Sobre o estudo
A doença de Alzheimer (DA) é a doença neurodegenerativa mais comum e a principal causa de demência em idosos. Esta doença é caracterizada pela disfunção sináptica e perda neuronal, tendo como marcadores neuropatológicos os agregados extracelulares, compostos por depósitos do peptídeo beta-amilóide (Aβ) (placas senis), e as tranças neurofibrilares intracelulares, em resultado da hiperfosforilação da proteína tau. A etiologia da DA é complexa e tem sido sugerido que a progressão da doença se baseia numa multiplicidade de eventos patológicos que se iniciam décadas antes dos primeiros sintomas, convergindo para a morte celular.
Estudos anteriores suportam um efeito neuropatológico inicial associado à interação de oligómeros de Aβ (AβO) com a mitocôndria, um organelo essencial na função sináptica e atividade neuronal. Assim, a melhoria da função mitocondrial tem sido considerada uma abordagem terapêutica potencialmente benéfica na DA. Neste contexto, a L-carnitina (LC), uma molécula derivada de aminoácidos, fundamental na bioenergética mitocondrial, tem demonstrado um papel benéfico na DA, por mecanismos ainda mal caracterizados.
Assim, este estudo visou investigar o impacto de diferentes formas de carnitinas [(LC, acetil-L-carnitina (ALC) e propionil-L-carnitina (PLC)] na toxicidade mitocondrial induzida pela AβO em neurónios maduros do hipocampo isolados a partir de rato.
Este estudo foi coordenado pelos docentes da FMUC, Ana Cristina Rego (CNC) e Frederico Costa Pereira (iCBR), e co-financiado pela Alfasigma HealthScience B.V., Utrecht, Holanda.
Resultados e impacto
O presente estudo mostra, pela primeira vez, que os efeitos neurotóxicos induzidos por AβO em neurónios maduros do hipocampo são prevenidos por diferentes formas de carnitinas (L-carnitina, acetil-L-carnitina e propionil-L-carnitina). Estas formas de carnitinas mostraram uma melhoria da função e morfologia mitocondrial. O movimento mitocondrial nas neurites foi restabelecido apenas por acetil-L-carnitina.
Os resultados indicam que diferentes formas de carnitinas apresentam um perfil neuroprotetor num modelo neuronal de DA. Em particular, a acetil-L-carnitina apresentou um perfil neuroprotetor mais completo, tendo sido recentemente utilizado num ensaio clínico em doentes de Alzheimer (ClinicalTrials.gov NCT01320527).
Ana Cristina Rego
Archives of Toxicology
Mechanistic perspectives on differential mitochondrial‑based neuroprotective effects of several carnitine forms in Alzheimer’s disease in vitro model
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