Recentemente ouvi que fazer Ciência é um sentimento! Um sentimento que nos mantém constantemente curiosos, um sentimento de contribuir para uma sociedade melhor, um sentimento de entusiasmo com a forma como o mundo funciona.
Quando me perguntaram qual o momento que foi decisivo para eu seguir ciência e estar aqui hoje, demorei bastante tempo a pensar sobre esse assunto. E na verdade não consigo identificar um momento, mas sim pessoas. Várias na verdade, família, amigos, colegas, professores e orientadores. Todos eles contribuíram para que eu hoje pudesse estar aqui. Pela forma como encaram o mundo, como veem a beleza das coisas simples, e o entusiasmo pela forma curiosa como a Ciência funciona.
Ao longo da minha vida, tenho tido o privilégio de conviver com as pessoas certas, pessoas que partilharam comigo o entusiasmo pela descoberta, que me motivaram a querer saber mais. Pessoas que me mostram que uma descoberta tão simples como perceber como é que uma proteína vai do local X para o local Y pode beneficiar a vida de alguém.
Querer identificar um momento que me tenha colocado aqui hoje, fez-me refletir sobre como a vida dá muitas voltas. Quando olho para trás vejo uma desatenção, um pequeno detalhe que influenciou o percurso que eu tinha pensado na altura. Quem me conhece sabe que são desatenções "à Maria", coisas que só me acontecem a mim. De facto, um pequeno detalhe custou-me a entrada no curso que eu queria. Mas agora, olhando para trás, e depois de muitas decisões, algumas bastante pensadas e outras tomadas por instinto, reparo que estou exatamente no sítio que queria estar quando defini aquele percurso. Portanto, ainda bem que naquele dia não reparei naquele detalhe, porque, no final, por um caminho diferente eu vim ter exatamente onde queria.
Como a vida dá muitas voltas, acho que o mais importante é rodearmo-nos das pessoas certas, de "gigantes", aqueles que acreditam e nos motivam a fazer mais e ser mais, ser a melhor versão de nós próprios.
No final não tenho um único momento para contar, apenas que partilhar o nosso dia-a-dia com determinadas pessoas, faz com que aquele sentimento de curiosidade, descoberta, de contributo não desapareça. Afinal, ao fim de muitos anos, o sentimento de entusiasmo por levarem um coração de porco para uma aula de 9.º ano para nós vermos permanece, mas agora por células cardíacas a baterem num prato de cultura.
Maria Cardoso é aluna do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Ilustração por Ana Catarina Lopes