“It was not the beginning. But it was a beginning.”
Robert Jordan. The Wheel of Time
Tinha 13 anos quando olhei pela primeira vez para a Torre, que alberga, entre outros, o sino vulgarmente conhecido por Cabra, no topo do morro da Universidade. Vinha visitar o meu irmão que tinha acabado de ingressar no Ensino Superior. Não passava ainda na minha cabeça o mais vago vulto do que queria seguir, mas já sabia onde o queria fazer: na cidade dos estudantes, na Universidade mais antiga do país.
Para mim Coimbra será sempre aquela cidade com cheiro de liberdade, a possibilidades.
Retornei enfim aos 18 anos, agora por tempo mais longo, para iniciar o meu próprio trajeto no Ensino Superior quando saltei dos Açores, daquele rasgão de verde entre o mar e esse colosso imóvel que é a montanha do Pico, para os paralelepípedos da calçada conimbricense.
O meu caminho na academia não foi livre de indecisões ou de segundas escolhas. Com certeza muitos o julgarão invulgar. De uma passagem inicial pelo Mestrado Integrado em Medicina aqui na FMUC, transitei para o campo mais generalista da Biologia na FCTUC. Mas, como o filho pródigo que à casa torna, ao ler que ia abrir pela primeira vez em Portugal um Mestrado dedicado à Genética Clínica Laboratorial no ano letivo 2020/2021, tomei a decisão de voltar. Já conhecia a qualidade do corpo docente e do trabalho de investigação aqui desenvolvido, o que tornou a escolha uma não questão.
Nutri desde sempre um interesse particular pela genética, desde que aprendi que todos partilhamos este blueprint molecular que é um fio condutor comum desde os nossos antepassados unicelulares há 3 mil milhões de anos até hoje.
O ano passado atípico não me impediu completamente de ter grandes experiências. Assisti a variados congressos e palestras, fiz um estágio em Lausanne (Suíça), estabeleci novas relações e todas as minhas perspetivas se expandiram. Mais do que um único ponto de viragem, é o acumular das experiências vividas em laboratórios de diagnóstico molecular e investigação que me incitam curiosidade, entusiasmo e, sobretudo, satisfação.
Encontro-me agora a desenvolver um projeto de dissertação na área da oncogenética acerca do glioblastoma multiforme. A possibilidade de poder dar o meu contributo para a expansão do conhecimento acerca desta patologia, de novas metodologias de análise, que se podem traduzir no futuro numa melhoria real da qualidade de vida das pessoas direta e indiretamente afetadas por esta doença, é algo que me empolga. Que me dá vontade de sair da cama todas as manhãs e subir desde as ruelas da Baixa até à bancada do laboratório.
Já se passaram mais de 10 anos desde que olhei pela primeira vez a Torre da Universidade. Muitas coisas mudaram desde então. Mas Coimbra continua, agora mais do que nunca, a saber a possibilidades
Gui Rosa é aluno do Mestrado em Genética Clínica Laboratorial da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Ilustração por Ana Catarina Lopes