Lucerna

Serendipity

Serendipidade, serendiptismo ou serendiptia são anglicismos da palavra serendipity, que remete para descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso. Este palavra foi introduzida na língua inglesa em 1754, como um neologismo, pelo escritor britânico Horace Walpole, tendo como base a adaptação de conto de fadas persa chamada “Os Três Príncipes de Serendip”. Este conta a história de três príncipes do actual Sri Lanka que, por um misto de sorte e inteligência dedutiva, fazem uma séria de descobertas felizes que acabam por permitir a descoberta de um camelo perdido, e assim cair nas boas graças do seu pai, o rei Giaffer.

A história da ciência e da medicina está cheia de episódios que podemos classificar como serendipidade: a descoberta da penicilina por Flemming, a descoberta do Raio X por Röntgen, e, mais recentemente na área clínica que conheço melhor, a utilização do sildenafil como tratamento revolucionário para a disfunção eréctil - um efeito descoberto por acaso durante um ensaio clínico para a angina de peito. E muitos outros.

A nossa própria vida contém momentos de serendipidade, e muitos de nós conseguem olhar para trás e identificar um ou dois momentos fortuitos que, surgindo sem aviso, acabam por determinar o curso da nossas vidas pessoais, académicas e profissionais. Frequentemente, perco-me no fascínio de pensar que, não obstante toda a cautela e premeditação das nossas escolhas e percursos, a vida acaba por ser derradeiramente direccionada pelas forças do acaso. Sei porém que, na verdade, a forma como estes acontecimentos influenciam as nossas vidas depende muito mais da nossa capacidade de tirar partido do acaso do que da sua ocorrência propriamente dita! Quantas vezes não desvalorizamos pequenos factos que poderiam constituir questões científicas relevantes? Quantas vezes não desperdiçamos oportunidades que mais tarde verificamos que que tinham sido úteis e irrepetíveis? Quantas vezes não nos furtamos a uma oportunidade que poderia mudar as nossas vidas?

Saber tirar partido do acaso – com conhecimento prévio e abertura de espírito – é um atributo essencial a qualquer pessoa da ciência. Há que estar pronto a receber o que a sorte nos traz, pois como dizia Louis Pasteur, “o acaso só favorece a mente preparada”.


Frederico Furriel é médico urologista e estudante do Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. 

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Ilustração por Ana Catarina Lopes