Editorial


Antes de mais, embora estejamos já próximos do final de janeiro, permitam-me que vos deseje ainda um excelente 2022, com muita saúde e pleno de alegrias e conquistas. Os últimos tempos, do ano que terminou, foram difíceis pelo receio que se voltou a apoderar de nós, reacendendo o sentimento de fragilidade e impotência perante uma enfermidade que parece resistir à partida. No entanto, não podemos baixar a guarda e, acima de tudo, não podemos perder a esperança num regresso rápido à normalidade, que há tão pouco regia as nossas vidas e emoções. Por isso agora se deseja, “Novo ano...vida antiga!” 


Mas porque a vida não se esgota na pandemia, este novo ano queremos também que nos traga vida nova. É o caso do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), uma estrutura da FMUC, que conta com uma nova Direção. O iCBR é um instituto interdisciplinar que reúne clínicos e investigadores, com o objetivo de encontrar resposta a problemas associados ao aparecimento e desenvolvimento de doenças. Para tal, primeiro é necessário perceber, recorrendo a modelos simples como células ou modelos animais, como é que os sistemas biológicos funcionam e de que forma a sua desregulação contribui para a doença. Depois, fazendo uso dessa informação, e em estreita colaboração com a comunidade clínica, podemos desenhar novas formas de tratamento ou diagnóstico, que interfiram com esses mecanismos. Por aqui facilmente se entende a necessidade de existir uma interação, com a partilha de ideias e conhecimentos, entre clínicos e investigadores, para que as novas descobertas possam beneficiar os doentes. É tudo isso que eu ambiciono ver implementado no iCBR, um “espaço” que promova a troca de ideias, que fomente a discussão, que estimule a emergência de projetos colaborativos inovadores e disruptivos, aproximando comunidade clínica e investigadores, ao mesmo tempo que tira proveito da complementaridade de competências e recursos existentes entre estas duas dimensões da investigação em (bio)medicina. É a existência de um conjunto de clínicos de excecional qualidade que me ajuda a alimentar este sonho, de fazer do iCBR uma unidade de investigação de excelência, de acordo com os mais exigentes padrões de qualidade a nível internacional. E isto é possível! Para além da qualidade, das competências e dos recursos, para sermos bem-sucedidos nesta aventura precisamos de gente motivada, empenhada e dedicada. Porque a tarefa não se avizinha fácil, e dos fracos não reza a história, é necessária também uma grande dose de coragem, ousadia e perseverança, em todos os que se disponibilizarem para este desafio. Só uma equipa unida, coesa e solidária pode almejar atingir estes ambiciosos objetivos. O que nos pode faltar em recursos materiais, sobra em potencial humano, “só” temos que capitalizá-lo. E porque a ciência já não se faz mais para as pessoas, mas com as pessoas, temos que abrir as portas à sociedade civil, e convidá-la a entrar. É essa também a missão de uma Escola Médica, preparar os cidadãos para os problemas, desafios e oportunidades que o avanço científico e tecnológico oferece. Temos que descer do nosso pedestal e, de pés bem assentes na terra, aproximarmo-nos da sociedade, para perceber as suas inquietudes, os seus anseios, as suas expetativas, disponibilizando os nossos vastos e qualificados recursos para ajudar a resolver problemas que assolam e atormentam as pessoas. O crédito de confiança que a ciência tem, hoje, junto dos cidadãos deve ser aproveitado para sustentar esta aproximação. Em suma, acredito, convictamente, que há razões para ter esperança num futuro pleno de sucessos e conquistas, bastando para isso unir esforços, congregar vontades e deixar que o caminho possa ser percorrido em conjunto.


Nesta Voice*MED, temos um elenco de luxo, com tantas histórias para partilhar. Em 4´33´´, Duarte Nuno Vieira abre-nos as portas da Academia Nacional de Medicina de Portugal e dá a conhecer os planos para o seu mandato enquanto Presidente desta associação científica e cultural. Nesta conversa são também desvendados alguns segredos para garantir a segurança e sobrevivência, em missões arriscadas e perigosas, em cenários de guerra e tortura. Massano Cardoso, em “Do Curso de Medicina”, conta como foi o encontro inesperado com Oliveira Salazar, num jardim da sua casa, e como foi a sua primeira ida a tribunal, ainda criança, por sua exigência, a pedir justiça. Para provar que na FMUC também há empreendedores de sucesso, em “Isto é FMUC” damos a conhecer um produto inovador, que pode revolucionar a experimentação animal, desenvolvido por Sofia Viana e sua equipa. Não perca e fique a saber como um pequeno comprimido pode mudar a vida dos animais de biotério. Em “Fora da Medicina”, apresentamos a Cátedra da UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Coimbra, que constitui mais uma demonstração inequívoca do compromisso da nossa Universidade em relação a uma estratégia de sustentabilidade do nosso planeta que assegure o equilíbrio dos sistemas que suportam a vida. Em “Lucerna”, Frederico Furriel diz-nos como Os Três Príncipes de Serendip e a descoberta de um camelo mudaram a sua vida. Por fim, Raquel Santiago, Coordenadora do Biotério da FMUC, prescreve um conselho sensato, “Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais.”


Henrique Girão


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