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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Estudo alerta para complexidade da prescrição de fármacos em fim de vida


Sobre o estudo

Trata-se de um estudo retrospetivo, observacional, realizado de 1/08/2017 a 31/12/2018, numa Unidade de Cuidados Paliativos, Braga, em adultos doentes com necessidades complexas persistentes, que lá foram internados e faleceram, demográfica e clinicamente caraterizados, recorrendo aos processos clínicos como fonte de dados registados na admissão (T0) e no dia da morte (T1).

Em T0 e T1, contabilizou-se o número/classe de medicamentos (segundo a DCI), dose e via de administração, prescritos de forma regular (intervalos fixos) e em pro re nata (PRN- “fazer sempre que necessário”). As doses foram calculadas em mg/dia, as de opióides foram convertidas para dose equivalente de morfina oral, exceto o fentanilo sublingual. Os fármacos prescritos de forma regular, 32,4% T0 e 56,9% T1 são considerados pela International Association for Hospice and Palliative Care IAHPC como essenciais em Cuidados Paliativos (CP).

Mais de metade dos doentes em T0 estava polimedicada, média 8,01 fármacos fixos e 2,75 em PRN, tendo havido a diminuição significativa da prescrição para as comorbilidades e aumento da prescrição para controlo sintomático em T1. A classe de analgésicos opióides (77,3%), laxantes (74,8%) e antiulcerosos (68,9%) em T0, em T1 a classe de analgésicos opióides (84,8%), foi a mais prescrita.

Em T0 e T1, as vias de administração mais usadas para fármacos fixos foram a oral (vo), subcutânea (sc) e transdérmica. Os doentes com prescrição da via endovenosa, T0, provinham de internamentos hospitalares. A vo, mais usada em T0, foi progressivamente substituída em T1 pela via sc (T0,37,0%; T1 65,4%), tanto para fármacos em bólus como perfusão contínua, muitos administrados off-label, o que é um dos principais desafios da prescrição em CP, sendo desejável a sua padronização, para tornar o trabalho das equipes de CP mais seguro.

Por fim, este estudo demonstra a primazia na prescrição de fármacos com o objetivo de controlo sintomático em CP, que se vai acentuado com o aproximar da morte. Reforça-se ainda a noção de que em CP é de extrema importância antever problemas, reavaliar e readaptar constantemente os cuidados às novas necessidades, pelo que a terapêutica PRN ocupa a maioria das prescrições.