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Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Doentes em consulta com médico sem bata branca sentem maior facilidade na comunicação


Sobre o estudo

Vários estudos em outros países demonstraram que a bata branca parece ter influência na relação médico-doente, mas em Portugal não existiam dados publicados relativos a este tema, nomeadamente em contexto de cuidados de saúde primários. 


Por isso, fez-se um trabalho para perceber qual a influência do uso de bata branca ao nível da satisfação, confiança e empatia na relação com os doentes e ainda o seu impacto no que os doentes percecionam acerca dos conhecimentos médicos, a opinião dos doentes quanto ao vestuário médico e qual o nível de satisfação e conforto dos médicos em consulta com ou sem uso de bata branca. Fez-se uma avaliação após exposição ao uso de bata branca ou não pelo médico de família, numa amostra quase-aleatória representativa da população que frequenta os centros de saúde pertencentes à ARS Centro, constituída por 286 participantes. 


Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos a nível da satisfação, confiança, empatia e conhecimentos percecionados pelos doentes. Já quando o médico estava vestido com bata, esse grupo de doentes tendia a achar que este era o único vestuário aceitável para este, mas quando este se encontrava em consultas sem bata, esse grupo de doentes tendia a concordar com o facto de haver mais facilidade na comunicação dessa forma.


Resultados e impacto

Concluímos que o vestuário médico não foi considerado uma barreira na relação médico-doente, não tendo demonstrado, neste estudo, influência significativa na satisfação, confiança, empatia e conhecimentos médicos percecionados pelo doente, nem na satisfação e conforto do médico, em contexto de cuidados primários. Acaba por se tornar difícil definir quão importante é para os doentes o vestuário quando comparado com a elevada confiança, empatia, prestabilidade, delicadeza, capacidade de ouvir e de se fazer entender pelos doentes, sendo que neste contexto será mais importante a relação estabelecida com um médico de família que acompanha ao longo do tempo do que o seu vestuário. 


Ainda assim, parece importante aprofundar esta investigação já que o vestuário, mesmo que não seja o mais importante na relação médico-doente, seria mais facilmente alterável do que personalidade e até a capacidade de empatia de um médico. E, de facto, os utentes que foram expostos a consultas com médico sem bata branca, algo que não era habitual, sentiram uma maior facilidade na comunicação. Este estudo poderá ser um ponto de partida para outros tanto numa perspetiva de o alargar para a realidade do nosso país, como fazer uma avaliação em exposição cruzada, ou seja, o mesmo grupo de doentes serem avaliados numa consulta com bata e numa sem bata branca, e ainda abordar o tema em outras áreas da medicina, nomeadamente áreas que se enquadrem em cuidados hospitalares.


Inês Rosendo


BMJ Open
Does the white coat influence satisfaction, trust and empathy in the doctor-patient relationship in the General and Family Medicine consultation? Interventional study


Fotografia de Sasun Bughdaryan @ Unsplash