Escrevo num dia em que acrescento mais um aniversário a uma já relativamente longa lista de festejos. São anos que se vão amontoando e construindo uma vida. São pedaços de passado que se vão juntando, à custa de dias roubados ao futuro. Ciclos repetitivos e incessantes de dia e noite que vão apagando dias à nossa existência, encurtando a infinitude do tempo, esbatendo a noção de imortalidade... Enfim, a memória permanente de que estamos, todos os dias, desde há muito, a envelhecer mais um bocadinho. Mas o envelhecimento não é obrigatoriamente uma coisa má, que tenhamos que enfrentar com dor e pesar. Antes pelo contrário, devemos ter a humildade de celebrar o privilégio que é acompanhar cada volta dos ponteiros do tempo. Dias vividos são também experiências acumuladas, histórias contadas, águas navegadas, resistências adquiridas, tormentas ultrapassadas. Ser mais velho é ser diferente, para melhor. É saber mais, é querer viver melhor, é desfrutar de cada amanhecer e aproveitar tudo até ao entardecer. Por mais que custe, o nosso tempo não é eterno, e não deve ser esticado para além do que a saudável finitude biológica aconselha. De facto, vivemos hoje muito para além daquilo que fomos geneticamente programados para garantir a perpetuação da espécie. Nos nossos dias, o objetivo deve ser dar mais “vida” aos anos em vez de dar mais anos à vida. Consciente desta realidade e do que significa um envelhecimento acentuado da sociedade, a nossa Faculdade tem, desde há muito, vindo a apostar, de uma forma sólida e sustentada, na identificação de estratégias para promover o chamado envelhecimento ativo e saudável.
Neste contexto, a FMUC tem vindo a cimentar a sua posição como uma instituição de referência, nacional e internacional, no estudo do envelhecimento, desde os mecanismos básicos que levam ao envelhecimento das células e sistemas biológicos, até ao seu impacto na sociedade, através de diversas iniciativas, incluindo a criação de um Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA-PT), o recrutamento de uma equipa de investigação de reconhecido mérito na área (ERA-CHAIR), o lançamento do laboratório colaborativo CoLab4Ageing e do consórcio Ageing@Coimbra, o primeiro Centro de Referência Europeu para o Envelhecimento Ativo e Saudável, em Portugal, que atribuem à UC e à FMUC um papel primordial na estratégia nacional para o envelhecimento. Em consonância com esse desígnio, a UC e a FMUC assumiram-se, desde o seu início, como um elemento nuclear da Rede Portuguesa de Envelhecimento Ativo e Saudável (RePEnSA), que tem como objetivo “estimular a criação de sinergias entre parceiros, criar e desenvolver projetos inovadores que vão ao encontro das necessidades dos idosos e que permitam melhorar a sua qualidade de vida”. Por essa razão, tudo devemos fazer para não perder este estatuto que nos é devido por mérito próprio, e não por esquemas políticos obscuros de favorecimento aos amigos próximos do poder. Pelo muito que lhe é devido, a UC não deve ter medo de reivindicar para si um papel principal nesta peça. Embora o sol quando nasce seja para todos, nem todos com ele conseguem fazer a mesma sombra. Ou pior que isso, quando nos querem obrigar a viver nas trevas, ao tentarem tapar-nos o sol a que temos direito. Mas contra tudo isso, cá estamos para lutar, porque pertencemos a uma Universidade que é diferente, que é destemida, ousada, irreverente. E é neste contexto que a FMUC se quer afirmar como um elemento-chave para o progresso da sociedade, acompanhando e tentando dar resposta às necessidades dos cidadãos e das populações.
Para reforçar esta ideia, ouvimos nesta edição o Professor Nascimento Costa, académico e clínico ilustre da nossa Faculdade, que recentemente assumiu o cargo de Presidente da Assembleia da FMUC. Ficamos a conhecer o percurso ímpar de um Homem, com visão e ideias, que esteve sempre à frente do seu tempo e a quem todos muito devemos... Muito Obrigado, Professor Nascimento Costa, por tudo o que tem feito por todos nós. Em “Do Curso de Medicina”, Manuela Carvalheiro partilha as suas lutas estudantis, a evolução e afirmação da Endocrinologia, e como evitou arrumar gavetas antes de sair. A Clínica Universitária de Ginecologia é a convidada da rubrica “Isto é FMUC”, onde Margarida Figueiredo Dias nos dá a conhecer as estratégias para manter a excelência no ensino e investigação. Prova disso é o recentemente lançado podcast “The Gin'Voice”, dirigido especialmente aos alunos da FMUC, mas acessível a todos aqueles que tiverem interesse nas áreas da Ginecologia. O Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra (III-UC), é o convidado em “Fora da Medicina”, para partilhar com a Voice*MED as medidas lançadas para estimular a interdisciplinaridade na formação avançada na UC, nomeadamente através da criação da Escolas Doutorais, com o objetivo de proporcionar aos estudantes um treino mais transversal, integrativo e holístico. Gui Rosa, estudante do Mestrado de Genética Clínica Laboratorial conta-nos como concretizou o sonho de deixar os Açores para calcorrear os paralelepípedos da calçada conimbricense. Por fim, Flávio Reis prescreve uma boa dose de loucura musical, com uma mensagem de esperança, paz e amor trazida por Ziggy.
Henrique Girão