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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Nova abordagem
farmacológica no consumo
de drogas de abuso 

Sobre o estudo

O consumo de substâncias ilícitas (drogas de abuso) é um problema grave de saúde mundial, com um grande impacto social e económico. A metanfetamina, droga de abuso usada no estudo, é um psicoestimulante muito viciante e que lidera o mercado mundial das drogas sintéticas.

O consumo de substâncias ilícitas leva a alterações muito significativas em todos os órgãos, sendo o cérebro um dos mais afetados negativamente. No cérebro, a metanfetamina induz alterações fisiológicas significativas, tais como processos neuroinflamatórios, disfunção vascular, perda de função neuronal ou mesmo morte celular, que irão levar a transtornos comportamentais incluindo déficies cognitivos, depressão, ansiedade e problemas motores. 

Apesar do grande impacto do consumo destas substâncias, não existe até ao momento uma abordagem farmacológica que seja eficaz para impedir as alterações celulares, moleculares e comportamentais provocadas pelo consumo desta droga. Neste sentido, o mercado de produtos de origem vegetal como agentes terapêuticos tem aumentado muito significativamente nos últimos anos. Em particular, o partenolídeo (obtido da planta Tanacetum parthenium) está entre os compostos mais usados na medicina tradicional chinesa.

Assim, o objetivo do trabalho foi avaliar o potencial terapêutico do partenolídeo contra os efeitos nefastos da metanfetamina.


Resultados e impacto

Neste estudo usámos um modelo animal (murganhos) de exposição à metanfetamina que mimetiza o consumo observado em populações mais jovens, e que apresenta déficies cognitivos, problemas motores e alterações neuroquímicas semelhantes às observadas nos humanos.

Os nossos resultados mostraram que a metanfetamina induz uma resposta neuroinflamatória muito significativa no hipocampo do nosso modelo animal, com aumento de citocinas pro-inflamatórias e de moléculas de adesão (importantes no processo de invasão de células do sistema imunitário periférico para o cérebro), bem como stresse oxidativo, alterações vasculares e edema cerebral. De referir que a região do cérebro estudada, o hipocampo, tem uma função crucial na formação de novas memórias, estando também associada a comportamentos do tipo depressivo.

Estudámos também o efeito da metanfetamina nos astrócitos, células da glia com funções importantes no cérebro tais como o suporte à atividade neuronal bem como à manutenção da estrutura e função da vasculatura cerebral. Curiosamente, observámos uma disfunção muito significativa destas células com uma diminuição da cobertura dos vasos, levando a um enfraquecimento da barreira hematoencefálica

No grupo dos animais tratados com o partenolídeo houve uma prevenção muito significativa dos efeitos nefastos da metanfetamina, o que sugere que o uso deste composto é uma nova abordagem farmacológica promissora no contexto do consumo de drogas de abuso.


Ana Paula Silva


European Journal of Clinical Investigation
The effect of parthenolide on methamphetamine-induced blood-brain barrier and astrocyte alterations


Fotografia de Mishal Ibrahim @ Unsplash