Investigação sugere importância de estratégias para a inclusão social de jovens adultos com autismo
Sobre o estudo
Os défices ao nível do funcionamento executivo são comuns nas pessoas com autismo, tendo um impacto significativo na execução de tarefas quotidianas que envolvem competências mais complexas como a cognição social, um dos sintomas centrais no autismo. O conhecimento destas características constitui um valioso contributo para compreender as dificuldades cognitivas e funcionais destes indivíduos.
Este trabalho pretendeu investigar a associação entre o funcionamento executivo e a cognição social através do estudo do desempenho comportamental e do padrão de movimentos oculares na execução de uma tarefa que dispunha de pistas sociais e não sociais, com validade ecológica e orientada para objetivos. Esta requeria que o participante fizesse uma compra no supermercado, uma atividade do dia-a-dia que implica o recrutamento de funções cognitivas superiores, recorrendo à ajuda de avatares ou setas (ou sem ajuda).
Neste estudo, verificámos que o contexto e o tipo de tarefa a executar têm reflexo na alocação da atenção nas pessoas com autismo. Os défices de atenção podem ser minimizados através do uso de estratégias de ação focadas em objetivos com o recurso a pistas orientadoras, destacando a importância do contexto, mais ou menos estruturado, e do esforço cognitivo exigido em cada tarefa no desempenho obtido.
Resultados e impacto
Este estudo foi o primeiro a avaliar o impacto da alocação da atenção e funções executivas com pistas sociais e não sociais com diferentes saliências num contexto ecológico de uma tarefa da vida diária nos indivíduos com autismo.
Os nossos resultados ajudam a melhorar a compreensão das características cognitivas dos adolescentes e jovens adultos com autismo, pois demonstrámos que nestes doentes existe um compromisso na execução da tarefa ecológica, tanto na presença de pistas contextuais sociais como não sociais.
Concluímos que estes défices podem ser ultrapassados se definirmos objetivos concretos e dirigirmos as ações usando pistas explícitas, o que enfatiza a importância que tem de ser dada ao contexto estruturado das tarefas e ao esforço cognitivo que estas implicam.
Estes resultados são relevantes para a seleção de estratégias de intervenção educativa, mas também para a plena inclusão social de jovens adultos com autismo numa sociedade altamente competitiva e que requer tantas habilidades sociais e funções executivas competentes.
As alterações na alocação de atenção e nas funções executivas podem ainda constituir um endofenótipo promissor nestes doentes. Além disso, tarefas que permitam avaliar estes aspetos cognitivos podem ter um papel determinante no diagnóstico diferencial do autismo com outras patologias do neurodesenvolvimento.
Susana Mouga
Fotografia de Annie Spratt @ Unsplash