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Pedro Machado 

Pedro Machado é presidente da Turismo Centro de Portugal desde 2006. Ao longo dos quase 16 anos no cargo, considera que foram muitos os momentos que marcaram a vivência no Centro de Portugal – como os incêndios de 2017 e a atual pandemia – mas que prefere reter na memória momentos mais felizes, como a atribuição de três galardões de melhor região de turismo nacional, o último atribuído este ano.


O turismo é considerado um dos setores mais afetados pela atual pandemia de COVID-19. Que impactos teve esta pandemia no turismo da região Centro ao longo dos últimos dois anos, e qual o cenário que se vive agora?
A pandemia de COVID-19 teve um impacto brutal na atividade turística em todo o mundo. O turismo é, na sua essência, uma atividade que não se coaduna com restrições de movimentos. Viajar é sinónimo de liberdade, de partir à aventura, de conhecer novas realidades, de contacto direto com outras pessoas. É uma experiência libertadora. A pandemia, devido aos confinamentos a que obrigou, forçou-nos ao comportamento oposto, a um comportamento contranatura: o de ficarmos fechados, por longos períodos, e evitando ao máximo os contactos com os outros.

Os últimos dois anos foram, assim, de depressão profunda da atividade turística. E esta crise apanhou-nos numa altura em que Portugal era um país recetor de turistas cada vez mais destacado, ganhando importantes prémios internacionais de “melhor destino do mundo”. Antes da pandemia, o ano de 2019 tinha sido o melhor ano de sempre para o turismo no país. E os primeiros dois meses de 2020, imediatamente antes da chegada do vírus, prometiam que esse ano seria ainda mais positivo.

Os efeitos, no entanto, não se fizeram sentir da mesma forma em todos os países e, dentro destes, em todas as regiões. A região Centro de Portugal, embora muito afetada, foi-o menos do que outras regiões nacionais. Isso deveu-se a dois fatores essenciais. Por um lado, o peso dos visitantes estrangeiros do Centro de Portugal é menor do que em regiões como o Algarve ou Lisboa, que sentiram de forma mais dramática o encerramento das fronteiras e dos aeroportos. Aqui, a maioria dos visitantes são os nossos concidadãos nacionais. O que leva ao segundo fator: no período de pandemia, quando era possível viajar, os portugueses escolheram o Centro de Portugal como destino preferencial, em especial nos territórios mais de interior e com menos gente. Tal aconteceu devido à perceção de segurança, de amplitude de espaço, de ar puro, de contacto com a natureza, que esses territórios transmitem. Os portugueses viram o Centro de Portugal como destino ideal para fugir à pandemia.

Essa tendência mantém-se este ano, pelo que tudo indica que houve uma mudança estrutural nos comportamentos. Atualmente, os turistas estão a privilegiar destinos com menos aglomeração de pessoas e isso é uma boa notícia para o Centro de Portugal.


Que novos desafios uma pandemia como a que vivemos coloca ao turismo?
Numa primeira fase, colocou desafios imediatos que se prenderam com a sobrevivência das empresas de atividade turística, que deixaram de ter receitas de um momento para o outro. Foi um cenário dramático. Pese embora os apoios disponíveis, muitas empresas não conseguiram aguentar o embate, tendo infelizmente encerrado.

As que persistiram, saíram da crise mais bem preparadas para desafios futuros. Não sabíamos era que esses desafios iriam aparecer tão rapidamente. A inflação e a escassez de recursos humanos que queiram trabalhar no turismo são novos e enormes obstáculos, que não permitem às empresas aproveitar convenientemente o aumento da procura pós-pandemia.

Aprendemos muito com a pandemia. De um dia para o outro, o turismo teve de se reinventar. As instalações de alojamento e restauração, por exemplo, tiveram de agilizar processos e implementar rigorosos procedimentos de higiene e segurança. Aprendemos que a digitalização é cada vez mais essencial na atividade turística, assim como aprendemos que a confiança dos visitantes só se conquista com a qualidade dos serviços, mais do que com os preços.


Hoje, quem visita a região Centro e faz férias aqui? Qual o perfil destes turistas?
Em 2019, ano de referência pré-pandemia, 56,3% dos visitantes da região foram turistas nacionais, oriundos do nosso país. Entre os estrangeiros, mais de 30% vieram de Espanha, país que consideramos o nosso mercado nacional alargado. Depois, com menor expressão, chegaram de França, Brasil, Alemanha, Itália, EUA e Reino Unido. Ainda não temos dados concretos sobre o ano corrente, mas não deverá ser muito diferente. No entanto, notamos com agrado a presença crescente de turistas de outros mercados, como o asiático ou o israelita.

Quem visita a região privilegia os territórios que oferecem segurança. Vem à procura de lugares diferentes, que permitam escapar à rotina e desfrutar do tempo livre na companhia dos familiares e amigos. Vem em busca das paisagens naturais, das praias fluviais e costeiras, da maior montanha de Portugal Continental, de locais para caminhadas relaxantes na natureza e de outras opções de turismo ativo e desportivo, mas também das aldeias do xisto e históricas, do património e cultura das cidades, dos Lugares Património da Humanidade, das tradições e costumes das gentes, dos caminhos da fé, protagonizados por Fátima e pela herança judaica na região, da gastronomia e dos vinhos da região…

Por norma, prefere alojamentos horizontais acolhedores, de menor dimensão, em vez de hotéis com grande volume. A tipologia de transporte preferido para chegar ao destino escolhido é o carro próprio, até porque esta é a única região do país que não é servida por um aeroporto.


E, no seu entender, quais são os pontos fortes do turismo nesta região?
O turismo de saúde é um deles?

Durante décadas, quem vinha a Portugal procurava sol e praia, o que limitava a atividade turística a três ou quatro meses por ano. Felizmente, as novas gerações de turistas procuram muito mais do que isso. São gerações mais informadas, mais conscientes, que procuram acima de tudo experiências enriquecedoras. O Centro de Portugal é uma região especialmente indicada para satisfazer as necessidades destes turistas.

O turismo ativo, o pedestrianismo, a natureza, a gastronomia, o património, a cultura e o turismo espiritual são produtos turísticos cada vez mais valorizados por quem viaja e o Centro de Portugal é um destino privilegiado nestes aspetos. Acima de tudo, o Centro de Portugal proporciona um verdadeiro luxo nos dias de hoje: poder relaxar no meio da natureza, com tempo, longe dos destinos massificados, enquanto se aprecia gastronomia de qualidade e bons vinhos.

O turismo de saúde é um dos produtos que identificámos com grande potencial de crescimento na região. O Centro de Portugal oferece excelentes condições a este nível. Desde logo, uma rede implantada de estâncias termais, com resultados terapêuticos comprovados em várias condições clínicas. As Termas de São Pedro do Sul, de Monfortinho, de Luso ou Curia, entre muitas outras, há séculos que atraem quem procura restabelecer-se de várias maleitas. Estas estâncias têm também a capacidade de proporcionar experiências muito positivas aos familiares e acompanhantes dos doentes, uma vez que estão inseridas numa paisagem envolvente atrativa.

Mas o turismo de saúde é hoje muito mais que a atividade termal. A região Centro de Portugal dispõe de unidades de saúde, públicas e privadas, de referência internacional. São muitos os doentes que chegam de outros países em busca de tratamentos. Apesar de já terem sido dados passos nesse sentido, falta ainda aumentar o foco na componente turística que pode ser proporcionada a estes viajantes e aos seus acompanhantes, como se faz noutros destinos. O turismo de saúde é um produto turístico que ainda não atingiu a maturidade de outras ofertas na região. Há aqui uma oportunidade.

É presidente do Turismo Centro de Portugal há quase 16 anos. Como surgiu o interesse por esta área profissional?
Este interesse surge na sequência de um desafio que me foi colocado por um conjunto de presidentes de Câmara, mas também por representantes do setor do turismo, em particular do alojamento, da restauração e das empresas de animação turística. Surge igualmente porque eu próprio, enquanto vice-presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, já tinha a competência e o pelouro da cultura e do turismo: tinha, por isso, alguma experiência consolidada no que diz respeito à gestão deste setor. O turismo é, obviamente, um setor pelo qual tenho particular apetência e simpatia. Ao longo dos anos, tenho vindo a aprumar o gosto pessoal por esta indústria. 

O turismo é por excelência um setor de relações, sociais e pessoais, e a partir daí também oferece a capacidade de podermos alcançar aquilo que é particularmente critico para os territórios, que é o estabelecimento de redes. Tudo isto foi possível consolidar ao longo do tempo e por isso sinto que nestes 16 anos conseguimos reforçar um conjunto de laços que fizeram crescer a Turismo Centro de Portugal, o que me apraz muito registar.


Há algum episódio, ao longo do já vasto percurso neste cargo, que tenha sido particularmente marcante para si? 
Há muitos momentos que seguramente marcaram a nossa vivência no Centro de Portugal. Alguns, em que a memória está mais fresca, prendem-se, infelizmente, com as catástrofes que assolaram o Centro de Portugal, em particular os incêndios dramáticos de 2017, que nos condicionaram na perceção da marca, que destruíram produto e equipamentos turístico, que destruíram vidas... Esse é um momento marcante nestes 16 anos. Em 2018, o furacão Leslie voltou a repetir esse episódio de destruição maciça de equipamentos turísticos, sobretudo na orla litoral. 

Mais recentemente, a pandemia veio pôr em causa tudo aquilo que nós procurávamos fazer quando desafiamos os turistas a visitar-nos. O Turismo é por definição a transferência de pessoas de um lugar para outro, em que a mobilidade é o pilar essencial. Quando ficámos restringidos de nos deslocarmos, foi um momento muito marcante. 

Mas prefiro reter na memória momentos mais felizes. Em 2015, conquistámos o estatuto de melhor stand nacional na Bolsa de Turismo de Lisboa. Por duas vezes consecutivas conquistámos o galardão de melhor região de turismo nacional, algo que nunca tínhamos alcançado antes – e esta distinção veio a confirmar-se novamente em 2022, sete anos depois. A par dos resultados positivos alcançados pela procura turística, estes são motivos de grande satisfação.


Na sua opinião, Portugal é um dos melhores destinos do mundo. O que o torna diferenciador e atrativo? 
Portugal reúne um conjunto de características que o tornam um destino preferido em todo o mundo. A começar pela segurança – Portugal é o sexto país mais seguro do mundo e o quinto da Europa, segundo o Global Peace Index 2022. Mas também o clima ameno, de norte a sul do país; a beleza natural e a diversidade das nossas paisagens; a gastronomia e os vinhos, que surpreendem todos os que nos visitam; as tradições das nossas aldeias; a oferta cultural das cidades. Dispomos de inúmeras características positivas, que outros países certamente têm, mas que poucos terão em simultâneo. 

E depois temos a cereja no topo do bolo: os portugueses. A afabilidade e a capacidade de bem receber quem nos visita são o nosso maior trunfo. E é este trunfo que faz voltar quem nos visita, uma e outra vez. 

por Luísa Carvalho Carreira
fotografias gentilmente cedidas por Pedro Machado 


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