Depois, há o problema de estarmos incluídos numa área hospitalar. Para a construção do edifício contribuíram financeiramente dois ministérios, Educação e Saúde. Mesmo podendo ser um bom e raro exemplo a nível nacional, o óbice é que até hoje não se consegue identificar quem gere ou quem é responsável pelo quê. Temos problemas de infiltrações, quem faz as obras? O hospital diz que o edifício é da faculdade, a faculdade diz que está em terreno do hospital. Tem sido difícil chegar a um entendimento com esta dicotomia. Já houve tempos bons quando era a mesma pessoa que estava à frente do mestrado e do serviço. Agora são duas pessoas e tem de haver um entendimento e objetivos mútuos, tanto para a faculdade como para o hospital.
A Medicina Dentária tem-se destacado pelos prémios ganhos a nível nacional e internacional. A investigação, e a sua dinamização, são apostas fortes?
São apostas fortes. No entanto, a realidade da Medicina Dentária é muito vocacionada para a clínica, e a investigação tem de ser nesse sentido. Temos fortes ligações com os laboratórios de investigação básica, mas temos de ter a noção que o caminho é clínico. Os nossos docentes, e aqueles que são especialistas na área, com formação de médico dentista ou médico estomatologista, não estão em exclusividade, o que significa que acumulam a atividade docente com a atividade clínica, dispondo de menos tempo para associar à investigação. Por isso, é um desafio enorme conseguirmos manter os dois motores a funcionar.
Na parte da investigação, há algumas especificidades próprias na Medicina Dentária que não são iguais às da Medicina, o que significa que temos de criar alguma individualidade. A Medicina Dentária existe no país, formalmente, há cerca de 30 anos, é natural que demore o seu tempo a crescer. Mas há vontade e estruturas que estão a ser montadas nesse sentido. Temos sido reconhecidos nos dois principais congressos da Medicina Dentária nacional, onde a FMUC ganha sempre primeiros prémios. Alguns colegas das outras faculdades até brincam e dizem que, se Coimbra vai estar, não têm hipóteses.
Em Abril do ano passado, a Universidade de Coimbra investiu mais de 300 mil euros na renovação de equipamento das clínicas de Medicina Dentária e Ortodontia. Considera que foi satisfatório, ou ainda há mais áreas onde é necessário investir?
Obviamente que nunca é satisfatório, mas foi um investimento que, infelizmente, era absolutamente necessário, que vai permitir abrir o leque de oferta de ensino pós-graduado. Outra área prioritária, onde já existe um pré-projeto que depende da reitoria, é a renovação da área pré-clínica de ensino. O ensino, aqui, baseia-se muito em simulação, e o laboratório existente está obsoleto, muita coisa já não funciona, não há peças para reparar, e, portanto, vai ser necessário um investimento de peso, até para não ter de se intervir novamente nos próximos tempos. Temos o acordo do reitor, que tem verba disponível para isso, e espero que se concretize ainda durante este ano.
Outro investimento, na parte de investigação, é criar estruturas que ajudem os nossos docentes, como por exemplo ter um investigador a tempo inteiro, para podermos competir e melhorar a nossa performance.
por Paulo Sérgio Santos
Fotografias gentilmente cedidas por Isabel Poiares Baptista