um desafio tão grande como o meu próprio percurso. Na realidade, se contassem à Beatriz de 18 anos que, 10 anos depois, estaria a meio do seu doutoramento, ela nunca iria acreditar. Principalmente porque isso estaria longe de todos os seus planos de vida.

Para quem não me conhece, eu sempre fui uma pessoa que sempre viveu a sua vida a fazer planos. Sempre tive que ter bem definido qual seria o próximo passo a dar, para onde queria ir, o que queria fazer. O mais engraçado de tudo é que, quando o ‘’próximo passo’’ está realmente bem definido, a minha vida dá sempre uma volta de 180 graus, nada acontece como planeado e o destino mostra-me que afinal há caminhos mais interessantes e desafiantes. E, na realidade, toda a minha vida académica nada mais é que um conjunto de surpresas interessantes e desafiantes.

Há 10 anos entrei na Universidade de Coimbra num curso bem diferente do planeado, bem diferente daquilo que eu quis durante vários anos da minha vida. Tudo isto poderia ter corrido mal, pois o desânimo era bem grande. No entanto, um estágio mudou todos os meus planos. Foi neste momento que percebi a importância que um estágio pode ter no percurso profissional de qualquer estudante. Antes desse estágio, dizia que a última coisa que faria seria seguir para mestrado. Estou neste momento a meio do meu doutoramento. Irónico? Talvez sim, talvez não.

Esta foi apenas mais uma vez (talvez uma das mais importantes) em que o destino revirou todos os planos que eu tinha traçado e me trouxe um desafio ainda maior. Destino esse que, na realidade, foi movido por pessoas que acreditaram em mim, me motivaram e me mostraram que, mesmo quando podemos achar que estamos perdidos sem saber que opção tomar na vida, há sempre um caminho que pode ser mais interessante e apaixonante do que aquilo que algum dia pensámos. Depois disso, nunca mais larguei a investigação pois descobri algo que adoro fazer, que me desafia a cada dia e que me faz lutar para ser constantemente uma melhor profissional e uma melhor pessoa.

Afinal, quero acreditar que todos os desafios que enfrentamos na vida têm mesmo esse propósito: tornar-nos cada vez melhores. E é por isso que eu tenho a certeza de que este é só o início de um conjunto de ‘’planos não planeados’’ que a minha vida profissional tem para me oferecer.



Beatriz Martins é aluna do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes