Lucerna

“We build our legacy piece by piece, and maybe the whole world will remember you, or maybe just a couple of people, but you do what you can to make sure you’re still around after you’re gone.” 
David Lowery

Dia após dia tentamo-nos superar e chegar a uma distinção que nos preencha, e em última instância que nos faça ser relembrados para a posteridade. Um livro, uma pessoa, um filme, um relacionamento, uma citação, uma opinião e todo o resto que nos rodeia, acabam por representar a força motriz capaz de gerar e alterar aquilo que somos hoje: um legado produtor de legado, por vezes carregado de uma falsa perceção de que aquilo que queremos amanhã terá o mesmo impacto daqui a 5 ou 10 anos.

Desde cedo que a minha vontade de fazer mais por alguém se manifestou, quase como um quid pro quo em que o retorno seria a felicidade e a gratidão dessa mesma pessoa. Isto, aliado ao meu interesse pela fisiologia humana, resultou nas minhas duas tentativas de concorrer a Medicina. Fracasso total, mas a melhor surpresa que poderia ter tido há 4 anos atrás! Medicina Dentária tornou-se a única opção viável na minha cabeça aquando das primeiras aulas do 1º ano de curso. Foi suficiente para perceber que a tecnicidade vista aos olhos de um público, no qual eu me incluía no passado, que não tem contacto direto com a profissão, é um ato médico que faz parte de algo muito superior, tal como em qualquer outra especialidade médica: uma boa história clínica, um bom diagnóstico, um bom plano de tratamento e uma visão holística do doente são princípios basilares nesta atividade, até porque, se podemos dizer que o médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe, então quem só sabe de medicina dentária, nem de medicina dentária percebe. Com a descoberta da Patologia Oral, e mais tarde com a área das Disfunções Temporomandibulares e Dor Orofacial, o meu vínculo a este curso tornou-se inabalável. Foram experiências, docentes, amigos e colegas, nomes como Jeffrey Okeson e Daniele Manfredini, e até doentes que definiram e continuam a definir o meu percurso até hoje.

E porquê Coimbra? Das três instituições públicas que tinha ao meu dispor para a candidatura e às quais me candidatei, Coimbra foi sempre a primeira opção. Primeiro pelo facto de ser a única Universidade que agrega os cursos de Medicina e Medicina Dentária numa só faculdade, sendo que os milhares de doentes do SNS são atendidos no 4º e 5º ano de prática médico-dentária, promovendo assim uma vasta experiência e preparação para o mundo do trabalho. Segundo, a investigação e o desenvolvimento científico que são um marco todos os anos, e como não poderia deixar de ser, a vida e o espírito académico que são tão particulares da cidade dos estudantes.

2022 é o meu último ano de curso e levo em mim uma enorme vontade de fazer mais pela saúde oral em Portugal. Não é o fim do percurso, mas sim um começo naquilo que perspetivei para o meu futuro. Só falta o resto…


David Neves é aluno do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Lucerna

Ilustração por Ana Catarina Lopes