Perfeccionismo tem impacto negativo nas reações psicológicas à pandemia
de COVID-19
Sobre o estudo
O traço de personalidade perfeccionismo caracteriza-se pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, acompanhada de (auto)avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfeccionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stresse. As reações psicológicas às pandemias são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como interpretamos as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram.
Com este trabalho pretendemos analisar o impacto do traço perfeccionismo nos níveis de perturbação psicológica durante a pandemia de COVID-19. De acordo com as nossas hipóteses, verificámos que as pessoas mais perfeccionistas tiveram mais medo da COVID-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stresse.
Apesar de na nossa amostra (cerca de 400 adultos da população geral) as mulheres terem níveis mais elevados de perfeccionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfeccionismo que avaliámos, e que são actualmente as consideradas mais relevantes (perfeccionismo rígido, autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do género.
Resultados e impacto
Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reações psicológicas à pandemia de COVID-19. Mais especificamente, verificámos que as diversas componentes do perfeccionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros) levem a mais ansiedade, depressão e stresse face à pandemia.
A relevância deste estudo não advém apenas da sua inovação, mas também da sua necessidade e pertinência na actualidade, já que o perfeccionismo tem aumentado significativamente nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma “epidemia de perfeccionismo”. Num mundo cada vez mais competitivo, mutável e desafiador, a natureza de imprevisibilidade e as limitações impostas pela crise global de saúde parecem estar a exacerbar os elevados níveis de stresse que tipicamente afectam os perfeccionistas.
A implicação clínica deste estudo é que a personalidade, especificamente o perfeccionismo, deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico da(s) pandemia(s). É difícil alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles.
Ana Telma Pereira
Personality and individual differences
COVID-19 psychological impact: The role of perfectionism
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