A dermatite de contacto alérgica (DCA) é uma reação inflamatória que ocorre quando a pele é exposta a uma substância ou agente causador de alergia. Nos últimos anos os casos de DCA) aos (met)acrilatos, substâncias pertencentes ao grupo dos plásticos e resinas sintéticas, têm vindo a ser diagnosticados de forma crescente e, em vez de se limitarem a casos ocupacionais e relacionados com procedimentos industriais ou estomatológicos, passaram a ocorrer sobretudo quando estes elementos eram usados em procedimentos estéticos (unhas artificiais, vernizes ou extensão de pestanas) e afetavam tanto as profissionais da estética como as consumidoras.

Dada a elevada frequência destes casos em Portugal, como publicámos em 2014 e 2017, e para conhecer o panorama em toda a Europa, propusemos e coordenámos um estudo retrospetivo multicêntrico envolvendo a nossa e outras dez clínicas europeias de alergia de contacto coordenadas por membros do European Environmental and Contact Dermatitis Research Group. Foram avaliados os aspetos clínicos e evolutivos dos doentes em que os testes epicutâneos confirmaram DCA a (met)acrilatos usados em estética feita em unhas, de forma a reconhecer e diagnosticar de forma mais precoce estes casos e, sobretudo, informar melhor estes doentes, encontrar medidas preventivas eficazes ou regulamentar a utilização destes compostos em procedimentos estéticos.

Ficou comprovado que o 2-metacrilato de hidroxietila (HEMA) é um bom alergénio para detetar os casos de DCA neste tipo de estética e foi sugerido a sua inclusão na Série Básica Europeia de alergénios, a utilizar nos testes epicutâneos para o diagnóstico das causas da DCA.

O crescente recurso a procedimentos de estética em unhas com exposição a (met)acrilatos, de manifesto e elevado potencial sensibilizante, tem sido reconhecido como causador de estados de hipersensibilidade retardada para toda a vida, responsáveis por lesões cutâneas com impacto significativo na qualidade de vida (eczema das mãos e distrofias ungueais dificilmente reversíveis), e que potencialmente limitam a posterior utilização destes químicos em procedimentos médicos. Assim, está em discussão pelo Scientific Committe on Consumer Safety da Comissão Europeia a regulamentação da utilização destes produtos em procedimentos estéticos.

Com base neste e noutros estudos que evidenciaram a frequente sensibilização a acrilatos em consumidores e profissionais de estética, está de momento em discussão entre os membros da ESCD (European Society of Contact Dermatitis) a inclusão do HEMA na Série Básica Europeia de alergénios, a ser utilizada no espaço europeu para o diagnóstico da DCA.

Na sequência deste problema têm sido implementados estudos, entre nós e noutras clínicas, para encontrar luvas menos permeáveis a estes compostos ou que tenham um tempo de permeação que permita a realização das tarefas ocupacionais com cada cliente antes de haver contaminação da pele pelos acrilatos. Desta forma, pretende-se evitar a sensibilização ou a indução de lesões cutâneas nos indivíduos afetados.