Clínica Universitária de Dermatologia

Isto é FMUC

A Clínica Universitária de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) destaca-se pela oferta na vertente assistencial, à qual alia ainda as vertentes de ensino e de investigação. Américo Figueiredo, professor catedrático da FMUC e diretor do Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), fala-nos da ampla atividade desta clínica universitária, da qual é diretor há 24 anos.


Uma oferta diversificada na prestação de serviços
A Clínica Universitária de Dermatologia da FMUC atua em dois dos principais polos do CHUC, nomeadamente o do Hospital Pediátrico de Coimbra e o dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), no qual se insere o Hospital de Dia de Oncologia, no Edifício de São Jerónimo, onde esta clínica desenvolve também uma importante atividade.

“Falamos de uma clínica universitária com uma diversificação muito grande em termos de oferta”, indica Américo Figueiredo. “Fazemos cerca de 31 mil consultas anuais, 27500 de adultos e 3500 de crianças. Neste momento, existe, inclusive, um grande desenvolvimento desta atividade no setor pediátrico, por solicitações oriundas de todo o País”, adianta.

Por isso, o diretor desta clínica universitária considera que Coimbra possui as condições e características necessárias para instituir o primeiro Serviço de Dermatologia Pediátrica do País. “Este tipo de serviço é, por norma, subsidiário de grandes serviços hospitalares. No caso de um centro hospitalar como o nosso, uma vez que é constituído também por um hospital pediátrico e que existem cada vez mais dermatologistas interessados na Dermatologia Pediátrica, faz todo o sentido desenvolvermos essa vertente”, constata, ressalvando que, a par da oferta na área da Pediatria, esta clínica universitária caracteriza-se, igualmente, por outras ofertas especializadas, dado o extenso potencial e diversidade da Dermatologia.


O ensino e a investigação
No que concerne ao ensino, a Clínica Universitária de Dermatologia está presente no ensino pré-graduado da FMUC, através de uma unidade curricular lecionada no Mestrado Integrado em Medicina (MIM) e no Mestrado Integrado em Medicina Dentária (MIMD). Além disso, esta clínica presta igualmente apoio ao ensino pós-graduado, nos mestrados das áreas da Medicina do Trabalho, Geriatria e Medicina Desportiva, bem como no Programa de Doutoramento em Ciências da Saúde da FMUC.

“Do ponto de vista da investigação, estamos muito bem classificados, quer em termos de rankings das Escolas Médicas, quer da Dermatologia, especialmente a nível nacional. Somos, provavelmente, o serviço de Dermatologia que mais produção científica tem, com os seus elementos a ocuparem lugares de destaque internacionalmente, quer no passado, quer no presente, como aqueles que ocupamos na European Academy of Dermatology and Venereology (EADV), na European Association of Dermato Oncology (EADO) e no European Environmental and Contact Dermatitis Research Group (EECDRG), através da Professora Doutora Margarida Gonçalo e do Professor Doutor Ricardo Vieira”, destaca.

As potencialidades da Dermatologia
Américo Figueiredo não tem dúvidas de que a Dermatologia é uma especialidade atrativa para futuros médicos. “Os resultados mostram isso. Não entra em Dermatologia quem não tenha 95 por cento de respostas certas [na Prova Nacional de Acesso]. Tenho aqui no Serviço alguns elementos que foram mesmo os primeiros classificados”, afirma.

Além de atrativa, para o diretor da clínica universitária a Dermatologia é ainda uma especialidade com diversas potencialidades por explorar. “Um aluno de Medicina, que queira, simultaneamente, ser clínico e também cirurgião, tem na Dermatologia e aqui nos HUC uma boa opção”, indica, “e quando falo em cirurgia, refiro-me, particularmente, à cirurgia oncológica”.

Neste âmbito, o diretor desta clínica universitária revela que a cirurgia oncológica tem vindo a ser reforçada no CHUC. “Temos acesso ao Bloco Central do hospital uma vez por semana, e muita da cirurgia que fazemos é cirurgia do melanoma. Na Dermatologia, para além da cirurgia estética, que, por norma, não fazemos num hospital público, e de alguma cirurgia corretiva, a maior parte é cirurgia oncológica, que, como referia, temos vindo a fazer aqui no hospital com mais frequência, e para a qual contamos com ótimos cirurgiões”, observa.

De momento, são três os médicos dedicados a este tipo de cirurgia, mas Américo Figueiredo, que deverá aposentar-se dentro de cerca de um ano, acredita que, a curto prazo, serão mais aqueles a integrarem esta equipa de profissionais altamente especializada. “Aliás, quando eu sair do Serviço, que é daqui a muito pouco tempo, ficarão cá quatro doutorados, dois deles com agregação: vai ser esse o legado que fica para este pessoal”, brinca, “naturalmente fruto do seu próprio trabalho e sempre com o meu suporte total”.


Uma visão integrada
“Sou diretor da Clínica Universitária de Dermatologia há 24 anos… Cheguei aqui com 45 anos de idade. Herdei um Serviço já com pergaminhos, mas tive a oportunidade de criar um bom grupo de trabalho e uma forma integrada de ver a Dermatologia. Algo que não é assim tão comum, se considerarmos que o desenvolvimento da cirurgia dermatológica tem acontecido um pouco de forma paralela, já que há muitos serviços que são ainda essencialmente médicos, sem uma componente cirúrgica própria”, refere, revelando ainda que a produção cirúrgica da Dermatologia no CHUC “está ao nível da de um Serviço de Cirurgia”.

Para Américo Figueiredo, esta visão integrada da Dermatologia e da sua componente cirúrgica deve ser considerada e valorizada. “Não faz nenhum sentido para mim que se separem as duas áreas, que façamos um diagnóstico clínico de um doente para depois o encaminharmos para a Cirurgia para ser operado, sendo que nós somos capazes de fazer o diagnóstico e o que vem depois dele… Muitas vezes, ainda sem termos recebido o resultado histológico, já sabemos aquilo com que estamos a lidar”, observa.

Como tal, para o diretor da Clínica Universitária de Dermatologia esta integração é ainda mais importante quando estão em causa processos cirúrgicos que, desta forma, podem ser evitados: “se somos capazes de fazer uma cirurgia desde o início, que não seja unicamente fazer uma biópsia para depois o cirurgião fazer uma nova intervenção, é preferível que a façamos logo a gastarmos dois tempos cirúrgicos para fazer exatamente a mesma coisa”.

Américo Figueiredo refere ainda que esta diferenciação da Dermatologia, enquanto especialidade que considera e integra a sua vertente cirúrgica, foi um processo que teve início em Coimbra. “Foi um trabalho que não começou comigo, mas que começou e bem com um companheiro de caminho, o João Duarte Freitas, com o apoio do Professor Poiares Baptista”.

O diretor da clínica refere, inclusive, que, embora na FMUC a Dermatologia esteja integrada no grupo das Medicinas, no CHUC é considerada enquanto especialidade cirúrgica e, por esse motivo, está integrada num Departamento cirúrgico.


A Dermatopatologia e o futuro da clínica universitária
“Uma outra particularidade que temos, que é muito interessante e que poucos conhecem, é a de que nós fazemos a nossa própria Dermatopatologia”, revela Américo Figueiredo. Tal significa que as peças e amostras são enviadas para o laboratório de Anatomia Patológica apenas para serem cortadas e preparadas, já que o Serviço de Dermatologia e Venereologia do CHUC conta com dois dermatopatologistas que se encarregam da análise das mesmas.

“Andamos sempre a dizer que é preciso fazer ‘confrontação anátomo-clínica’, ou seja, que é preciso ver o doente sem esquecer a componente histológica, para ver se uma coisa encaixa na outra, digamos assim… E, aqui, temos as condições ideais para fazer isso”, refere, “já que temos o médico que vê os doentes e o dermatopatologista que vê as lâminas, o que acaba por fazer com que a interação entre ambos seja, por si, definidora de diagnósticos”.

O diretor da clínica universitária explica que a Dermatopatologia se torna exequível dado o amplo acesso dos dermatologistas à pele, o que leva a que, mais facilmente, tenham a possibilidade de fazer histologia sem necessitarem, para tal, de recorrer a serviços externos.

Considerando toda a atividade da Clínica Universitária de Dermatologia, Américo Figueiredo afirma, em tom de brincadeira, que esta clínica “é uma centopeia, com muitos pés para andar”. Atualmente, “um desses pés está assente na Dermatologia Pediátrica, outro na Dermatologia Oncológica, outro na Dermatopatologia, outro na Alergologia e Imunologia Clínica e outro na Cirurgia Dermatológica”.

Deste modo, e questionado acerca do futuro que perspetiva para esta clínica universitária e para o ensino da Dermatologia, agora que está prestes a jubilar, Américo Figueiredo responde de forma peremptória, mas sem esconder a comoção. “O futuro desta clínica está muito bem assegurado, por gente de muita qualidade técnica e humana. O presente mete medo, mas o futuro não. A Dermatologia está muito bem entregue”, garante.


por Luísa Carvalho Carreira (texto e fotografia de topo)
fotografias de Arquivo FMUC e Miguel Santos