BLOOMBERG INCLUIU
AS RUÍNAS DE CONIMBRIGA
NA LISTA DAS “SETE NOVAS MARAVILHAS DO MUNDO”

Fora da Medicina

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As ruínas romanas de Conimbriga acabam de ser consideradas pela agência noticiosa americana Bloomberg como uma das “Sete novas maravilhas do Mundo”. A prestigiosa distinção foi igualmente outorgada a outros conjuntos monumentais situados em pontos tão diversos do planeta como as ruínas de Volubilis (Marrocos), as Pirâmides de Meroé (Sudão), as ruínas do Império Vijayanagara (Índia), a Montanha de Kassapa (Sri Lanka), as ruínas da Cidade Perdida (Colômbia) e as ruínas de El Mirador (Guatemala). Não obstante a subjetividade que está sempre associada a uma eleição desta natureza, trata-se de uma prova insofismável do reconhecimento internacional de um dos espaços mais emblemáticos da arqueologia portuguesa e europeia.


UM POUCO DE HISTÓRIA

Ocupada desde tempos pré-históricos, Conimbriga passou para a órbita romana na segunda metade do séc. II a.C. Ao tempo do imperador Augusto a cidade foi objeto de um notável projeto urbanístico que, para além de contemplar a construção de uma extensa muralha honorífica, a dotou de diversas infraestruturas entre as quais se contam o aqueduto, o fórum e umas termas públicas.

A cidade cresceu e os imperadores Flávios (69-79 d.C.) elevaram-na à categoria de município. As décadas seguintes foram de prosperidade. Mas o final do século III trouxe ventos de mudança. A velha muralha honorífica cedeu o lugar a uma imponente muralha defensiva e o perímetro urbano retraiu-se, passando de cerca de 20 para uns meros 11 hectares.
No último quartel do século V Conimbriga passou para o domínio dos Suevos. O fato de ter permanecido como sede de bispado parece demonstrar que terá conservado o seu prestígio, em parte perdido em favor da vizinha Aeminium (Coimbra) após a anexação do reino Suevo pelos Visigodos (585).

Sendo uma pequena cidade da província da Lusitânia, a sua originalidade reside no fato de, contrariamente à maior parte das grandes urbes de então que sobreviveram até aos nossos dias, Conimbriga ter enfraquecido progressivamente até desaparecer da vista e da memória dos homens, algures por volta dos séculos XI-XII. Os cerca de três hectares atualmente escavados e expostos ao público representam um sétimo de toda a área outrora ocupada. A este nível, Conimbriga é um caso excecional no quadro da arqueologia do período romano, pois é uma daquelas raras cidades que mantém intacto o potencial de poder ser escavada e conhecida na quase totalidade.


O CIRCUITO DAS RUÍNAS

No percurso aberto ao público é possível observar a imponente muralha tardia, datada de finais do século III, à volta da qual se conservam as ruínas das majestosas residências de endinheirados aristocratas e burgueses, de que destacamos a Casa dos Repuxos, a Casa do Mosaico da Suástica ou a Casa atribuída a Cantaber. Jardins interiores, paredes com vestígios de estuques pintados a fresco, pavimentos ricamente decorados por mosaicos ou edifícios termais privados recordam o requinte em que viveram as elites locais.
FMUC
Estátua de Togado

Mais além, erguem-se os vestígios do aqueduto, das insulae bordejando as vias, o monumental fórum da cidade - centro da vida política e religiosa -, e as grandes Termas do Sul, com a sua magnífica palestra, recentemente restaurada.


O MUSEU

Fundado em 1962, o Museu Monográfico de Conímbriga, agora Museu Nacional, expõe mais de seis centenas de objetos recolhidos nas escavações. Totalmente dedicado à explicação do sítio arqueológico, organiza-se em dois blocos. Na ala nascente retratam-se múltiplas vertentes da vida quotidiana abordando, entre outros aspetos, as atividades produtivas, o comércio, a medicina, a higiene pessoal ou o ócio. Na ala oeste, as duas primeiras salas lançam um olhar sobre as arquiteturas (pública e privada), sobressaindo a sala dedicada ao Fórum da cidade. Uma terceira sala remete-nos para uma visão mais introspetiva da natureza humana, abordando temáticas tão universais – mas ao mesmo tempo tão pessoais - como os cultos ou as superstições.

Estes serão, seguramente, alguns dos aliciantes para o leitor visitar este emblemático conjunto monumental que, em 2017, ultrapassou os 100 000 visitantes. 

José Ruivo
diretor do Museu Monográfico de Conimbriga-Museu Nacional
fotografias gentilmente cedidas por José Ruivo