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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Investigação compara
pela primeira vez o funcionamento neural da Teoria da Mente na esquizofrenia
e na doença bipolar 


Sobre o estudo

Este artigo originou-se nos trabalhos doutorais do primeiro autor, integrando uma equipa multidisciplinar da FMUC constituída por psiquiatras do Instituto de Psicologia Médica (Nuno Madeira e António Macedo) e cientistas do CIBIT - Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (Ricardo Martins, João Valente Duarte, Gabriel Costa e Miguel Castelo-Branco). 

Embora o autismo constitua o paradigma da patologia do ‘cérebro social’, têm sido demonstradas anomalias da cognição social em indivíduos com outros problemas de saúde mental; neste trabalho, foi pela primeira vez comparado o funcionamento neural da Teoria da Mente (TdM) em duas doenças mentais graves - a esquizofrenia (SCZ) e a doença bipolar (BPD) – com recurso a ressonância magnética funcional.

Embora existam muitas semelhanças biológicas e clínicas entre estas doenças – o que torna difícil o diagnóstico diferencial nas suas fases iniciais – foram encontrados biomarcadores muito distintivos em regiões cerebrais importantes para a nossa “inteligência emocional”, em particular na região do giro supramarginal direito. Uma análise imagiológica funcional da atividade neural da junção temporoparietal permitiu identificar, em doentes SCZ e BPD, padrões de resposta a TdM opostos entre si, e diferentes dos controlos: hipoativação e hiperativação do giro supramarginal direito, respectivamente.


Resultados e impacto

Apesar do enorme impacto da disfunção cognitiva social no funcionamento e qualidade de vida dos doentes com SCZ e BPD, é ainda escasso o conhecimento sobre os seus mecanismos neurais, sendo também praticamente inexistentes as terapias disponíveis. Neste trabalho verificámos que, embora quer SCZ quer BPD se caraterizem por dificuldade significativa na cognição social, esta acontece tendo por base padrões neurais divergentes numa região charneira do cérebro social.

Os padrões de activação contrastante encontrados a nível da junção temporoparietal ilustram diferenças mecanísticas da disfunção cognitiva social em SCZ e BPD, sendo potencialmente exploráveis como marcadores diagnósticos, nomeadamente em situações particularmente desafiantes na prática clínica: são exemplo as fases iniciais de doença mental grave, como um primeiro episódio psicótico.

As diferenças específicas encontradas neste estudo poderão ainda permitir personalizar intervenções neurocognitivas em doentes, suportando ensaios clínicos de neuromodulação específica (p. ex. estimulação magnética transcraniana facilitadora ou inibitória) dirigidos aos diferentes perfis neurais encontrados em doentes com SCZ ou BPD.


Nuno Madeira


Neuroimage: Clinical
A fundamental distinction in early neural processing of implicit social interpretation in schizophrenia and bipolar disorder


Fotografia de StockSnap @ Pixabay


 

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